tag:blogger.com,1999:blog-283287622024-02-06T23:09:16.444-03:00Engenho & Arte"Cantando espalharei por toda a parte, se a tanto me ajudar o engenho e arte" (Os Lusíadas, Luís de Camões)Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.comBlogger125125tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-16298975230472615412022-01-30T15:09:00.004-03:002022-01-30T15:14:50.901-03:00BÁRBARAS (rap hour)<p> </p><p align="left" class="western"><span style="font-size: small;">E
foi assim que invadiram este país<br />
Em busca de vantagem e
riqueza<br />
A injustiça na pátria fincou raiz<br />
Em terras
apartadas dos nativos <br />
Saquearam, dizimaram suas tribos<br />
E
doaram seu rincão à burguesia<br />
Minoria que crescia e prosperava
<br />
Às custas de mão de obra escrava<br />
Um futuro sombrio se
desenhava <br />
Um país desumano se engendrava<br />
Eis que a
consequência não tardava</span><span style="font-size: small;">...</span><span style="font-size: small;"><br />
<br />
Quem
não deve, não teme<br />
Diz aquele velho ditado <br />
Porém vida
de favelado <br />
Não tem essa fantasia<br />
Não tem hora, nem
dia<br />
Se deve ou se não deve <br />
Só o preto é alvejado<br />
O
alvo nunca é o alvo<br />
Negro é marginalizado<br />
Oprimido,
discriminado<br />
Deixemos de hipocrisia<br />
<br />
Menos favorecido,
não menos capaz<br />
Me coloque lado a lado, não me coloque
atrás<br />
<br />
Entre becos e vielas a cena se repetia<br />
O
menino na porta de casa se distraía<br />
Revista, tira em
quadrinhos, só alegria <br />
Blitz em revista e era uma vez a
utopia<br />
O tira se arma de ira, tira a arma e atira <br />
Atinge o
sonho da criança que sorria <br />
A bola perdida, a bala de gude,
agonia <br />
E seu sonho com o sangue se esvaía <br />
Era uma vez o
faz de conta, covardia <br />
Esperança era a primeira que morria<br />
E
no final, moral da história não havia</span></p>
<p align="left" class="western"><span style="font-size: small;">Não
nasci em berço de ouro <br />
Pois berço não é medalha<br />
Medalha
eu mesmo conquisto<br />
E é com luta, dor e batalha<br />
Não ganho
de mão beijada <br />
Justiça que tarda e falha<br />
Mas não sou
fogo de palha<br />
Dou duro desde moleque <br />
Moleque criado na
vida <br />
Remando contra a maré <br />
Com esperança, força e
fé<br />
<br />
Menos favorecido, não menos capaz<br />
Me coloque
lado a lado, não me coloque atrás<br />
<br />
Destino traçado a
quinhentos anos<br />
E assim chegamos onde estamos <br />
Será que
chegamos ou só ficamos?<br />
São outros quinhentos, convenhamos<br />
É
pouco o quinhão que me foi dado<br />
E o que conquisto tem
incomodado <br />
Se não me querem na página ao lado <br />
Viro a
página, reescrevo, desagrado<br />
A realidade em um roteiro
adaptado<br />
Um novo enredo, revisto, repaginado<br />
Multiversos em
sentido refigurado<br />
<br />
Parece e é preconceito que se renda<br />
Só
o caro cidadão que não tem renda<br />
Mas não é nada que me
surpreenda <br />
Tampouco é vitimismo, compreenda <br />
Nem caso
isolado, lamúria, lamento <br />
Nada, estou farto desse
julgamento<br />
Não me venha com falso argumento <br />
Dedo em
riste, grito, vozes ao vento<br />
Respeite nossa cor, nosso trauma<br />
E
se me faz favor, não peça calma <br />
a quem é julgado pela pele,
não pela alma<br />
<br />
Menos favorecido, não menos capaz<br />
Me
coloque lado a lado, não me coloque atrás</span></p>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-36430580960266529042021-08-14T17:46:00.000-03:002021-08-14T17:48:36.158-03:00Vida pós-confinamento- Desce? Pergunto, ao abrir-se a porta do elevador. <div><br /></div><div>Prisioneiro liberto. Como no mito da caverna, entre sombras e perspectivas, um novo mundo descortina-se aos olhos de minha irrelevância, na justa medida de minha insignificância, da qual tinha perdido a consciência.</div><div><br /></div><div>Numa nova relação tempo-espaço, vivo(,) em estado de contemplação, um ciclo de (in)tensa quietude. Com tempo, contemplo. Reflito sobre meu reflexo e reflito em minha reflexão.</div><div><br /></div><div>Como no Big Bang, passo do átomo ao cosmos, do infinitésimo ao infinito, do enquadramento ao céu aberto, do ponto ao universo em expansão. </div><div><br /></div><div>Num novo nível de consciência, refuto pensamentos negativos, busco respostas libertadoras, elucido mistérios não revelados.</div><div><br /></div><div>- Sobe? Pergunto ao retornar. Meu corpo sobe no elevador. Meu espírito já se encontra elevado.
</div><div><br /></div>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-71518942753703272802021-03-08T17:22:00.006-03:002021-08-14T17:53:59.136-03:00A esses seres humanosA Amélia, mulher de verdade, que me deixou saudade. A Geni, mulher de verdade e um poço de bondade. A Bárbara, que amar nunca é demais. A Conceição, de quem me lembro muito bem. A Marina, de quem estou de mal. À tigresa, de íris cor de mel. A Carolina, menina bem difícil de esquecer, de olhos fundos, que não viu o tempo passar na janela porque foi pro samba, pra dançar o xenhenhém.<br />
<br />
A Beatriz, que não me deixa entrar na sua vida. À deusa da minha rua, à dona da minha cabeça. À preta, pretinha, à pérola negra, à magrelinha. À malandrinha, rainha dos meus sonhos, que demorou, mas chegou e minha vida transformou. À moça bonita, à mais bonita. A essa mulher, àquela mulher. À violeira, caprichosa e nordestina, à paraíba masculina. À namorada: a minha, a de um amigo meu ou a que tem namorada.<br />
<br />
A Luciana, sorriso de menina, nos olhos de mar. A Madalena, meu bem querer, que foi pro mar e me deixou a ver navios. À morena dos olhos d’água, que não tira os seus olhos do mar, nem vê que a vida ainda vale o sorriso que eu tinha pra lhe dar, mas a Rita levou. A Rita que levou meu sorriso e a Irene que o trouxe de volta.<br />
<br />
A Rosa, Rosinha, de quem me recordo, olhando a chuva, que guarda consigo meu coração e embora divina e graciosa, e com andar de moça prosa, ou talvez por isso, arrasa o meu projeto de vida (eu, hein, Rosa!). À Maria vai com as outras, à Maria de verdade. A Maria, que mistura a dor e a alegria, que ri quando deve chorar e não vive, apenas agüenta. Que sobe o morro e não se cansa, lata d’água na cabeça e uma força que nunca seca.<br />
<br />
A Eva, que me dá força pra viver e me abraça por um instante. A Iolanda, com quem quero morrer e ficar, eternamente. À morena de Angola ou a tropicana. A Tereza da praia, que não é de ninguém. À moça bonita da praia de Boa Viagem, à morena de Itapoã, à garota de Ipanema. Às mulheres de Atenas, que têm medo apenas. À bailarina que não tem. À mulher de fases.
<br />
Às três meninas do Brasil, de simpatia mulata. À menina veneno, que tem um jeito sereno. À menina do Lido, que eu conheço não sei de onde. À alegre menina, a quem chamei de rainha. À pobre menina, que não tem ninguém. À menina que mora na ladeira e à que carreguei no colo.<br />
<br />
A você, que não está entendendo nada do que eu digo, a você, que tirou partido de mim, a você, que não serve pra mim, a você, que é tudo pra mim, a você, que precisa saber de mim, a você que eu não conheço mais.<br />
<br />
A Kátia Flávia, Anna Júlia, Lady Laura, Sá Marina, titia Amélia, Adelaide, Alice, Camila, Diana, Anália, Dora, Maricotinha, Laura, Helena, Vera, Solange, Sandra, Sílvia, Lígia, Lia, Tereza, Luzia, Luíza, Sandra Rosa Madalena, Clara, Ana e quem mais chegar.<br />
<br />
Às mulheres de João, de vida e morte severinas: Juliana, de José e João; Maria Lúcia, de Jeremias e João; Joana, que errou de João. Às mulheres de todas as cores, de várias idades e muitos amores. Enfim, à mulher, sempre mulher, este ser superior, sempre a me ensinar como ser humano e não como ser vivo, minha eterna admiração.<br />
<br />
<hr /><br />Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-86308832700927013442012-12-03T09:42:00.003-03:002012-12-03T09:45:15.745-03:00 Orações descoordenadas e insubordinadas para todos os períodos – sexta edição<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-size: small;">(Não
se preocupe, isso passa, é só uma frase)</span></b></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">O mar está pra peixe,
assim como o peixe está pra Neymar. No mar, o peixe balança a rede.
No peixe, Neymar balança a rede.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Instrumentos de prazer:
junto a teu corpo... <b>violão</b>, meu coração mais forte...
<b>bateria</b>.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Para os juízes de
futebol, a prostituição é uma mãe na roda.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Um quarto dividido por
dois, se não dá um oitavo, dá em casamento.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">O que dá prazer, falo.
O que provoca dor, calo.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">A especulação
imobiliária e a construção civil estão sempre fazendo algo de
concreto contra a natureza e o meio-ambiente.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Para se descobrir, não
há que se despir de cobertas, mas que se cobrir de coragem.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Num centro de
convenções, novos costumes nunca entram em exposição.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">11/09 - EUA, a
impotência elevada à máxima potência. A impotência é levada à
máxima potência, os EUA. Elevada impotência da máxima potência.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Uns Senado, outros sem
nada.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Em baralho de eunuco,
paus é mesmo que ouros.” </span>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Por recusar sexo oral e
beijo de língua portuguesa, foi traído pela palavra.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Até o período
pré-socrático, o calcanhar era tido como ponto fraco.” </span>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Seja dura ou seja leve,
a vida dura até que a morte leve.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">O caminho das pedras
também é feito de pedras no caminho.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Só há uma saída para
a crise na zona do Euro - diz Monti.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="LEFT" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
“<span style="font-size: small;">O
primeiro mundo tá quase sem fundo, devendo a Deus e ao mundo,
principalmente ao segundo.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Há males que vêm pra
bem, há bens que vêm pra malas...”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Uma vida leve dura. Uma
vida leve, não dura. Uma vida dura não dura. Uma vida dura, não
leve. Não leve uma vida dura. Leve uma vida leve.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Desapropriação
indébita: a posse é possível se a terra é terrível.”</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;"> </span></div>
Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-81840786154623396222012-11-09T23:57:00.003-03:002012-11-10T12:00:02.420-03:00Trajetórias opostas sem jamais deixar de se olhar<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwHEVcVKAsjvsUUrh8NpqLK4PVRqhQe7rHfoOO5JN5e8YHl3Gv7VB0JhUy5l8XsdtqaA6HJvqIZmtkEm1xkeISJp4NeFQ9zlu6TrY7T4SEQL0SPUqufAyGmyQAwyUVT-SyiSTSKw/s1600/gonzaga.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwHEVcVKAsjvsUUrh8NpqLK4PVRqhQe7rHfoOO5JN5e8YHl3Gv7VB0JhUy5l8XsdtqaA6HJvqIZmtkEm1xkeISJp4NeFQ9zlu6TrY7T4SEQL0SPUqufAyGmyQAwyUVT-SyiSTSKw/s320/gonzaga.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-size: small;"><i>Gonzaga
- de pai pra filho*</i></span><span style="font-size: small;">, de Breno Silveira (</span><span style="font-size: small;"><i>Dois
filhos de Francisco, À beira do caminho</i></span><span style="font-size: small;">), é
mais uma merecida homenagem a Luiz Gonzaga, no ano de seu centenário.
Com um competente elenco, o filme enfoca a vida do nosso mestre desde
a adolescência e percorre toda sua carreira - o começo difícil, o
auge, o ostracismo e a volta, com destaque para seu relacionamento
conturbado com o filho Luiz Gonzaga Júnior.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">O
nascimento do filho, em 1945, coincidiu com outros eventos de grande
importância e mesmo determinantes na vida futura de Luiz Gonzaga,
desde a gravação dos primeiros discos como cantor, até o encontro
com Humberto Teixeira, com quem criaria o baião, ritmo que dominaria
o cenário da música brasileira até o surgimento da bossa nova, em
1958. Gonzaga viu-se, então, entre a carreira - incipiente, mas
ascendente - e a criação do filho, cuja mãe morrera precocemente.
Sem poder cuidar dos dois, optou pela carreira, com o pensamento de
viabilizar, mais pra frente, a dupla responsabilidade, o que, por uma
série de fatores, e entre uma e outra tentativa malsucedida, nunca
vingou. O menino foi criado no morro de São Carlos pelos padrinhos,
Dina e Henrique, casal de amigos que recebera seu pai no Rio de
Janeiro.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">O fato de
terem crescido em ambientes e culturas tão díspares só realçou as
diferenças entre pai e filho, o que, aliado a uma natural denegação
da influência do primeiro sobre o segundo, refletiu-se na música
deste, bastante desvinculada do viés nordestino da música daquele.
Outra diferença: Gonzaguinha compunha quase sempre só, Gonzaga,
quase sempre não. Em comum, o talento para a música, transmitido de
pai pra filho.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">A música
de Luiz Gonzaga e seus parceiros carrega a emoção mais contida do
sertanejo, o falar cantando, o aboio em forma de canção, o norte.
Quer em ritmo de alegria, leveza ou ingenuidade com um toque de
malícia, quer em tom de introspecção, lamento, saudade ou
resignação, os sentimentos e comportamentos são sempre
confrontados com elementos comuns à realidade sertaneja, voltados
àquele microuniverso, por meio de linguagem própria e bem peculiar:</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;"><i>M</i></span><span style="font-size: small;"><i>andacaru
quando fulora na seca / é o sinal que a chuva chega no sertão /
toda menina que enjoa da boneca / é sinal de que o amor já chegou
no coração”, “Assum preto, meu cantar / é tão triste como o
teu / também roubaram o meu amor / que era a luz, ai, dos olhos
meus”, “Saudade assim faz roer e amarga que nem jiló”, “Quando
a ribaçã de sede / bateu asas e voou / foi aí que eu vim me embora
/ carregando a minha dor”, “Ai, juazeiro / ela nunca mais
voltou”, “Tendo um coração vazio / vivo assim a dar psiu /
sabiá vem cá também</i></span><span style="font-size: small;"><i><span style="font-size: small;"><i><span style="font-size: small;"><i>”, </i></span>“Quando o verde dos teus olhos se espal<span style="font-size: small;">har na pla<span style="font-size: small;">ntação</span></span></i></span>”</i></span><span style="font-size: small;"><span style="font-style: normal;">...</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">A música
de Gonzaguinha é urbana e reflete o ritmo de vida acelerado, de
emoções exacerbadas, o cantar falando, verbos soltos em desabafo, o
desnorte. Expõe nossas limitações e os limites a que somos
expostos diante desse quadro, de forma incisiva: </span><span style="font-size: small;"><i>“não
dá mais pra segurar, explode coração”, “só sinto no ar o
momento em que o copo está cheio e que já não dá mais pra
engolir”, “coração na boca, peito aberto, vou sangrando”</i></span><span style="font-size: small;"><span style="font-style: normal;">.
Não por um linguajar contundente, mas pelo caráter autobiográfico,
</span></span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=TNjWxvIeyJ0&feature=related" target="_blank"><span style="font-size: small;"><i>Com a perna no mundo</i></span></a></u></span></span><span style="font-size: small;"><span style="font-style: normal;">**
tem forte carga emocional e beleza redobrada.</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Ao mesmo
tempo, e em contraponto, Gonzaguinha destila versos doces, como em
</span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=WQrA2UojTtQ&feature=related" target="_blank"><span style="font-size: small;"><i>Espere por mim, morena</i></span></a></u></span></span><span style="font-size: small;"> ou </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=n39DxfDkSBE" target="_blank"><span style="font-size: small;"><i>Diga lá, coração</i></span></a></u></span></span><span style="font-size: small;"> e
mensagens afirmativas: </span><span style="font-size: small;"><i>“eu acredito é na
rapaziada / que segue em frente e segura o rojão”, “eu sei que a
vida devia ser bem melhor e será”, “fé na vida, fé no homem,
fé no que virá”, “eu apenas queria que você soubesse que
aquela alegria ainda está comigo”</i></span><span style="font-size: small;">. Maria
Bethânia, Simone e Elis Regina foram suas melhores intérpretes.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Posicionamento
político era outra diferença visível entre pai e filho. Gonzaga
Jr. pertence a uma geração cujo fim da adolescência coincide com o
início do período de ditadura militar no Brasil. Durante a
faculdade, iniciou seu engajamento político, junto com sua carreira
musical, ao participar do movimento artístico universitário (MAU),
ao lado de Ivan Lins, Aldir Blanc e outros. O movimento prosperou e,
no início dos anos 70, gerou como frutos disco e programa de tv (</span><span style="font-size: small;"><i>Som
Livre Exportação</i></span><span style="font-size: small;">). Logo depois, Gonzaguinha
lançou seu primeiro LP, que incluía </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=RLxQ1UyHDD4" target="_blank"><span style="font-size: small;"><i>Comportamento geral</i></span></a></u></span></span><span style="font-size: small;">, sua irônica e
mais conhecida canção de protesto (</span><span style="font-size: small;"><i>“Você
merece, você merece / Tudo vai bem, tudo legal / Cerveja, samba e
amanhã, seu Zé / Se acabarem com teu carnaval?”</i></span><span style="font-size: small;">).</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">O filme
faz uma retrospectiva da vida de Luiz Gonzaga, tomando por base um
depoimento real do rei do baião a Gonzaguinha. Num interessante
recurso, os momentos mais importantes de suas carreiras são
mostrados ora em cenas filmadas, ora em imagens reais, culminando com
o primeiro encontro entre pai e filho no palco, num show em 1981,
cantando </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=9-nTWcG62zs" target="_blank"><span style="font-size: small;"><i>Vida de viajante</i></span></a></u></span></span><span style="font-size: small;">. A volta de
Gonzaga a Exu, depois da fama, por tantas e brilhantes vezes contada
e cantada por ele, é bem ilustrada no filme, bem como sua boa
relação com o pai Januário e a grande influência deste em sua
carreira.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Um Luiz,
outro Luiz. Quase partiram juntos. Um luz, outro reluz. Não importa
que Exu e São Carlos não sigam a mesma doutrina, que a longa
avenida de gás neon não se encontre com a estrada de Canindé ou
que o riacho do navio não deságue no lindo lago do amor. Nesse
imenso salão ou numa sala de reboco, num pé de serra pernambucano
ou num morro carioca, no sertão ou perto do mar, a essência da arte
é a mesma: vida (e vice-versa). E essas duas, particularmente, os
seguintes versos de Gonzaguinha parecem, por simples acaso, definir
com precisão: </span><span style="font-size: small;"><i>“Para quem bem viveu o amor,
duas vidas que abrem não acabam com a luz. São pequenas estrelas
que correm no céu, trajetórias opostas, sem jamais deixar de se
olhar”</i></span><span style="font-size: small;">.</span></div>
<br />
<hr />
*<br />
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="250" src="http://www.youtube.com/embed/63Na62E0LZk?rel=0" width="440"></iframe>
<br />
<br />
**<br />
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="330" src="http://www.youtube.com/embed/TNjWxvIeyJ0?rel=0" width="440"></iframe>
Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-9391392712442978912012-10-27T17:49:00.000-03:002012-10-27T17:52:42.549-03:00Receita de doces bárbaros<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiV-eEc1XsUs3b14_TWyq-hIWSzosPLRCWelpXn5u21q-q-4rVMcXVuvlZmou6H22QjISDjcVXiua4rY3E_sZz2ZzS6359D2MadZ9RhPgQaPwWBBRbytfpYvHit96aQBWWLoNrF5A/s1600/doces-barbaros.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiV-eEc1XsUs3b14_TWyq-hIWSzosPLRCWelpXn5u21q-q-4rVMcXVuvlZmou6H22QjISDjcVXiua4rY3E_sZz2ZzS6359D2MadZ9RhPgQaPwWBBRbytfpYvHit96aQBWWLoNrF5A/s200/doces-barbaros.jpg" width="195" /></a></div>
<span class="peq1">Chico e Bethânia, Caetano e Chico, Luiz Gonzaga e Fagner, Elis e Tom, <i>Pessoal do Ceará</i>
(Ednardo, Amelinha e Belchior), Vinícius, Maria Medalha e Toquinho, a
música brasileira já nos brindou com memoráveis encontros, em geral ao
vivo, a maioria em dupla, alguns em trio. Afora obras coletivas como <i>Tropicália ou Panis et circensis</i> e <i>Clube da esquina</i>, há, também, outros trabalhos reunindo mais do que três artistas, como <i>O Grande encontro</i> (Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Elba e Zé Ramalho), <i>Cantoria</i> (Elomar, Xangai, Vital Farias e Geraldo Azevedo), <i>Tom . Vinícius . Toquinho . Miucha</i> e <i>Doces bárbaros</i>, formação musical que uniu, em 1976, Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia.<br /><br />
Os quatro amigos baianos reuniram-se, em trabalhos conjuntos, por várias vezes. Caetano, que iniciara a carreira com Gal, em <i>Domingo</i>, viria juntar-se a Bethânia, num disco ao vivo (1978), a Gil, em <i>Barra 69</i> e <i>Tropicália 2</i> (1993) e a Gil e Gal no disco <i>Temporada de verão - ao vivo na Bahia</i> (1974). Sem Gal e com Bethânia, os dois compositores dividiram microfones e juntaram vozes com João Gilberto, em <i>Brasil</i> (1981). Já na citada obra coletiva que marcou o tropicalismo (<i>Tropicália ou Panis et circensis</i>), dos quatro, apenas Bethânia ficou de fora. Com <i>Doces bárbaros</i>,
porém, via-se, pela primeira vez, os quatro reunidos num mesmo
trabalho, o que só ocorreu novamente em show registrado no documentário <a href="http://www.youtube.com/watch?v=DV1bDQl6Qsw" target="_blank"><i>Outros (doces) bárbaros</i></a> (Andrucha Waddington, 2002).<br /><br />
O trabalho a quatro vozes dos doces bárbaros representou rara
oportunidade de reunir ingredientes como ousadia, performance de palco,
qualidade vocal e sensibilidade poética. Do encontro, resultou disco ao
vivo, documentário e uma série de shows. A reunião do grupo veio pouco
depois do retorno de Caetano e Gil do exílio em Londres, que, por sua
vez, marcou o fim e sucedeu o movimento tropicalista.<br /><br />
<i>"Com amor no coração, preparamos a invasão"</i> - Depois de tantas,
tão intensas e recentes mudanças, a invasão era então mais doce,
pacífica, mas ainda assim, ou talvez por isso mesmo, provocativa. Embora
a subversão ou transgressão deles fosse mais no âmbito comportamental,
de costumes, em tempos de ditadura e recém-chegados do exílio, eles eram
cobrados quanto a posições políticas. <i>"Por que um grupo tão doce, no atual momento da conjuntura nacional?"</i>
- perguntou um jornalista, em entrevista coletiva do grupo, por ocasião
do lançamento do show. Esta e outras interessantes passagens são
exibidas no documentário <a href="http://www.youtube.com/watch?v=z-IwkP5AOi4" target="_blank"><i>Os doces bárbaros</i></a> (Jom Tob Azulay, 1976), cuja equipe acompanhou o quarteto em apresentações, bastidores, ensaios e entrevistas.<br /><br />
<i>"Tudo ainda é tal e qual e no entanto nada igual"</i> - Essa doce e
bárbara invasão, no meio da década de 70, representaria uma espécie de
rito de passagem na carreira do quarteto. Como disse Caetano na ocasião,
<i>"eu não sei dizer o que é propriamente novo, como temática, nos
doces bárbaros, a não ser o fato simplíssimo de estarmos os quatro
juntos, sem teorizar muito"</i>. De fato, num período pós-tropicalista,
que sucedia décadas de intensa e rica produção cultural, inclusive da
parte deles, "os quatro cavaleiros do após-calipso" não tinham muito o
que inventar, nem tinham essa pretensão.<br /><br />
Todos então com mais de trinta (Bethânia, a mais nova dos quatro,
completaria essa idade naquele ano), eles assumiriam, dali pra frente,
uma postura mais madura e atingiriam, então, o auge de suas carreiras e
um lugar definitivo entre os grandes nomes da nossa música popular.
Depois de cantar Caymmi, Gal, com <i>Caras e bocas</i>, chegaria ao topo das paradas com <a href="http://www.youtube.com/watch?v=18lRxwGZUUs" target="_blank"><i>Tigresa</i></a>, de Caetano, que lá estava com <a href="http://www.youtube.com/watch?v=1FtVHzligxI" target="_blank"><i>Qualquer coisa</i></a>. Bethânia logo atingiria a condição de diva, sobretudo com o lançamento do disco <i>Pássaro proibido</i>, que tinha como destaque uma de suas interpretações de maior sucesso, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=VzC9npJs8Fo" target="_blank"><i>Olhos nos olhos</i></a>, de Chico Buarque.<br /><br />
Gil acabara de lançar o excelente álbum <i>Refazenda</i>, cujo título
reunia ideias bem pertinentes. Primeiro, a percepção de que, se não
havia o que inventar, seria possível reprocessar, refazer. Ademais, o
prefixo “re” tanto encerrava a ideia de repetição quanto de volta - às
raízes, ao interior (ao qual também remete o termo fazenda) do ser e do
estar, ao país, no pós-exílio. O mote seria usado novamente em <i>Refavela</i>, seu disco seguinte e também em <i>Refestança</i>, ao vivo com Rita Lee, embora o compositor, ao referir-se à trilogia “Re”, considere <i>Realce</i> o terceiro trabalho da série. Por sinal, o novo disco de Gal, <i>Recanto</i>,
com canções de Caetano, poderia bem ser a continuação dessa sequência
de Gil, por representar, a partir do título - e da própria concepção -
os mesmos conceitos: o cantar de novo, refazer o canto, buscar um novo
canto, num novo recanto.<br /><br />
O repertório do disco e do show <i>Doces bárbaros</i> era, quase todo, formado por composições de Caetano e Gil. As interpretações de Bethânia em <a href="http://www.youtube.com/watch?v=N8hpK0lq5gk" target="_blank"><i>Um índio</i></a> (Caetano), Gal e Bethânia em <a href="http://www.youtube.com/watch?v=JLt8du_5jb4&feature=related" target="_blank"><i>Esotérico</i></a> (Gil) e os quatro juntos em <a href="http://www.youtube.com/watch?v=wm4QVdubqxY&feature=related" target="_blank"><i>Atiraste uma pedra</i></a> (Herivelto Martins / David Nasser), <a href="http://www.youtube.com/watch?v=da18kGGkYjw" target="_blank"><i>Fé cega, faca amolada</i></a> (Milton Nascimento / Ronaldo Bastos) e <a href="http://www.youtube.com/watch?v=O0sJIjE4NnE" target="_blank"><i>Os mais doces bárbaros</i></a>* (Caetano) eram alguns dos belos momentos do encontro. <a href="http://www.youtube.com/watch?v=THGO65szumI&feature=related" target="_blank"><i>O seu amor</i></a> (Gil) pregava o amor livre e parodiava slogan ufanista utilizado durante o regime militar: <i>Brasil, ame-o ou deixe-o (“O seu amor, ame-o e deixe-o livre para amar”)</i>. Amor, misticismo, sincretismo religioso, natureza, diferentes temas, diferentes formas. Viva qualquer coisa.</span><br />
<span class="peq1"> </span>
<br />
<hr />
<br />
<span class="peq1">
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="300" src="http://www.youtube.com/embed/O0sJIjE4NnE?rel=0" width="400"></iframe>
</span>
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;"><span class="peq1"><span class="peq2"><b>* Os mais doces bárbaros (Caetano Veloso)</b><br /><br />
Com amor no coração<br />
Preparamos a invasão<br />
Cheios de felicidade<br />
Entramos na cidade amada<br /><br />
Peixe Espada, peixe luz<br />
Doce bárbaro Jesus<br />
Sabe bem quem né otário<br />
Peixe do aquário nada<br /><br />
Alto astral, altas transas, lindas canções<br />
Afoxés, astronaves, aves, cordões<br />
Avançando através dos grossos portões<br />
Nossos planos são muito bons<br /><br />
Com a espada de Ogum<br />
E a benção de Olorum<br />
Como um raio de Iansã<br />
Rasgamos a manhã vermelha<br /><br />
Tudo ainda é tal e qual<br />
E no entanto nada igual<br />
Nós cantamos de verdade<br />
E é sempre outra cidade velha</span></span></span>
Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-38907749669176558132012-09-25T14:03:00.002-03:002012-10-28T23:23:53.703-03:00Tropicália - por entre fotos, nomes e músicas<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0XowNnxoGIMEcUYJ1oHZcdD1UOLcIu3UFQ3mMIv8cUm31b5NLDAItMKoAa6UOkXRwJdPxiIwbQU3F1HmzjSKFiZ5dG6c5hHtXocBfVLUTeVSNF0kslGTBzODWDnxj7TCaUoXA3A/s1600/tropicalia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0XowNnxoGIMEcUYJ1oHZcdD1UOLcIu3UFQ3mMIv8cUm31b5NLDAItMKoAa6UOkXRwJdPxiIwbQU3F1HmzjSKFiZ5dG6c5hHtXocBfVLUTeVSNF0kslGTBzODWDnxj7TCaUoXA3A/s320/tropicalia.jpg" width="218" /></a>Numa época de grande
efervescência cultural e política em vários cantos do mundo, seria
natural que surgissem divisões, sectarismos e posicionamentos
antagônicos, sem meios-termos. Foi nesse clima que surgiu o
<i>tropicalismo</i>, um movimento contra movimentos – políticos,
sociais, culturais -, não por querer manter o <i>status quo</i> ou
promover a estagnação, mas por seguir a cartilha cultural
antropofágica e ser contra a uniformidade, o empunhar de uma única
bandeira, o rótulo (justamente num período em que a música passava
a ser rotulada e surgia o termo <i>Música Popular Brasileira</i>,
representado pela sigla <i>MPB</i>).
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Quase cinco décadas
depois, o movimento tropicalista volta, agora, a ser discutido, com a
percepção superior que o distanciamento temporal permite. Está
sendo reestudado por um de seus principais representantes, o cantor e
compositor <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.tomze.com.br/" target="_blank">Tom Zé</a></u></span></span>, em seu novo disco, <i>Tropicália lixo
lógico</i> e, no cinema, é tema de dois documentários: <i>Futuro
do pretérito: Tropicalismo Now!</i> (Ninho Moraes e Francisco César
Filho) e <i>Tropicália</i> (Marcelo Machado).</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Nessa
reanálise, Tom Zé imagina um elo entre o <i>tropicalismo</i> e a cultura árabe, desembocando no sertão nordestino que, segundo
ele, convive com o <i>“efeito
residual de oito séculos de dominação árabe na Península
Ibérica”</i>,
a qual <i>“recebia
uma sofisticada educação, com a cultura moçárabe”</i>,
que se refletiu na cultura do sertanejo analfabeto. Tal constatação
e a identificação de Tom Zé com a cultura sertaneja, por sua vez,
são citadas por Caetano Veloso em <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.tomze.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=305:lixo-logico-caetano-veloso&catid=8:imprensa&Itemid=18" target="_blank">artigo publicado em O Globo</a></u></span></span>,
sobre o <i>tropicalismo</i>
e o novo disco do colega: <i>“...
há uma identificação sertaneja que Gil (em larga medida) pode
partilhar com Tom Zé, mas Bethânia, Gal e eu, meninos da área da
Baía de Todos os Santos, vimos de outro ambiente mental”</i><span style="font-style: normal;">.
Caetano completa que, nesse ambiente, </span><i>“as
formas mentais sertanejas eram remotas. Não tínhamos o repentista,
o cordelista ou o aboiador em voz de alcance”</i>.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Toda
essa (pro ou con)fusão de ideias e ideais ajuda a explicar como o
movimento tropicalista absorveu influências tão dessemelhantes
quanto, por exemplo, a <i>Banda de Pífanos de Caruaru</i> e Roberto
Carlos.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Fruto de um apurado
trabalho de pesquisa, <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.tropicaliaofilme.com.br/" target="_blank"><i>Tropicália</i></a></u></span></span>,
o filme, traz depoimentos, fotos e apresentações da época, numa
certa ordem cronológica, em raras e expressivas imagens de arquivo,
em que figuram a maior parte dos expoentes tropicalistas, como
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa e <i>Os Mutantes</i>,
na música, o artista plástico Hélio Oiticica, criador da obra que
inspirou o nome do movimento e aqueles que tinham alguma ligação
com sua filosofia, como Gláuber Rocha, no cinema e José Celso
Martinez, no teatro.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Entre as raras imagens
exibidas, estão a cerimônia de casamento <i>hippie</i> entre
Caetano e Dedé, o lançamento do disco símbolo do movimento,
<i>Tropicália* ou Panis at circensis</i>, a parada de Gil e Caetano
em Lisboa, a caminho do exílio em Londres e uma linda foto de Gal,
de cabelos curtos, deitada no colo de Caetano. Outros momentos
marcantes exibidos são uma interpretação impecável deste para <i>Asa
branca</i> e a participação de Gil na terceira edição do <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.isleofwightfestival.com/history-1968-1970.aspx" target="_blank"><i>festival da ilha de Wight</i></a></u></span></span> (Inglaterra, 1970), em que
o locutor, ao apresentar os tropicalistas para o grande público,
afirma que <i>“a política não permite que eles façam sua música
no Brasil”</i>, mas que lá, sim, eles podiam fazê-lo (Depois das
três primeiras edições, o festival voltou apenas em 2002 e é
realizado até hoje).</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
O <i>tropicalismo</i>
durou quase que apenas um verão, entre 1967 e 1968. Começou com a
alegria, alegria dos festivais e findou com os tristes ais da
repressão, entre os quais o ai-5 e as posteriores prisão e exílio
de Gil e Caetano na Europa, longe dos trópicos. Os preceitos
tropicalistas de tolerância às diversas formas de expressão,
misturando novo e antigo, rural e urbano, erudito e popular, nacional
e estrangeiro, porém, deixaram raízes e frutificaram. Viva a bossa
e viva a palhoça, viva Ipanema e viva Iracema, por que não? O mundo
é complexo e não se resume a sim ou não, certo ou errado. Como
diria Adoniran, além disso, mulher, tem outra coisa. Entre a banda
de pífanos de Caruaru e uma banda de rock, tem a banda de Chico,
cantando coisas de amor. Nem tudo é bem ou mal, Ben ou Mautner.</div>
<hr />
<br />
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="224" src="http://www.youtube.com/embed/wgBrbEAJELg?rel=0" width="400"></iframe>
<span style="font-size: x-small;"><br /><br />Sobre o tropicalismo, leia também: <a href="http://paulobap.blogspot.com.br/2006/12/choque-cultural.html" target="_blank">Choque cultural</a>.<br /><br /><br /><b>* Tropicália (Caetano Veloso)</b><br /><br />Sobre a cabeça os aviões<br />Sob os meus pés os caminhões<br />Aponta contra os chapadões<br />Meu nariz<br /><br />Eu organizo o movimento<br />Eu oriento o carnaval<br />Eu inauguro o monumento<br />No planalto central do país<br /><br />Viva a Bossa, sa, sa<br />Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça<br />Viva a Bossa, sa, sa<br />Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça<br /><br />O monumento é de papel crepom e prata<br />Os olhos verdes da mulata<br />A cabeleira esconde atrás da verde mata<br />O luar do sertão<br /><br />O monumento não tem porta<br />A entrada é uma rua antiga, estreita e torta<br />E no joelho uma criança sorridente, feia e morta<br />Estende a mão<br /><br />Viva a mata, ta, ta<br />Viva a mulata, ta, ta, ta, ta<br />Viva a mata, ta, ta<br />Viva a mulata, ta, ta, ta, ta<br /><br />No pátio interno há uma piscina<br />Com água azul de Amaralina<br />Coqueiro, brisa e fala nordestina<br />E faróis<br /><br />Na mão direita tem uma roseira<br />Autenticando eterna primavera<br />E no jardim os urubus passeiam<br />A tarde inteira entre os girassóis<br /><br />Viva Maria, ia, ia<br />Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia<br />Viva Maria, ia, ia<br />Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia<br /><br />No pulso esquerdo o bang-bang<br />Em suas veias corre muito pouco sangue<br />Mas seu coração<br />Balança um samba de tamborim<br /><br />Emite acordes dissonantes<br />Pelos cinco mil alto-falantes<br />Senhoras e senhores<br />Ele põe os olhos grandes sobre mim<br /><br />Viva Iracema, ma, ma<br />Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma<br />Viva Iracema, ma, ma<br />Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma<br /><br />Domingo é o fino-da-bossa<br />Segunda-feira está na fossa<br />Terça-feira vai à roça<br />Porém...<br /><br />O monumento é bem moderno<br />Não disse nada do modelo do meu terno<br />Que tudo mais vá pro inferno<br />Meu bem<br /><br />Viva a banda, da, da<br />Carmem Miranda, da, da, da, da<br />Viva a banda, da, da<br />Carmem Miranda, da, da, da, da</span>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-58495200984446289872012-09-10T10:12:00.000-03:002012-09-10T10:12:18.483-03:00Até que a música os separe<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Ao longo do tempo, a
música passou por várias transformações, desde o modo de
interpretação ao surgimento de novos ritmos. A temática
predominante, porém, ainda que expressa de diferentes formas, pouco
mudou e muitas relações amorosas foram formadas e desfeitas no
compasso das canções. Amores de bolero, exacerbados, amores
bossa-nova, contidos, todos casam bem com o despertar de emoções
que nos provoca a união entre letra e música.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Dentre as composições
musicais que tratam do tema das separações e desencontros amorosos,
é mais frequente a descrição de um amor que resta unilateral, em
que o amante lamenta a ausência da pessoa amada e sonha com um
reencontro, indesejado pela outra parte. Ou ainda, de amores que
nunca se concretizaram, impossíveis, platônicos. Uma terceira
variante vislumbra a separação do ponto de vista da parte que,
ainda que a custo, já a assimilou, ou como algo já aceito por ambas
as partes, com o grau de desarmonia resultante a definir a trilha
sonora dos <i>“ex my loves”</i><span style="font-style: normal;">,
em alto e bom som ou não, como veremos a seguir, numa pequena
amostra.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Pode-se considerar como
limites desse último e específico espectro musical, de um lado,
<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=ZXFginzWtFc" target="_blank"><i>Vingança</i></a></u></span></span><span style="font-size: x-small;"><i>*</i></span><span style="font-style: normal;">,</span>
de Lupicínio Rodrigues (<i>“Mas enquanto houver força em meu
peito eu não quero mais nada / Só vingança, vingança, vingança
aos santos clamar”</i>), do outro, <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=-YAQ8fYqtfw" target="_blank"><i>Drão</i></a></u></span></span>,
de Gilberto Gil (<i>“Não há o que perdoar, por isso mesmo é que
há de haver mais compaixão”</i>). Creio que não se pode ser mais
e menos tolerante do que, respectivamente, os personagens de uma e
outra música, a segunda inspirada em separação real de Gil, de sua
terceira esposa Sandra, a quem chamava Drão. Segundo ele, a canção
foi das mais difíceis de compor, justamente por tratar, ao mesmo
tempo, de amor e desamor, bem como por seu envolvimento pessoal no
caso.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=yyX_Ag2ZHEA" target="_blank"><i>O mundo é um moinho</i></a></u></span></span> (<i>“De cada amor tu
herdarás só o cinismo / Quando notares estás a beira do abismo /
Abismo que cavaste com teus pés”</i>) seria páreo para <i>Vingança
</i><span style="font-style: normal;">(pelo que sei, é incerta a
versão d</span>e que Cartola a teria composto para uma filha ou
enteada, o que a excluiria do escopo desta análise), mas, enquanto
uma pragueja ferozmente contra o ser (des)amado, a outra “apenas”
lhe prevê um futuro sombrio. Seguindo a linha gradativa de conflito,
em ordem decrescente de intensidade, perto de <i>Vingança</i>
estaria <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=6S9SrNrwrYQ" target="_blank"><i>Fracassos</i></a></u></span></span>,
de Fagner (<i>“Não chore se eu disser que já vou / Você quem
quis assim, vai sofrer / … / Você tem que chorar se eu sofrer /
Você tem que pagar se eu morrer”</i>).
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Um pouco mais sutil,
mas com doses de rancor e inteligentes pitadas de ironia e sarcasmo,
<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=VzC9npJs8Fo" target="_blank"><i>Olhos nos olhos</i></a></u></span></span><span style="font-size: x-small;"><i>**</i></span><span style="font-style: normal;">,
de Chico Buarque, é primorosa</span><i> </i>e tem também seu lugar
de destaque na parte de cima da lista. A<span style="font-style: normal;">
alusão à obediência, na letra, é formidável </span><i>(“Quando
você me deixou, meu bem / Me disse pra ser feliz e passar bem / Quis
morrer de ciúme, quase enlouqueci / Mas depois, como era de costume,
</i><i><b>obedeci</b></i><i>”)</i>. São de Chico, também, outros
clássicos do tema, de versos menos ou mais pacíficos, como <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=hn4JyodL7K4" target="_blank"><i>Trocando em miúdos</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">,
com Francis Hime</span> (<i>“Mas devo dizer que não vou lhe dar /
O enorme prazer de me ver chorar / Nem vou lhe cobrar pelo seu
estrago / Meu peito tão dilacerado”</i>) e <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=pFU_WteHiZc" target="_blank"><i>Quem te viu, quem te vê</i></a></u></span></span><i> </i><span style="font-style: normal;">(</span><i>“Hoje
a gente nem se fala, mas a festa continua”</i>).</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
No extremo mais
amigável do espectro da separação, <i>Drão</i><span style="font-style: normal;">
vem acompanhada de </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=Xo4y45wu4HA" target="_blank"><i>Sonhos</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">,
de Peninha (</span><i>“Não tem desespero não / Você me ensinou
milhões de coisas / Tenho um sonho em minhas mãos / Amanhã será
um novo dia / Certamente eu vou ser mais feliz”</i><span style="font-style: normal;">).
De mesmo estilo harmonizador, também pode ser posta ao lado das duas
a recente </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=qU0Q4apYZ70" target="_blank"><i>Depois</i></a></u></span></span>,
de Marisa Monte, com Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes (<i>“Depois
de sonhar tantos anos / De fazer tantos planos / De um futuro pra nós
/ Depois de tantos desenganos / Nós nos abandonamos / Como tantos
casais / Quero que você seja feliz / Hei de ser feliz também”</i>).</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Numa posição
intermediária, em que, se não há motivo para vingança, também
não o há para sonhos, Ivan Lins e Vítor Martins contribuem para o
<i>ranking</i> com <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=X2DgtwXEPRI" target="_blank"><i>Saindo de mim</i></a></u></span></span><i> (“Você foi saindo de mim /
Devagar e pra sempre / De uma forma sincera / Definitivamente”),
</i><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=Nm1waszWx2A" target="_blank"><i>Bilhete</i></a></u></span></span><i>
(“E por fim nosso caso acabou, está morto / Jogue a cópia das
chaves / Por debaixo da porta / Que é pra não ter motivos / De
pensar numa volta / Fique junto dos seus / Boa sorte, adeus”) e
</i><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=_gaieMsToD8" target="_blank"><i>Começar de novo</i></a></u></span></span><i> (“Começar de novo / E contar
comigo / Vai valer a pena / Já ter te esquecido”)</i>, mais um
clássico do tema. Por fim, para tornar a análise menos excludente
quanto a estilo musical, nessa mesma posição da escala, poderia
entrar <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=nLNnxNYJJBs&feature=related" target="_blank"><i>Baba</i></a></u></span></span>,
de Kelly Key, que, apesar do cruel <i>“Isso é pra você aprender a
nunca mais me esnobar”</i>, tem o atenuante <i>“e pra não dizer
que eu sou ruim...”</i>.</div>
<hr />
<br />
<b><span style="font-size: x-small;">* Vingança (Lupicínio Rodrigues)</span></b><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;"> Eu gostei tanto</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Tanto quando me contaram</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Que lhe encontraram</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Bebendo e chorando</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Na mesa de um bar</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">E que quando os amigos do peito</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Por mim perguntaram</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Um soluço cortou sua voz</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Não lhe deixou falar</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">Eu gostei tanto</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Tanto quando me contaram</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Que tive mesmo de fazer esforço</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Prá ninguém notar</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">O remorso talvez seja a causa</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Do seu desespero</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Ela deve estar bem consciente</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Do que praticou</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">Me fazer passar esta vergonha</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Com um companheiro</span><br />
<span style="font-size: x-small;">E a vergonha</span><br />
<span style="font-size: x-small;">É a herança maior que meu pai me deixou</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">Mas, enquanto houver força em meu peito</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Eu nao quero mais nada</span><br />
<span style="font-size: x-small;">E pra todos os santos vingança (Só vingança, vingança, vingança)</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Vingança clamar (Aos santos clamar)</span><br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">Ela há de rolar qual as pedras</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Que rolam na estrada</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Sem ter nunca um cantinho de seu</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Pra poder descansar</span><br />
<br />
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="300" src="http://www.youtube.com/embed/ZXFginzWtFc?rel=0" width="400"></iframe>
<br />
<br />
<b>**</b>
<br />
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="225" src="http://www.youtube.com/embed/tNe3HqZiyyw?rel=0" width="400"></iframe>
Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-20377860549889935672012-08-17T16:56:00.000-03:002012-08-17T17:00:58.887-03:00Composições de destinos<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBu480DmfRUu3LIYkikH6zBCjloFyogqpYpvhb4c7NHPXhGmRVHo2aRSJ-6R3ysqu6jhPGCemV_h5I3tG9khe2Wlq1FguKnxFe4M2DzaMlWKiGB9WW43aO50yM6XkBIhlcFAeRBg/s1600/beira-do-caminho.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBu480DmfRUu3LIYkikH6zBCjloFyogqpYpvhb4c7NHPXhGmRVHo2aRSJ-6R3ysqu6jhPGCemV_h5I3tG9khe2Wlq1FguKnxFe4M2DzaMlWKiGB9WW43aO50yM6XkBIhlcFAeRBg/s320/beira-do-caminho.jpg" width="227" /></a></div>
Dentre os filmes nacionais que retratam as dificuldades enfrentadas
pelas camadas mais carentes da população, há aqueles que o fazem
de maneira explícita, contundente, retratando miséria e violência
de forma crua e os que mostram a realidade de maneira mais suave e
poética. Na filmografia nacional mais recente, <i>Cidade de Deus</i>
(Fernando Meirelles, 2002) e <i>Central do Brasil </i><span style="font-style: normal;">(Walter
Salles, 1998)</span>, respectivamente, seriam os melhores
representantes de um e outro estilo, ambos válidos nos aspectos de
conscientização ou indução a reflexão, mas cada um com suas
armas e cada arma atingindo diferentes alvos.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Vencedor de vários prêmios no último <i>Cine-PE</i> – melhor
filme nos júris oficial e popular, roteiro (Patrícia Andrade), ator
(João Miguel) e ator coadjuvante (Vinícius Nascimento) - <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.abeiradocaminho.com.br/" target="_blank"><i>À beira do caminho</i></a></u></span></span>* (Breno Silveira, 2012), é
o mais novo exemplar dos filmes do segundo grupo. O ator João Miguel
é conhecido pela atuação em <i>Cinemas, Aspirinas e Urubus</i>
(Marcelo Gomes, 2005) e Vinícius Nascimento já se destacara, com
sua espontaneidade, em <i>Ó paí, ó </i><span style="font-style: normal;">(Monique
Gardenberg, 2007)</span>, como um dos irmãos Cosme e Damião, filhos
da evangélica dona Joana, que são assassinados, numa das poucas
cenas dramáticas do filme.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Breno Silveira, que iniciou carreira como diretor de fotografia, tem
colocado a música em destaque, em seus trabalhos como diretor, seja
como pano de fundo para a trama, como é o caso de <i>À beira do
caminho</i>, seja como elemento-chave, em dois filmes de conteúdo
biográfico: <i>2 filhos de Francisco</i> (2005), sucesso de
bilheteria e <a href="http://www.youtube.com/watch?v=ooISXnf8uw4" target="_blank"><i>Gonzaga – de pai pra filho</i></a>, com estreia programada para 2012,
quando se comemora o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<i>À beira do caminho</i> é recheado de canções - bem escolhidas
- do repertório de Roberto Carlos, desde <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=QGpa-qr2ty0" target="_blank"><i>A distância</i></a></u></span></span>, no início, a <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=mMxVIjzEMZw" target="_blank"><i>O portão</i></a></u></span></span>, no final, parcerias dele com
Erasmo Carlos. Para driblar dificuldades de liberação de mais
composições da dupla, o diretor utilizou o recurso de incluir
aquelas do repertório de Roberto que não são de sua autoria, umas
na voz dele, como <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=YcQs3WIZRLY" target="_blank"><i>Outra vez</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">
(Isolda), umas na voz </span>de outros intérpretes, como Vanessa da
Mata em <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=BPejZ6ElX-I" target="_blank"><i>Nossa canção</i></a></u></span></span><i> </i><span style="font-style: normal;">(Luiz
Ayrão) e</span><i> </i><span style="font-style: normal;">Antônio
Marcos em</span><i> </i><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=Th-cRyec0OA" target="_blank"><i>Como vai você</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">
(Antônio Marcos / Mário Marcos).</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
O enredo de <i>À beira do caminho</i> guarda semelhanças com
<i>Central do Brasil</i><span style="font-style: normal;"> também no
</span>estilo 'filme de estrada' ou <i>'road movie'</i>, que tem como
principal característica o desenrolar da trama durante uma viagem,
um percurso, sem locação fixa (O estilo voltou a ser destaque com o
lançamento recente de outro filme de Walter Salles, <i>On the road</i>,
baseado no livro homônimo, de Jack Kerouac, que marcou época nos
anos 60). A semelhança estende-se à própria trama, em que um
adulto e uma criança têm seus destinos cruzados e estabelecem
fortes laços afetivos, enquanto caem na estrada. Similaridades
também são percebidas em relação a <i>O caminho das nuvens</i>
(Vicente Amorim, 2003), outro <i>road movie</i> em que a música de
Roberto Carlos está presente.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
O argumento, familiar como as composições de Roberto, emociona e
convence, com o auxílio de dois recursos infalíveis: criança e
música. O menino Vinícius é mais um exemplo de impressionante
talento precoce, que traduz os sentimentos do personagem com
perfeição tal, que nos atinge em cheio. Emoções à flor da pele,
composições de destinos, como cabe a um filme de estrada, de
passagens resumidas em frases de para-choque de um caminhão sem
destino certo, a conduzir o destino incerto de seus passageiros.</div>
<br />
<hr />
<br />
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;"><b>* Sinopse</b></span><span style="font-style: normal;">:</span><i>
A emocionante história de João, um homem que encontra na estrada
uma saída para esquecer os dramas de seu passado. Por acaso ou
sorte, seu caminho se cruza com o de um menino em busca do pai que
nunca conheceu. A partir desse encontro, nasce uma bela relação que
movimentará o delicado equilíbrio construído por João para
enfrentar seus fantasmas. De Breno Silveira, o diretor de 2 Filhos de
Francisco, À Beira do Caminho evoca e se inspira em letras de
sucessos de Roberto Carlos.</i></span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br />
<br /></div>
<iframe allowfullscreen="allowfullscreen" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/mnSgPo22gzA?rel=0" width="400"></iframe>
Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-58266507732857999312012-07-27T15:24:00.000-03:002012-07-31T08:58:13.710-03:00De retratos e paisagens<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkgX48NNmHoF3HT2ieHSH4BWakHOa0RAgZYikYuKzeY99S8mwrab873PyoVxyixf41V04lm-7EPwFyFIiS3jbPxDH4WQOJE8bIkcCpjd9M7PfKit_qYtvv_I7mbcLOEoJqYXMMNw/s1600/para-roma-com-amor.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkgX48NNmHoF3HT2ieHSH4BWakHOa0RAgZYikYuKzeY99S8mwrab873PyoVxyixf41V04lm-7EPwFyFIiS3jbPxDH4WQOJE8bIkcCpjd9M7PfKit_qYtvv_I7mbcLOEoJqYXMMNw/s320/para-roma-com-amor.jpg" width="240" /></a></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Além de enxergar que cinema é a maior diversão, podemos encarar a
poltrona das salas de exibição como divã de psicanalista. Nessa
linha, os filmes de cunho psicológico - aqueles que lidam com a
psique e fazem da tela de cinema um grande espelho a refletir nossa
imagem - são bem interessantes, muito mais que simples diversão. E
num paralelo entre sessões de cinema ou de análise, Woody Allen,
pelo conjunto da obra, poderia ser mais um guardião da nossa
insanidade mental, junto com Freud, Jung ou Lacan.</div>
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Com quase 50 filmes no currículo e mantendo a média de um por ano a
essa altura da carreira, o cineasta volta às telas com o filme da
vez, <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.pararomacomamor.com.br/" target="_blank"><i>Para Roma com amor</i></a></u></span></span>, atualmente em cartaz (o
título em português termina por brincar com as características de
palíndromo das palavras roma e amor, o que não ocorre no título
original, em inglês, <i>To Rome with love</i>). A obra segue a
tendência dos últimos trabalhos de Allen, que alguns críticos de
cinema têm classificado como fase guia turístico do diretor, pelo
fato de ele ter descartado a cidade de Nova York como locação fixa
de seus trabalhos e partido para um <i>city-tour</i> mundial, no que
parece estar sendo um golpe de mestre do mestre, em termos de
bilheteria.</div>
<br />
Nessa fase, iniciada com <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=KaOVSyoJG18" target="_blank"><i>Match point</i></a></u></span></span>, em Londres (2005), cada trabalho tem
locação numa cidade de um país diferente, com várias cenas
externas mostrando as belezas dos lugares e o consequente apoio
financeiro proporcionado pelo patrocínio dos respectivos governos,
interessados numa divulgação tão rica e abrangente. Outros
destaques foram <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=2gzdYgtHw2w" target="_blank"><i>Vicky Cristina Barcelona</i></a></u></span></span> (2008) e <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=aYP4RfN1NvU" target="_blank"><i>Meia-noite em Paris</i></a></u></span></span> (2011). Ao mesmo tempo, é
perceptível que nos tais filmes turísticos, graças ao apelo
estético, atingiu-se um público bem maior, que não era
necessariamente fã do diretor em sua fase pré-migratória. Um
público que prefere ver Paris a ver a si próprio, ou ainda, prefere
ver a si próprio em Paris.<br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Para Roma com amor</i>
é constituído de quatro histórias que se intercalam ao longo da
trama e têm em comum apenas a locação, as ruas de Roma. O filme
começa com a figura de um guarda de trânsito, num movimentado
cruzamento da capital italiana. Como um espectador privilegiado do
dia a dia da cidade, é como se, em cada esquina do cruzamento onde
se encontra, ele observasse cada uma das tramas paralelas. Duas dessas
histórias têm enredos que dariam bons filmes completos ou poderiam
render mais.
</div>
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
A primeira é
protagonizada pelo próprio Woody Allen, como um diretor de ópera
aposentado, pai de uma moça que vai se casar com um italiano, tem
boca e vai a Roma, conhecer a família do futuro genro, de inclinação
comunista, cujo pai é dono de funerária e excelente cantor de
chuveiro. Essa excêntrica combinação de aptidões e tendências,
aliada à figura sempre representativa (e bem representada) do ator e
diretor como caricatura de todos nós, rende momentos bem divertidos.
</div>
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Outra história mostra
a vida de um pacato e metódico cidadão italiano, que, sem mais
explicações - o que torna o fato mais engraçado -, passa a ser
visto como celebridade, com inúmeros repórteres à espreita na
porta de sua casa, seguindo-o por qualquer lugar e sempre à espera
de algum pronunciamento de sua parte, seja sobre o que for. Respostas
dele a perguntas banais, como <i>“o que você comeu no café da
manhã”</i> ou a cobertura ao vivo de seu barbear são tratadas
como furos de reportagem e exaltadas pelos <i>paparazzi</i> como um
gol da <i>squadra azurra</i> em final de copa do mundo. A princípio
incomodado, com o tempo ele começa a gostar da exposição, momento
em que, de maneira igualmente súbita, ele perde o foco da atenção
para outro cidadão.
</div>
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Para um diretor cujo
ponto forte sempre foi o diálogo, não tem tanta importância
cenário, imagem, paisagem e uma viagem ao exterior não se compara
ou não acrescenta muito a outra rumo aos meandros da nossa mente,
uma viagem ao interior, retrato de nossa alma, nosso retrato. Bill
Gates diria que a troca de retrato por paisagem é só uma questão
de orientação, mas, como citei em outra ocasião, os filmes de
Woody Allen trazem a palavra como texto e o resto como pretexto. E a
troca da imaginação pela imagem não passa de um bom pretexto.</div>
<br />
<hr />
<br />
<span style="font-size: x-small;">* Sobre Woody Allen, leia também: <a href="http://paulobap.blogspot.com/2010/12/nossa-imagem-na-tela-grande.html" target="_blank">Nossa imagem na tela grande</a></span><br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/3JeuI8PKF0M" width="400"></iframe>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-11396669136934485922012-07-09T09:35:00.001-03:002012-07-09T09:41:41.746-03:00Gabriela, sempre Gabriela<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEip39hFhYVbTQZfLgQ4sxgaTQUCSME4Tv6pksDap4cSniFIhh9vST5MlOKqFICa5ZZkF3NjIRsOTQGwEXuqUXcqGw57YO9wU6sc5y_00cTAxVnQMaTfQOhDB4TmGg0vjYiJw7lcdw/s1600/gabriela.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="197" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEip39hFhYVbTQZfLgQ4sxgaTQUCSME4Tv6pksDap4cSniFIhh9vST5MlOKqFICa5ZZkF3NjIRsOTQGwEXuqUXcqGw57YO9wU6sc5y_00cTAxVnQMaTfQOhDB4TmGg0vjYiJw7lcdw/s200/gabriela.jpg" width="200" /></a></div>
Emplacar música em trilha sonora de novelas é bom para os dois
lados. De um lado, cantor, compositor e gravadora. De outro, autor,
atores e emissora. No meio, um público satisfeito. A gravadora <i>Som
Livre</i> percebeu essa harmonia e, desde o início da década de 70,
passou a ser responsável pela criação e comercialização de
trilhas sonoras das novelas da <i>Rede Globo</i>. Três décadas
depois, em 2001, a gravadora relançou vinte trilhas nacionais de
novelas, na coleção <i>Vale a Pena Ouvir de Novo</i>, entre elas
<i>Gabriela</i>. Nos últimos dias, a <i>Globo</i> iniciou a exibição
da nova versão dessa novela, baseada em obra do escritor Jorge
Amado, cujo centenário de nascimento comemora-se este ano.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Comparações entre esta refilmagem e a <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=a5hSJqyJUUc" target="_blank">versão original de 1975</a></u></span></span> surgiram naturalmente, a
começar por quem é a “melhor” Gabriela. Um aspecto, porém, não
suscitou comparações, por ter-se mantido equivalente nas duas
versões: a trilha sonora, uma das melhores da teledramaturgia
brasileira, mantida em sua maior parte e em suas gravações
originais. Até melhorou: nove canções foram mantidas, saíram
quatro e entraram outras sete, entre elas <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=O6CQsOI2qMg" target="_blank"><i>Lamento sertanejo</i></a></u></span></span>, uma das obras-primas de Gilberto
Gil e Dominguinhos, que tem bastante a ver com o perfil do folhetim,
assim como <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=LyrE3yCjmCA&feature=related" target="_blank"><i>Tema de amor de Gabriela</i></a></u></span></span> (<i>“Chega mais
perto, moço bonito / Chega mais perto, meu raio de sol / A minha
casa é um escuro deserto / Mas com você ela é cheia de sol”</i>),
composta por Tom Jobim para a adaptação da obra para o cinema.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
O período em que foi exibida a primeira versão de <i>Gabriela</i><span style="font-size: x-small;"><i>*</i></span>
coincide com o surgimento de novos talentos na música popular
brasileira, representantes de uma geração que, se teve a difícil
missão de suceder aquela da era dos festivais, com a
responsabilidade de manter o nível, pegou a MPB já amaciada,
sobrevivente à revolução da <i>Bossa nova</i>, ao rolo compressor
da <i>Jovem guarda</i> e à sacudidela tropicalista e, por
conseguinte, mais aberta a novidades. Dessa turma, estão presentes
no disco Fafá de Belém (<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=t6Kg4Op-hz4&feature=related" target="_blank"><i>Filho da Bahia</i></a></u></span></span>), Djavan (<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=gN4oJGOYl0g" target="_blank"><i>Alegre menina</i></a></u></span></span><span style="font-size: x-small;"><i>**</i></span>) e João
Bosco (<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=p4A_5Er-HO4" target="_blank"><i>Doces olheiras</i></a></u></span></span>).
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
O disco começa com a singular interpretação de Maria Bethânia
para <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=rr2oEcFemtg" target="_blank"><i>Coração ateu</i></a></u></span></span>, de Sueli Costa (<i>“O meu coração
ateu quase acreditou / Na sua mão que não passou de um leve adeus /
Breve pássaro pousado em minha mão / Bateu asas e voou”</i>).
Como foram, quase todas, compostas especialmente para a novela,
registradas exclusivamente em sua trilha sonora, as canções de
<i>Gabriela</i> reproduzem perfeitamente a atmosfera da obra de Jorge
Amado, o que enriquece ainda mais o trabalho. Muitas delas têm a mão
de um Caymmi, melhor tradução musical do universo do escritor
baiano. De Dorival, tem <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=s-sjCyavhOg&feature=related" target="_blank"><i>Adeus</i></a></u></span></span>
(por Walker), <i>Horas</i> (por Quarteto em Cy) e o tema de abertura
da novela, <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=FBvUILjCSSc" target="_blank"><i>Modinha para Gabriela</i></a></u></span></span> (por Gal Costa). De Dori,
<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=-wrnlz6pBmM" target="_blank"><i>Porto</i></a></u></span></span>
(por MPB-4) e <i>Alegre menina</i> (por Djavan), esta em inusitada
parceria com Jorge Amado.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Moraes Moreira – à época recém-saído dos <i>Novos baianos</i>,
iniciando carreira solo -, Elomar, Alceu Valença e Geraldo Azevedo
representavam o bloco dos nordestinos que despontariam com bastante
força naquela década, no mercado musical brasileiro. A instrumental
<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=ZC9p-tQzA6o&feature=related" target="_blank"><i>Guitarra baiana</i></a></u></span></span>, de Moraes, pode não soar familiar
no nome, mas é uma das músicas mais conhecidas da trilha, que
acompanha várias cenas e é a cara da novela. O mesmo ocorre com a
também (quase) instrumental <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=vZMCDBvLigA" target="_blank"><i>São Jorge dos Ilhéus</i></a></u></span></span>, de Alceu. O compositor
pernambucano também está presente numa parceria com o conterrâneo
Geraldo Azevedo, interpretada por este, um clássico da dupla,
<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=bkNxsfFDadg" target="_blank"><i>Caravana</i></a></u></span></span>
(<i>“Corra, não pare, não pense demais, repare essas velas no
cais, que a vida é cigana, é caravana, é pedra de gelo ao sol,
degelou teus olhos tão sós, num mar de água clara”</i>).</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Para quem imagina que letra de música com conotação, digamos,
sexual ainda não existia quando nós viemos para esse mundo e ainda
não atinávamos em nada, Walter Queiroz responde com <i>Quero ver
subir, quero ver descer </i><span style="font-style: normal;">(adaptação:
D.P. / R. Santana)</span>, que contém versos bem semelhantes a
algumas canções dos dias atuais, como: <i>“A mulata é faceira,
bota a mão nas cadeiras, bota a mão nos olhinhos, bota a mão no
queixinho, bota a mão no umbiguinho, bota a mão no lelelê, cadê
você?”</i>, ou ainda: <i>“Bê-a-bá, bê-e-bé, bê-i-bi, quero
ver as cadeiras bulir”</i>. O cantor também está presente na
trilha como compositor, com <i>Filho da Bahia</i>, interpretada por
Fafá de Belém (É dele, ainda, <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=mHTAxEnDQBE" target="_blank"><i>Feijãozinho com torresmo</i></a></u></span></span>, sucesso na voz de Maria
Creuza).</div>
<div class="western" style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent; margin-bottom: 0cm;">
</div>
<hr />
<br />
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div class="western" style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">* A primeira adaptação televisual de </span><span style="font-size: x-small;"><i>Gabriela,
cravo e canela</i></span><span style="font-size: x-small;">, obra de Jorge Amado com maior
número de traduções, na verdade, foi ao ar no início da década
de 60, poucos anos depois da publicação do livro, na extinta </span><span style="font-size: x-small;"><i>TV
Tupi</i></span><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">, antes,
portanto, da versão da Rede Globo, que tinha Sônia Braga no papel
principal, de 1975.</span></span></div>
<div class="western" style="background: none repeat scroll 0% 0% transparent; margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;"><b>** </b></span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=gN4oJGOYl0g" target="_blank"><span style="font-size: x-small;"><b>Alegre menina</b></span></a></u></span></span><span style="font-size: x-small;"><b> (Jorge Amado
/ Dori Caymmi)</b></span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">O que fizeste sultão de minha alegre menina</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Palácio real lhe dei, um trono de pedrarias</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Sapato bordado a ouro, esmeraldas e rubis</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Ametista para os dedos, vestidos de diamantes</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Escravas para servi-la e um lugar no meu dossel</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">E a chamei de rainha e a chamei de rainha</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">O que fizeste sultão de minha alegre menina</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Só desejava a campina, colher as flores do mato</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Só desejava um espelho de vidro pra se mirar</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Só desejava do sol calor para bem viver</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Só desejava o luar de prata pra repousar</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Só desejava o amor dos homens pra bem amar</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Só desejava o amor dos homens pra bem amar</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">No baile real levei a tua alegre menina</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Vestida de realeza, com princesas conversou</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Com doutores praticou, dançou a dança faceira</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Bebeu o vinho mais caro, mordeu fruta estrangeira</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Entrou nos braços do rei, rainha mais verdadeira</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Entrou nos braços do rei, rainha mais verdadeira</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/eg87oFZLtM4?rel=0" width="420"></iframe>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-67913283894665900752012-06-25T10:04:00.000-03:002012-06-25T10:12:50.141-03:00Retirantes de corpo e alma<br />
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
No litoral ou no sertão, a realidade pode ser dura ou não. Seja
onde e como for, a música é uma das melhores formas de mitigar
tristezas e catalisar alegrias. Acolhe nas horas tristes, contagia
nos momentos alegres. E em se tratando de música do interior (do ser
e do estar), poucos músicos conseguiram ser tão igualmente
proficientes quanto o mestre Luiz Gonzaga e seus parceiros. Neste ano
em que se comemora o centenário de seu nascimento, ele tem sido,
merecidamente, lembrado e reverenciado. Desafortunadamente, o ano
coincide com a maior seca das últimas décadas no nordeste do país
e, ainda que nesse aspecto de forma triste, a desdita da seca
faz-nos, uma vez mais, lembrar das canções do rei do baião e de
outros compositores nordestinos.
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Patativa do Assaré narrou o drama do sertanejo, o exílio forçado e
a saudade da terra natal de forma comovente em canções como <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=tvzzNyQhGow" target="_blank"><i>Vaca Estrela e boi Fubá</i></a></u></span></span>: <i>“Hoje nas terra
do sul, longe do torrão natá / Quando eu vejo em minha frente uma
boiada passar / As água corre dos óio, começo logo a chorar /
Lembro minha vaca Estrela e o meu lindo boi Fubá / Com saudade do
Nordeste, dá vontade de aboiar”</i> e <i><a href="http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=0s4BbHxpUKY" target="_blank">Triste partida</a>*</i>: <i>“Se
arguma notícia das banda do norte / Tem ele por sorte o gosto de
ouvir / Lhe bate no peito saudade de móio / E as água nos óio
começa a cair”</i>.
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
A fé está presente em algumas canções, de temas igualmente
associados aos infortúnios que assolam o sertão: <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=12MH8Xu8ZUA" target="_blank"><i>Meu Cariri</i></a></u></span></span> (Rosil Cavalcanti / Dilu Melo) - <i>“No
meu Cariri / Quando a chuva não vem / Não fica lá ninguém /
Somente Deus ajuda”</i>, <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=23XmcnULvq4" target="_blank"><i>Último pau-de-arara</i></a></u></span></span> (Venâncio / Corumba / José
Guimarães) - <i>“Enquanto a minha vaquinha / Tiver o couro e o
osso / E puder com o chocalho / Pendurado no pescoço / Eu vou
ficando por aqui / Que Deus do céu me ajude / Quem sai da terra
natal / Em outros cantos não para / Só deixo o meu Cariri / No
último pau-de-arara”</i> - e <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=OwdgFDU_vXo" target="_blank"><i>Súplica cearense</i></a></u></span></span> (Gordurinha / Nelinho) - <i>“Senhor,
eu pedi para o sol se esconder um tiquinho / Pedi pra chover, mas
chover de mansinho / Pra ver se nascia uma planta no chão / Oh!
Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe / Eu acho que a
culpa foi / Desse pobre que nem sabe fazer oração”</i>.
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Dentre as letras de canções que narram o martírio do sertanejo
diante da seca, há aquelas que, mesmo retratando de forma fiel o
drama, encerram mensagens de esperança e otimismo, muitas delas
compostas por Gonzaga e seus parceiros. É o caso dos versos finais
da pungente <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=Oh-i7oir72w" target="_blank"><i>Asa branca</i></a></u></span></span> (com Humberto Teixeira) - <i>“Quando
o verde dos teus olhos / Se espalhar na plantação / Eu te asseguro
não chore não, viu / Que eu voltarei, viu, meu coração”</i> -,
os quais sugerem a esperança do retorno (à terra natal e aos braços
da amada), concretizada em <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=whKGCQiD7iY" target="_blank"><i>A volta da asa branca</i></a></u></span></span><i>*</i><span style="font-style: normal;">*</span>
(com Zé Dantas).</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Os brasileiros do litoral, nordestinos em particular, ao mesmo tempo
em que possuem uma visão distanciada e vivem realidade distinta
daquela encontrada no sertão, tem laços afetivos que os unem àquela
região, reforçados por meio da música (e da literatura), a qual
externa tanto o fascínio pela beleza do lugar ou o jeito de sua
gente, quanto a identificação com suas dificuldades. Seguindo uma
trilha sonora, as coisas do sertão correm pro mar, assim como o
riacho do navio.
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
O poeta português Fernando Pessoa, um retirante de alma, em um de
seus poemas, fala da necessidade de estar fora de si: <i>“Sou um
evadido. Logo que nasci, fecharam-me em mim. Ah, mas eu fugi”</i>.
Esse mesmo espírito, essa fuga do interior (do ser) – afora as
ligações afetivas - é o que conduz o peixe urbano nordestino pela
trilha contrária, rumo ao interior (do estar), saindo do mar pro
riacho do navio.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
É assim que nós, meros habitantes das cidades grandes, retirantes
de alma, ficamos aparvalhados e embevecidos com comparações,
analogias e metáforas dignas de mestre, que ninguém das terras
civilizadas faria com tanta perfeição, simplicidade e precisão,
como: <i>“Quando eu vim do sertão, seu moço, do meu Bodocó, a
malota era um saco e o cadeado era um nó”</i>, <i>“Automóvel lá
nem se sabe se é homem ou se é mulher”</i>, <i>“Tua saia,
Bastiana, termina muito cedo, tua blusa, Bastiana, começa muito
tarde”</i>. É isso, falar mais o quê?</div>
<hr />
<br />
<span style="font-size: x-small;"><b>* Triste partida (Patativa do Assaré)
</b></span><br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/0s4BbHxpUKY?rel=0" width="420"></iframe>
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;"><b>** A volta da asa branca (Luiz Gonzaga / Zé Dantas)</b></span>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;">Já faz três noites que pro norte relampeia</span><br />
<span style="font-size: x-small;">E a asa branca ouvindo o ronco do trovão</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Já bateu asas e voltou pro meu sertão</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Ai, ai, eu vou me embora, vou cuidar da prantação</span>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;">A seca fez eu desertar da minha terra</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Mas felizmente Deus agora se alembrou</span><br />
<span style="font-size: x-small;">De mandar chuva pr'esse sertão sofredor</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Sertão das muié séria, dos home trabaiador</span>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;">Rios correndo as cachoeira tão zoando</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Terra moiada, mato verde, que riqueza</span><br />
<span style="font-size: x-small;">E a asa branca tarde canta, que beleza</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Ai, ai, o povo alegre, mais alegre a natureza</span>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;">Sentindo a chuva, me arrecordo de Rosinha</span><br />
<span style="font-size: x-small;">A linda flor do meu sertão pernambucano</span><br />
<span style="font-size: x-small;">E se a safra não atrapaiá meus prano</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Que é que há, oh seu vigário, vou casar no fim do ano</span>
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/whKGCQiD7iY?rel=0" width="420"></iframe>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-56614946028177102162012-05-27T23:42:00.000-03:002012-05-27T23:42:11.073-03:00Anos dançantes<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5ATfIOJus8I7AlElbhx0qSdtRAC-6PsXEDjfaCRVgflzyIrlJOFrIn7GxwiHY9QxE02znBxJqDR1rZiSAr6zH-u6sMtt1CPxJ9kAWUZqmtCxTIJsmDVSsy2SN8ObtgqbfmXCoyQ/s1600/70.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5ATfIOJus8I7AlElbhx0qSdtRAC-6PsXEDjfaCRVgflzyIrlJOFrIn7GxwiHY9QxE02znBxJqDR1rZiSAr6zH-u6sMtt1CPxJ9kAWUZqmtCxTIJsmDVSsy2SN8ObtgqbfmXCoyQ/s200/70.jpg" width="200" /></a></div>
Nos anos 70, vários talentos que despontaram na década anterior e
mudaram os rumos de nossa música, como Chico Buarque, Caetano
Veloso, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Elis Regina,
Rita Lee, Edu Lobo, Maria Bethânia, Gal Costa e outros, atingiam o
auge de suas carreiras, numa profusão de trabalhos impecáveis. Na
segunda metade dessa década, porém, uma onda vinda do exterior
passou a dividir os acordes com essa música popular brasileira que
se encontrava num de seus períodos mais férteis e de maior
qualidade: a <i>disco music</i><span style="font-style: normal;">,
inspirada</span> na <i>black music</i>, mas sem uma identificação
exclusiva com o movimento negro.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=xaZim6ybvdA" target="_blank">Donna Summer</a></u></span></span>, <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=ZBR2G-iI3-I" target="_blank">Gloria Gaynor</a></u></span></span> e os grupos <i>Abba</i> e <i>Bee Gees</i>
foram alguns de seus maiores expoentes. As músicas, recheadas de
mensagens otimistas, falavam de superação, de dança e movimento.
Nas letras em inglês, era bem comum o uso dos verbos <i>dance</i>
(dançar) e <i>shake </i><span style="font-style: normal;">(agitar,
balançar)</span>: <i>You can dance, you can jive, having the time of
your life</i> (<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=eqWubMAufLk&feature=fvwrel" target="_blank"><i>Dancing queen</i></a></u></span></span><i> - Abba</i>), <i>There is movement
all around (…) On the waves of the air, there is dancin' out there</i>
(<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=-ihs-vT9T3Q&ob=av2e" target="_blank"><i>Night fever</i></a></u></span></span><i> – Bee Gees</i>), <i>Feel the
city breakin' and everybody shakin' and you're stayin' alive</i>
(<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=gcPdzsL0kMQ" target="_blank"><i>Staying alive</i></a></u></span></span><i> – Bee Gees</i>), <i>Let's dance,
this last dance tonight</i> (<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=HKuq6wdC8CU&feature=related" target="_blank"><i>Last dance</i></a></u></span></span><i> – Donna Summer</i>). E mais: <i>You
should be dancing, Shake your booty, Dance and shake your tambourine</i>.
Mas as letras eram o que menos importava...
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Interessante, também, certas considerações de gênero nas letras
de algumas canções, em se tratando de um estilo marcado justamente
pela quebra de paradigmas que reforçam as diferenças sexuais, seja
no comportamento, no vestuário ou mesmo na dança, sem a figura do
homem como condutor. Considerações como <a href="http://www.youtube.com/watch?v=NmATu9xa9p0" target="_blank"><i>I'm so glad that I'm a woman</i></a> e <a href="http://www.youtube.com/watch?v=AO43p2Wqc08" target="_blank"><i>I've got to be a macho man</i></a><span style="font-style: normal;">
conviviam em harmonia e davam a deixa: </span><i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=d89h5jLF0k0&feature=related" target="_blank">I am what I am and what I am needs no excuses</a>.</i> Estávamos conversados.
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Assim como a <i>Jovem Guarda</i> foi inspirada num estilo que veio de
fora do país e representou um contraponto a composições mais
elaboradas da MPB, o mesmo ocorreu na década seguinte, com a chamada
<i>disco music</i>, embora a variante local deste estilo,
representada por nomes como <i>As Frenéticas</i>, Lady Zu e Miss
Lene, tenha sido bem menos forte do que aquela do movimento dos anos
60. Por aqui, o estilo musical representou, também, o fim da era das
músicas políticas ou de protesto e abriu as portas para os menos
políticos, mas não menos extravagantes anos 80, cujas calças <i>bag</i>,
camisas coloridas e ombreiras devem muito às meias coloridas de
lurex, saltos plataforma e calças boca-de-sino dos 70.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
As novas tribos de então, em meio a sinais de fumaça de gelo seco,
queriam apenas cair na gandaia. Em vez de boate ou balada,
discotecas, como a <i>Studio 54</i>, de Nova York, EUA e, aqui no
Brasil, a <i>Dancin' days</i>, do Rio de Janeiro. A<span style="font-style: normal;">
casa noturna carioca,</span> de propriedade do produtor musical
Nelson Motta e citada por Caetano Veloso em <i>Tigresa</i> – uma
ode à atriz Sônia Braga (… <i>Que gostava de política em mil
novecentos e sessenta e seis e hoje dança no frenetic Dancin' days</i>)
– equivalia ao que representou o <i>Circo Voador</i>, também no
Rio, para os anos 80 e inspirou uma canção homônima (do próprio
Nelson Motta), síntese do lema da casa, <i>“dance bem, dance mal,
dance sem parar”</i>.
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
A discoteca inspirou a música e ambas inspiraram uma novela da <i>Rede
Globo</i> que marcou época, <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=6LdanJa425M" target="_blank"><i>Dancin' days</i></a></u></span></span> (1978), de Gilberto Braga, com Sônia
Braga como protagonista, cuja trilha internacional era repleta de
sucessos das pistas de dança e cujo tema de abertura era a citada
canção de Nelson Motta, de mesmo nome, interpretada por um grupo
musical criado por ele, <i>As Frenéticas</i>. O grupo era formado
apenas por mulheres, que trabalhavam como garçonetes na referida
casa, entre elas Regina Chaves, que foi casada com Chico Anysio,
Sandra Pêra, irmã da atriz Marília Pêra e cunhada de Nelson Motta
e Duh Moraes, para os mais novos, a tia Nastácia da versão mais
recente do <i>Sítio do Picapau Amarelo</i>.
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
O ritmo das discotecas inspirava danças e coreografias que, cada vez
mais, passavam a fazer parte do pacote musical. No cinema, os
musicais <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.dailymotion.com/video/x8n648_donna-summer-last-dance-thank-god-i_fun" target="_blank"><i>Até que enfim é sexta-feira</i></a></u></span></span> (1978), com Donna
Summer no elenco e na trilha sonora (<i>Oscar</i> de melhor canção
com <i>Last dance</i>) e, principalmente, <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=yhsjRL2O64g&feature=related" target="_blank"><i>Os embalos de sábado à noite</i></a></u></span></span> (1977), com
várias canções do grupo <i>Bee Gees</i> e que revelou o talento de
John Travolta como dançarino, ajudaram a consolidar o ritmo dos fins
de semana ao redor do mundo. Estava escrito para a posteridade, em
letras de <span style="font-style: normal;">néon</span>: há mais
coisas entre os requebros de Elvis e os de Madonna do que supõe a van de
Ed Motta.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<hr />
*<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/0Iy7__AcDbY?rel=0" width="420"></iframe>
<br />
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-4906581581246927532012-05-12T21:39:00.000-03:002012-05-12T22:17:18.635-03:00Laralaísmos<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-style: normal;">Li,
certa vez, texto que exaltava o </span><span style="font-style: normal;"><i>laralaiá
</i></span><span style="font-style: normal;">e
suas variações - presentes em várias de nossas canções populares
- </span><span style="font-style: normal;">e
mencionava suas ligações mais fortes com o samba</span><span style="font-style: normal;">.
Nas palavras do autor, Daniel Brazil, </span><span style="font-style: normal;"><i>“Não
são aqueles laralaiás que só substituem trechos da letra, mas que
tem melodia própria, personalidade e autonomia. Momentos em que o
compositor pára, pensa, e diz: - Aqui vou colocar um laralaiá de
responsa, pra todo mundo cantar!”</i></span><span style="font-style: normal;">.
O artigo falava de </span><span style="font-style: normal;"><i>laralaiás</i></span><span style="font-style: normal;">
clássicos, como os de Chico Buarque em </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=yQZ65SkiSKI&feature=fvst" target="_blank"><span style="font-style: normal;"><i>Quem te viu, quem te vê</i></span></a><span style="font-style: normal;">:
</span><span style="font-style: normal;"><i>Hoje
o samba saiu, laralaiá</i></span><span style="font-style: normal;">e
</span><span style="font-style: normal;"><i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=PY320gfpTCA" target="_blank">Minha história</a>: Minha mãe se entregou a esse homem perdidamente,
laialaiá </i></span><span style="font-style: normal;">(este,
segundo o texto, só existe na versão em português da canção
original italiana). </span><span style="font-style: normal;">O
assunto é bem interessante e dá muitos panos pras mangas musicais,
então, vamos lá laralaiá...</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-style: normal;">Além
do artifício óbvio de cobrir trechos de letras de canções
olvidados por nossos ouvidos, o </span><i>laralaiá</i><span style="font-style: normal;">
</span>e outros termos afins, em geral, suavizam as canções e
tornam a interpretação musical menos automática, mecânica e mais
emocional, natural, humana, sendo esta sua principal função. E é
justamente essa proximidade com o humano e suas emoções que nos
toca. A arte imitando a vida. <span style="font-style: normal;">Ao
mesmo tempo, o </span><i>laralaísmo</i><span style="font-style: normal;">
é o que mais diferencia o canto da linguagem falada. Afinal, ninguém
costuma dizer coisas do tipo: </span><i>“passa o açúcar, lalalá”</i><span style="font-style: normal;">
(nem em jantar dançante).</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-style: normal;">N</span><span style="font-style: normal;">esse
aspecto de expressar sentimentos, o recurso do </span><i>laralaiá</i><span style="font-style: normal;">
tem função semelhante às interjeições, os </span><i>ais</i><span style="font-style: normal;">
e </span><i>uis,</i><span style="font-style: normal;"> igualmente
comuns em canções (</span><i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=oFmFqzN1s-A" target="_blank">As rosas não falam</a>, simplesmente as rosas exalam o perfume que
roubam de ti, ai),</i><span style="font-style: normal;"> em que
cumprem a função de cobrir ou completar trechos melódicos com
propriedade e poesia. Como canta Geraldo Azevedo, </span><span style="font-style: normal;">“</span><i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=3AUVmmqzERY" target="_blank">O charme das canções</a> são suas frases banais, são seus ais, seus
uis e ão”*</i><span style="font-style: normal;">. Tais interjeições
estão até em nome de música, como </span><i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=HV7QNFkr-SQ&ob=av2e" target="_blank">Ai ai ai</a>,</i><span style="font-style: normal;"> de Vanessa da Mata e
</span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=DK58bsqqexI" target="_blank"><i>ôÔÔôôÔôÔ</i></a><span style="font-style: normal;">,
de Thaís Gulin.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Quando entoado no
começo, o <i>laralaiá</i> dá o tom da canção, não apenas no
sentido musical, mas quanto a seu estilo. É o que acontece, por
exemplo, em <a href="http://www.youtube.com/watch?v=gVmmgvgB8Ms&feature=related" target="_blank">Caminhando (Pra não dizer quenão falei das flores)</a><span style="font-style: normal;">,
em que </span>o tom de protesto que a canção carrega nos versos
seguintes é suavizado pelo <i>laralaiá</i> inicial de Geraldo
Vandré. Chico Buarque, em <a href="http://www.youtube.com/watch?v=M7Ej1bSIMzs" target="_blank"><i>Se eu soubesse</i></a>, utiliza-o como uma forma mais criativa de<span style="font-style: normal;">
reticências, que incorpora rima e cadência: </span><i>Mas acontece
que eu saí por aí e aí, larari, lariri</i><span style="font-style: normal;">,
enquanto o de Vinícius de Moraes, em </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=XTxCrTJn8GU" target="_blank"><i>Pela luz dos olhos teus</i></a><span style="font-style: normal;">, é
substantivado, com uso dos mesmos requintes: </span><i>Meu amor juro
por Deus que a luz dos olhos meus já não pode esperar / Quero a luz
dos olhos meus na luz dos olhos teus sem mais lararará</i><span style="font-style: normal;">.
</span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-style: normal;">Em
</span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=AlGKxvcNQQA" target="_blank"><i>Prometemos não chorar</i></a><span style="font-style: normal;">, clássico do
brega, o </span><i>lá lalalá lalá</i><span style="font-style: normal;">
permeia toda a música, em meio a um chororô não prometido, mas
cumprido e a comentários esnobes da fria figura masculina
incorporada pelo cantor Barros de Alencar. Dorival Caymmi e Luiz
Gonzaga, gênios da simplicidade, também utilizaram com propriedade
esses elementos em suas canções, vide </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=X7Y8bUMXqkY&feature=fvst" target="_blank"><i>Saudade da Bahia</i></a><span style="font-style: normal;">: </span><i>Ai, ai,
que saudade eu tenho da Bahia</i><span style="font-style: normal;">,
do primeiro ou </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=NWdYHnz_80w" target="_blank"><i>Estrada de Canindé</i></a><span style="font-style: normal;">: </span><i>Ai,
ai, que bom, que bom, que bom que é..., <a href="http://www.youtube.com/watch?v=BhR69sZ5VH4" target="_blank">A triste partida</a></i><span style="font-style: normal;">
(</span><span style="font-style: normal;"></span><i>Faz
pena o nortista, tão forte, tão bravo, viver como escravo no norte
e no sul, ai, ai, ai, ai</i><span style="font-style: normal;">)</span> <span style="font-style: normal;">e o </span><i>laiá laiá laiá laiá</i><span style="font-style: normal;">
do refrão de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=raTNK09E0uY" target="_blank"><i>Qui nem jiló</i></a><span style="font-style: normal;">, do segundo. </span><span style="font-style: normal;"></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
O <i>yeah</i> está
mais ligado à linguagem <i>pop</i>, mais universal, como em <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=QoF-7VMMihA" target="_blank">She loves you</a> </i>(<i>yeah, yeah, yeah</i>), dos <i>Beatles</i>. Por
aqui, foi bem empregado, por exemplo, em <a href="http://www.youtube.com/watch?v=pLDLL0Y3vFc" target="_blank"><i>Fácil</i></a>,
do grupo <i>Jota Quest</i>: <i>Um dia feliz, às vezes, é muito
raro, yeeeeeeah. </i><span style="font-style: normal;">Algumas
variações do </span><i>laralaiá</i><span style="font-style: normal;">
são, também, universais e caem bem noutras línguas. O </span><i>lailalai</i><span style="font-style: normal;">
do refrão de </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=rIbUeBf-2Tk" target="_blank"><i>The boxer</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">
(Simon & Garfunkel), por exemplo, toca mais fundo do que qualquer
verso que viesse a estar em seu lugar. O mesmo aplica-se ao </span><i>lalalá</i><span style="font-style: normal;">
(ou </span><i>nananá</i><span style="font-style: normal;">) final de
</span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=wM0IDLAntVM" target="_blank"><i>Hey Jude</i></a><span style="font-style: normal;">, que encerra o sentido
metafórico da letra, de deixar uma canção penetrar no coração e,
assim, torná-la melhor </span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-style: normal;">Roberto
Carlos, com o fim da </span><i>Jovem Guarda</i><span style="font-style: normal;">,
rompeu a fronteira entre o </span><i>iê iê iê</i><span style="font-style: normal;">
(ou </span><i>yeah yeah yeah</i><span style="font-style: normal;">) e
o </span><i>laralaiá</i><span style="font-style: normal;">, logo no
início dos anos 70, na introdução de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=0RzLVWosIfE" target="_blank"><i>Todos estão surdos</i></a><span style="font-style: normal;">. Anos depois,
em </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=uZMjTU9jBDE" target="_blank"><i>Guerra dos meninos</i></a><span style="font-style: normal;">, usou deste
artifício como uma canção dentro da canção: </span><i>Quando em
minha porta alguém tocou / Sem que ela se abrisse ele entrou / E era
algo tão divino, luz em forma de menino / Que uma canção me
ensinou / lá lá lá lá lá lá</i><span style="font-style: normal;">. </span><span style="font-style: normal;">Nosso
saudoso e amado mestre Chico Anysio exalta, em </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=2q5zgzxqol8&feature=player_embedded" target="_blank">Rio antigo (Como nos velhos tempos)</a><span style="font-style: normal;">:
</span><i>O Lamartine me ensinando um lalalalalá gostoso</i><span style="font-style: normal;">
e termina essa ode maravilhosa à cidade idem com outro </span><i>laraiá</i><span style="font-style: normal;">,
igualmente inspirado, que fecha a música com clave de ouro. </span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Dentre as opções, os
<i>ais</i> são especiais e bem luso-brasileiros. O <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.dicionarioinformal.com.br/" target="_blank">dicionário inFormal</a></u></span></span>, que se apresenta como um dicionário
<i>on-line</i> de português onde as palavras são definidas pelos
usuários, faz curiosa referência à diferença entre <i>ai, ai</i>
- geralmente usado em situações de conforto ou prazer – e <i>ai,
ai, ai</i> ou <i>ai, ai, ai, ai, ai</i>, em geral usados para
alertar, indicar cuidado ou mesmo recriminar. De fato, em <a href="http://www.youtube.com/watch?v=WHvNqQ-Q5ao" target="_blank"><i>Ive Brussel</i></a>, de Jorge (ainda) Ben, os <i>ais</i> repetidos,
adquirem uma conotação de prazer: <i>Que naquele dia você foi
tudo, foi demais pra mim, ai, ai</i>. Sozinho, o <i>ai</i> remete a
desejo, lamento: <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=HiN5AqGaSM8" target="_blank">Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal</a> / <a href="http://www.youtube.com/watch?v=Bw11ZuYN_Us" target="_blank">Ai, que saudade d'ocê</a></i>. Em linguagem atual: <i>ai, se eu te pego</i>
é diferente de <i>ai, ai, se eu te pego</i>, a primeira expressão,
um anseio, a segunda, um devaneio.</div>
<br />
<hr />
<br />
<span style="font-size: x-small;"><b>* O charme das canções (uis e ais) (Geraldo Azevedo / Capinan)</b></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-size: x-small;">O charme das canções</span><br />
<span style="font-size: x-small;">São suas frases banais</span><br />
<span style="font-size: x-small;">São seus ais, seus uis e ão</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Coisa de fazer sorrir</span><br />
<span style="font-size: x-small;">A triste noiva do faquir</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Coisa de fazer sonhar</span><br />
<span style="font-size: x-small;">A moça do novo andar</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Coisa de fazer parar</span><br />
<span style="font-size: x-small;">O chofer do caminhão</span><br />
<span style="font-size: x-small;">São seus ão meus ais e uis</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Coisa de fazer chorar</span><br />
<span style="font-size: x-small;">A natureza morta</span><br />
<span style="font-size: x-small;">O charme das canções</span><br />
<span style="font-size: x-small;">São eu te amo</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Tua traição teus punhais</span><br />
<span style="font-size: x-small;">E ai, Jesus, são seus uis</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Meus ão e ais</span><br />
<span style="font-size: x-small;">São Jamais, jasmins ou nunca</span><br />
<span style="font-size: x-small;">São nunca mais ou querer teus beijos</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Ou serão teus beijos, sempre</span><br />
<span style="font-size: x-small;">E sempre mais</span><br />
<span style="font-size: x-small;">São seus ais, seus uis e ão</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Coisas que entortam</span><br />
<span style="font-size: x-small;">Um certo coração</span><br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/3AUVmmqzERY?rel=0" width="420"></iframe>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-64464077289647218332012-04-26T22:27:00.000-03:002012-05-22T23:07:45.297-03:00Arruda fields forever(O sonho não acabou)<br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAVKxp35PgiWpp-TW32fouv1EERfO5OWYLV1HqpVKTE5MHqEf-O1mxMFV2eyzj58FlwtHLaW2CDponxwZCHXOPTajG45RzKLlvXyRK6Byi0F_NimAwTEPM2O4NTGyruXY6MkG9XA/s1600/paul.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="263" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAVKxp35PgiWpp-TW32fouv1EERfO5OWYLV1HqpVKTE5MHqEf-O1mxMFV2eyzj58FlwtHLaW2CDponxwZCHXOPTajG45RzKLlvXyRK6Byi0F_NimAwTEPM2O4NTGyruXY6MkG9XA/s400/paul.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Naquele dia, acordei
com o som de um carro tocando algo no estilo <i>tchê tchererê tchê
tchê</i> em altos decibéis e pensei, ainda atordoado: é um sonho
ou estarei, logo mais, frente a frente com um ex-beatle? Depois de
Ringo Starr, cri que minha cota de <i>beatles</i> a domicílio
tinha-se esgotado, já que achava impossível uma vinda de Paul
McCartney ao nordeste brasileiro. E os demais, John Lennon e George
Harrison, ainda que não menos atraentes, eu não queria ver tão
cedo...
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Anos atrás, não
imaginaria estar a menos de sete mil quilômetros de distância de
Paul. Ele não viria ao Brasil. Veio. Refiz os cálculos e passei,
então, a imaginar que a distância entre nós nunca seria menor do
que dois mil quilômetros. Ele não sairia do eixo Rio-São Paulo.
Saiu. Por alguns dias, estive a menos de três quilômetros dele. Por
algumas horas, a menos de cem metros. Por alguns segundos, a menos de
três metros. Uma longa e sinuosa estrada levou-me ao campo. Segui
caminhando, sem preocupações, olhando aquelas pessoas solitárias,
sem saber de onde vinham. Chegando lá, embaixo do céu azul
suburbano, senti algo que não pude esconder. Todos os meus problemas
pareciam bem distantes. Só aguardava esse momento pra ser livre.
Noites solitárias nunca mais. <i>Arruda Fields Forever</i>.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Embaixo do céu
suburbano e estrelado, eis que surgiu mais uma estrela, a maior da
música pop mundial, cujo brilho fez-se ainda mais intenso por sua
disposição e simpatia demonstrados ao longo do show e em toda sua
estada na capital pernambucana. De dentro do carro que o levava,
vidro aberto, acenou para o público, na chegada ao estádio do
Arruda (os três metros de que falei acima), entrou e saiu do hotel
sempre pela porta da frente, posou para fotos com policiais militares
que iriam trabalhar durante o show, distribuiu autógrafos, levou
gente ao palco e interagiu com o público durante incríveis três
horas de um espetáculo pontual (quase quarenta canções, com
algumas variações do primeiro para o segundo dia), entre várias
outras demonstrações de gentileza.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Não sabia que seria
possível admirá-lo ainda mais. Vê-lo cantar <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=the-beatles--all-my-loving-040264D0B963C6" target="_blank"><i>All my loving</i></a></u></span></span>, logo nos primeiros minutos da
apresentação, vestido com o mesmo modelo de terno, tocando baixo do
mesmo jeito, com os mesmos movimentos corporais do passado e com
imagens dos <i>Beatles</i> no fundo do palco foi uma experiência
encantadora. Sensação semelhante a visitar um lugar que se conhecia
apenas, mas intensamente, dos livros de história. Outros arroubos
foram <a href="http://www.youtube.com/watch?v=k9Itt02QOO0" target="_blank"><i>Eleanor Rigby</i></a>, <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://vimeo.com/32768461" target="_blank"><i>Yesterday</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">
ao violão, no segundo bis e, da fase pós-</span><i>Beatles </i><span style="font-style: normal;">(com
o grupo </span><i>Wings)</i><span style="font-style: normal;">, </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://vimeo.com/22165883" target="_blank"><i>Band on the run</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">
e </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://vimeo.com/31630497" target="_blank"><i>Live and let die</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">,
com belos efeitos especiais.</span> <i>Empaulgação</i> ilimitada,
para quem presenciava um momento histórico.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Ao piano, Paul cantou
três de suas mais belas canções: <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.dailymotion.com/video/xtr5_beatles-hey-jude_music" target="_blank"><i>Hey Jude</i></a></u></span></span>, <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://mais.uol.com.br/view/qnke4kgfrrpk/the-beatles--let-it-be-04023960C4C17346?types=A" target="_blank"><i>Let it be</i></a></u></span></span><i> </i><span style="font-style: normal;">e</span><i>
</i><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.dailymotion.com/video/x9wnlm_the-beatles-the-long-and-winding-ro_music?search_algo=1" target="_blank"><i>The long and winding road</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">.
Sobre esta, o cantor revelou, em </span><i>Many years from now</i><span style="font-style: normal;">
(Barry Miles, 1997), sua biografia autorizada: </span><i>“É uma
canção triste, porque fala do inatingível. (…) É a estrada em
que nunca se chega ao fim.”</i><span style="font-style: normal;"> e
confessou: </span><i>“Gosto de compor músicas tristes”</i><span style="font-style: normal;">.
Neste mesmo livro, ele citou Bach como um dos compositores prediletos
dos </span><i>Beatles</i><span style="font-style: normal;"> e uma de
suas fontes de inspiração, como na canção </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=BrxZhWCAuQw&feature=related" target="_blank"><i>Blackbird</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">,
também cantada no Arrudão, que alude à luta dos negros americanos
por direitos civis e lembrou-me, também, o nosso Íbis. Vê-se que a
boa qualidade harmônica e melódica das 'músicas tristes' dos
rapazes de Liverpool não era casual.</span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Reverências aos
ex-companheiros de banda – John, George e Ringo – e de vida –
Linda e Nancy – foram mais alguns dos inúmeros momentos marcantes
da apresentação. George Harrison foi homenageado com algo do que
fez de melhor: <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://vimeo.com/33252497" target="_blank"><i>Something</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">,
Ringo com </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://vimeo.com/32024379" target="_blank"><i>Yellow submarine</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">
e Lennon com </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=LGKCxvBE7wQ" target="_blank"><i>Here today</i></a></u></span></span><span style="font-style: normal;">,
composta por Paul como um tributo ao companheiro. </span><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://vimeo.com/40377990" target="_blank"><i>My valentine</i></a></u></span></span><i> </i><span style="font-style: normal;">*,
canção que fez para Nancy, sua atual esposa e que está em seu novo
disco </span><i>Kisses on the bottom</i><span style="font-style: normal;">,
mostra que o </span><i>gentleman</i><span style="font-style: normal;">
Paul não perdeu a fórmula da boa música. </span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Em <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://revistaepoca.globo.com/vida/noticia/2012/04/paul-mccartney-nao-ha-mais-conflito-de-geracoes.html" target="_blank">entrevista à revista Época</a></u></span></span>, dias antes do show, Paul
McCartney fez interessante comparação entre o público que o
prestigiava no tempo dos Beatles e o atual: <i>“Percebo que o
público que vem aos shows hoje é formado por crianças,
adolescentes e adultos. É engraçado porque, no tempo dos Beatles,
as coisas eram muito diferentes. A gente cantava rock para jovens que
expressavam por meio da música sua rebeldia em relação aos pais.
Era o conflito de gerações típico dos anos 1960. Hoje não há
mais conflito de gerações. As famílias vão aos concertos de rock.
(...) Sinto-me muito bem nessa situação que talvez parecesse
excêntrica há 50 anos, porque sou um sujeito bem família”</i>.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Essa diversidade de
público foi perceptível no show do Arruda, em que seus fãs de
carteirinha portavam desde as estudantis até as de idosos. Em se
tratando de show em estádio, o som pareceu impecável e o cuidado
com este aspecto em suas apresentações também foi frisado por Paul
nessa entrevista. Quanto ao fato de apresentar-se no Recife e em
Florianópolis, ele afirmou que, desde a época dos Beatles, sempre
quis ir aos mais diversos lugares, o que nem sempre foi possível.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
A predisposição do
cantor, aliada ao crescimento econômico do Brasil - mais
especificamente, do nordeste do país – e a consequente e crescente
percepção, por parte de produtores musicais, de que o mundo não
gira apenas em torno do eixo Rio-São Paulo, tornou possível este
acontecimento inédito e inesquecível. Como disse um amigo, impossível ficar em casa sabendo que Paul estaria
tocando aqui perto. Para mim e demais torcedores do Santa Cruz
presentes, assistir ao show do ídolo em casa foi um privilégio
ainda maior.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<hr />
<span style="font-size: x-small;">* My valentine (Paul McCartney)</span><br />
<iframe width="420" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/pGLBkjGtZBg?rel=0" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-63790901963601836542012-04-01T15:11:00.000-03:002012-04-01T15:13:58.035-03:00Raul toca<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: x-small;">Eu devia estar sorrindo e orgulhoso por ter
finalmente vencido na vida, mas eu acho isso uma grande piada e um
tanto quanto perigosa” (Raul Seixas)</span></div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikx1N1L49lH1-Ch3dbHeAW0sbCnp8alk4ZJndRcqL9KMYShJv2Hi_Ucjcps6TcQfcJdLEIH2wRoZb_1ayXMKi7WbAgFwr-60bSL5L0TieVl6k-bZ22yVbM2WYXEY9TyzRgq6psxA/s1600/raul.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikx1N1L49lH1-Ch3dbHeAW0sbCnp8alk4ZJndRcqL9KMYShJv2Hi_Ucjcps6TcQfcJdLEIH2wRoZb_1ayXMKi7WbAgFwr-60bSL5L0TieVl6k-bZ22yVbM2WYXEY9TyzRgq6psxA/s320/raul.jpg" width="156" /></a></div>
Abrindo as portas de abril, que se apresenta como mês promissor para
os apreciadores da música pop(ular) em vários gêneros, com shows
especiais como Maria Rita interpretando Elis Regina, o retorno do
grupo <i>Los Hermanos</i>, nova turnê brasileira de Paul McCartney e
novo show de Chico Buarque, entrou em cartaz nos cinemas nacionais o
filme <a href="http://www.raulseixasofilme.com.br/" target="_blank"><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><i>RaulSeixas – O início, o fim e o meio</i></u></span></span></a>, de
Walter Carvalho (<i>Cazuza – O tempo não para</i><span style="font-style: normal;">,</span><i>
Budapeste</i>).
<br />
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
No filme, a carreira do cantor e compositor baiano é mostrada em
interessante paralelo com seus relacionamentos afetivos, dos quais,
em meio a depoimentos de amigos, admiradores e parceiros, os
testemunhos de parentes são os mais reveladores. Dentre as mulheres
com quem o músico viveu, apenas a primeira não quis ser
entrevistada: escreveu uma carta, em que afirma não querer falar no
assunto. As demais companheiras, bem como suas filhas, referem-se a
ele de forma, em geral, carinhosa. Uma das mulheres apresenta o neto
adolescente do maluco beleza, nascido nos EUA, como o filho que Raul
não teve. A semelhança entre avô e neto impressiona.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<i>O início</i> – Nos anos 60, contagiado pela onda roqueira que
assolava o mundo e o país, Raul Seixas aproximou-se de um dos
destaques da <i>Jovem Guarda</i>, Jerry Adriani, a quem acompanhou em
shows. Pouco depois, lançou seu primeiro disco, <i>Raulzito e os
Panteras</i> e trabalhou, também, como produtor musical. No início
dos anos 70, lançou outro trabalho, junto com Sérgio Sampaio,
Miriam Batucada e Edy Star: <i>Sociedade da grã-ordem kavernista
apresenta sessão das dez</i>.
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<i>O fim</i> – O filme de Walter Carvalho aborda, por meio de
depoimentos e imagens, um aspecto polêmico do final da carreira de
Raul Seixas, em que ele aproximou-se do também cantor e compositor
Marcelo Nova, ex-vocalista e líder da banda <i>Camisa de Vênus</i>.
A discussão deu-se em relação ao comportamento de Marcelo Nova,
visto por uns como oportunista - que estaria se aproveitando da fama
de Raul - e por outros como solidário, que o estaria ajudando, num
momento em que ele estava debilitado e um tanto esquecido.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<i>O meio</i> - Em 1973/74, Raul Seixas fez dois de seus melhores e
mais destacados discos, <i>Krig-ha Bandolo </i><span style="font-style: normal;">e</span><i>
Gita</i>, que têm no repertório vários de seus clássicos:
<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=7VE6PNwmr9g" target="_blank"><i>Metamorfose ambulante</i></a></u></span></span><i>, </i><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=vV21CaatJ14" target="_blank"><i>Medo da chuva</i></a></u></span></span><i>, Mosca na sopa, </i><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=isGCtqPdcg0" target="_blank"><i>Sociedade alternativa</i></a></u></span></span><i>, </i><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=JTaim6jUio8&feature=related" target="_blank"><i>O trem das sete</i></a></u></span></span><i>, </i><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=cn0S56WPkjQ" target="_blank"><i>Ouro de tolo</i></a></u></span></span><i> e </i><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=0OanzTYmX2Q&feature=related" target="_blank"><i>Gita</i></a></u></span></span>,
as três últimas também gravadas por Zé Ramalho (fez um disco
inteiro cantando Raul), Caetano Veloso e Maria Bethânia,
respectivamente. Neles, teve início sua parceria com Paulo Coelho,
que duraria até perto do final da década, com algumas canções de
<span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=3FXjSakwToA&feature=related" target="_blank"><i>Mata virgem</i></a></u></span></span>* (78). Nessa época, as trilhas
sonoras nacionais das novelas da Globo eram encomendadas a um único
artista ou grupo e, não bastassem os dois citados discos, as canções
de <i>O rebu</i> (1974) ficaram a cargo da prolífica dupla.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
A irreverência, característica tão agradável aos olhos infantis,
ajuda a explicar a empatia que certos grupos musicais despertam nas
crianças ao longo do tempo. Essa irreverência é percebida não só
na obra do conjunto - a música em si -, mas no conjunto da obra - as
atitudes, a postura, a aparência, as vestimentas dos músicos. Na
década de 70, esse comportamento foi visto, de forma mais intensa,
tanto nos <i>Secos & Molhados, </i>como em Raul Seixas. Duas das
composições que mais marcaram os infantes daquela geração vieram
deles: <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=vDvjecJOpa4" target="_blank"><i>O vira</i></a></u></span></span>, dos primeiros e <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=fi2vh_uP3Rk" target="_blank"><i>Mosca na sopa</i></a></u></span></span>, do segundo. Indiferentes a
qualquer sentido político-social da letra de <i>Mosca na sopa</i>,
era a interpretação literal que agradava às crianças, além do
ritmo, uma mistura de baião com rock.
</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Falando em baião e rock, Luiz Gonzaga e Elvis Presley sempre foram
identificados por Raulzito como suas maiores fontes de inspiração e
é perceptível a mistura dos estilos dos dois músicos em suas
composições. É empolgante uma cena do filme em que ele, ao citar
essas influências, emenda uma música de Elvis com a <i>Asa Branca</i>
de Gonzagão, num encaixe perfeito, que fala por si só. É mosca na
sopa. Já nos exagerados anos 80, em que a irreverência foi mais
regra que exceção, Raul voltou a se aproximar do universo infantil
com <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=ge_GaRRXxZE" target="_blank"><i>Carimbador Maluco</i></a></u></span></span><i> -</i> tema do especial <i>Plunct
Plact Zuuum</i>, da Rede Globo -, para surpresa de seus já
crescidinhos fãs.</div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Parecido com o que ocorreu com o público infantil, a identificação
dos jovens com Raul deu-se, em boa parte, por conta de sua postura
rebelde. Por meio de suas canções, ele expôs ao público um ponto
de vista divergente ou alternativo quanto a conceitos firmados como
vencer na vida ou ser normal, tratados como absolutos por quem tem
aquela velha opinião formada sobre tudo, inclusive sobre o que é
vencer na vida ou ser normal.</div>
<br />
<br />
<hr />
<br />
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;"><b>* </b></span><i><span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?gl=BR&v=Co-5H3w80Ig" target="_blank"><span style="font-size: x-small;"><b>Mata virgem</b></span></a></u></span></span></i><span style="font-size: x-small;"><b> (Raul Seixas
/ Tania Menna Barreto)</b></span></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Você é um pé de planta<br />Que só dá no interior<br />No
interior da mata<br />Coração do meu amor</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;"><br />Você é roubar manga<br />Com os moleques no
quintal<br />É manga rosa, espada<br />Guardiã no matagal</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;"><br />Qual flor de uma estação<br />Botão fechado eu
sou<br />Se amadurecendo<br />Pra se abrir pro meu amor</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;"><br />Úmida de orvalho<br />Que o sol não enxugou<br />Você
é mata virgem<br />Pela qual ninguém passou</span></div>
<div class="western" style="background: transparent; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;"><br />É capinzal noturno<br />Escuro e denso protetor<br />De
um lago leve e morno<br />Teu oásis seu amor</span></div>
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" scrolling="no" src="http://embed.videolog.tv/v/index.php?id_video=726157&width=420&height=315" width="420"></iframe>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-89751483084335471592012-03-03T00:35:00.000-03:002012-03-03T00:39:15.238-03:00Sobre Wando<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">O pertencer a uma mesma
geração proporciona uma série de cumplicidades às pessoas, sendo
a música uma das mais diretas e representativas. A
contemporaneidade, logicamente, não implica em homogeneidade de
inclinações, mas cria certos vínculos emocionais. Pessoas de
gerações diferentes, mesmo com gosto musical parecido, não
vivenciam essa cumplicidade, uma vez que ela é construída não por
identidade de gosto, mas com base em momentos em comum vividos numa
mesma fase da vida e ao longo do tempo.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">A morte do cantor Wando e
como ela repercutiu de forma diferente em diferentes gerações,
muito ou pouco sentida, ilustra bem essas reflexões. Muito se
questionou o fato de ele ter sido endeusado e reverenciado, por
alguns, apenas depois de morrer. Pode ser, isso ocorre com frequência
- ou, como diria Cauby, essas coisas acontecem por aí naturalmente
-, mas alguns desses depoimentos pareceram sinceros e é provável
que tenham partido justamente de alguns de seus contemporâneos. </span>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">O moço mineiro tinha
público cativo e sua popularidade remonta à década de 70, quando <a href="http://www.youtube.com/watch?v=04BYV5m8Rtk" target="_blank"><i>O importante é ser fevereiro</i></a> foi gravada por Jair Rodrigues.
Pouco depois, ele compôs <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=bmZlBwKl_W4" target="_blank"><i>Moça</i></a></u></span></span>*,
que o posicionou, perante a mídia, na categoria dos cantores
românticos - ainda não existia o termo brega. A música fez parte
da trilha sonora da primeira versão da novela <i>Pecado Capital</i>
e foi regravada, anos depois, por <a href="http://www.youtube.com/watch?v=KRawTjuRYd0" target="_blank">CaetanoVeloso</a>. Na mesma linha e na mesma época, Wando compôs <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=fig-8YjNw7Y" target="_blank">A menina e o poeta</a>**</i>, bonita, mas pouco conhecida, mesmo tendo
sido gravada por Roberto Carlos, em seu disco de 1976. Nesse mesmo
período, despontaram, também, Agepê, Hildon, entre outros.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Já nos anos 80, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=e7-57uPED64" target="_blank"><i>Chora coração</i></a>, tema da novela Roque Santeiro e <a href="http://www.youtube.com/watch?v=Rm7AE6fZdi0&feature=results_video&playnext=1&list=PL1DC259C39D1B89C0" target="_blank"><i>Coisa cristalina</i></a> foram grande destaque, mas nada comparável a <a href="http://www.youtube.com/watch?v=4q--JbnO_Fw&feature=results_video&playnext=1&list=PL4CB013E7C3D07399" target="_blank"><i>Fogo e paixão</i></a>, seu maior sucesso, um <i>“Ai se eu te pego”</i>
da época que, com sua letra quente, consolidou a fama de amante
latino do cantor e o hábito de seus iaiás e ioiôs de jogarem peças
íntimas no palco. Ele afirmava, porém, que essa aproximação com o
público feminino sempre fora seu objetivo, desde o início da
carreira.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Ninguém atravessou
incólume os anos 80 que, ao proporcionar a ruptura da fronteira
entre estilos musicais, representou uma espécie de retropicalismo,
somado a grandes porções de jovem guarda. Há semelhanças entre o
é proibido proibir tropicalista e o vale tudo ou libera geral
oitentista, quando cantores mais populares passaram a frequentar
espaços elitizados, antes exclusivos e restritos, como as rádios FM
ou as casas de show voltadas para as classes mais abastadas. Com
Wando, não foi diferente. Aquela que já cantarolou uma música
dele, que atire a primeira calcinha, a segunda, a terceira...</span></div>
<hr />
*<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/bmZlBwKl_W4?rel=0" width="420"></iframe>
<br />
<br />
**<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/fig-8YjNw7Y?rel=0" width="420"></iframe>
<br />
<br />
<br />
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: x-small;"><b>A menina e o poeta (Wando)</b></span></span></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<br /></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: x-small;">Virgem menina morena<br />Nos
cabelos uma trança<br />No rosto um jeito criança<br />Na voz um canto
mulher</span></span></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: x-small;"><br />Virgem menina morena<br />Nos
olhos toda a primavera<br />No corpo uma longa espera<br />Coração
banhado em fé</span></span></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<br /></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: x-small;">A tarde corre pra noite<br />A lua
desperta sorrindo<br />A menina na janela<br />Botão em flor se abrindo</span></span></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<br /></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: x-small;">Nasceu o primeiro desejo<br />Conhecer
o primeiro amor<br />Na história de um poeta<br />A menina acreditou</span></span></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<br /></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: x-small;">Mas o poeta foi um dia<br />E até
hoje não voltou<br />Ninguém sabe o caminho<br />Que o poeta levou</span></span></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<br /></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: x-small;">O vento que foi com ele<br />Um dia
por lá voltou<br />Mas só que voltou sozinho<br />E a menina chorou</span></span></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<br /></div>
<div align="LEFT" lang="pt-BR" style="margin-bottom: 0cm; orphans: 2; widows: 2;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: x-small;">Na história do poeta<br />A menina
acreditou<br />E dos olhos da menina<br />Uma lágrima rolou</span></span></div>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-13372778164619826442012-02-07T00:48:00.000-03:002012-02-07T00:48:39.092-03:00Orações descoordenadas e insubordinadas para todos os períodos – quinta edição<style type="text/css">
<!--
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-->
</style>
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-size: small;">(Não
se preocupe, isso passa, é só uma frase)</span></b></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm; page-break-after: auto;">
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Há
algo de podre no queijo-do-reino da dona Márcia.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">No
primeiro segundo, fui ao terceiro quarto e vi que tudo ficou em ordem
nesse período.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;"><i>'The
Oscar goes to'</i></span><span style="font-size: small;"> não se discute”.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Ser ou
não ser, eis a questão? Há mais coisas entre masculino e feminino
do que supõe nossa vã hipocrisia.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Se não
conseguimos encontrar nossa cara metade, talvez seja hora de
procurarmos uma mais em conta.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Longe
das ruas, foliona desfila no bloco de folhas de um dicionário, entre
fantasia e frevo.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Análise
sintética: período momesco é aquele em que o sujeito abandona as
aspas e abre parênteses para a espontaneidade.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Uma
dica importante: a melhor resolução para monitores, impressoras,
scanners e máquinas digitais é comprá-los em promoção. Uma ótima
resolução.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Quem
brinca com fogo pode se queimar. Quem brinca no mar pode se afogar.
Quem brinca com palavras pode se queimar no mar e no fogo se afogar</span><span style="font-size: small;">.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Como se
conjuga uma união conjugal: Lia, terceira pessoa do verbo ler,
uniu-se a Lemos, a primeira pessoa que viu pela frente.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Na
calada da noite, surgiram comentários à surdina. Mas a surda não
deu ouvidos e, desnuda, saiu com uma muda de roupa que deu o que
falar.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">O
melhor meio de provar que o mundo é redondo é a quantidade de mails
que, volta e meia, voltam ao nosso meio.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Golpe
de 64: it begins with US.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Não
tem til, til tem não.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Castelo
Branco: extensão da Casa Branca.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Eufemismo,
próprio de fêmeas, pode, também, atacar os machos, dentre os
exemplares menos agressivos da espécie humana.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Nesse
espaço vital em que o mundo gira, o poeta põe o que o tirano tira.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Dois
instrumentistas, um era baixo, outro era surdo. O surdo tocava baixo,
o baixo tocava surdo. O baixo tocava baixo, porque não era surdo.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Do
ponto de vista da ética, cada um tem sua ótica.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Sentiu
dó. Tomou aquele dó pra si. Foi acusado de plágio</span><span style="font-size: small;">.
A música custou-lhe uma nota.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Tem
gente que confunde matrimônio com patrimônio e prefere se casar com
caminhão de bens.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Num
verdadeiro relacionamento afetivo, a melhor parte do corpo do
parceiro são os ouvidos.” </span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">As asas
da imaginação desapropriam o sentido próprio, desfiguram o sentido
figurado, ilimitam o que, loucamente, cada louca mente capta.” </span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Quem
BEBE pode entrar em COMA alcoólico. COMO?”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Calma:
quem não tem filho, pode ter uma sobrinha. Ou uma sobrinha.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">So, I
saw my soul sailing the sea.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Para se
chegar à verdade absoluta, deve-se estar fora de si. É verdade!
Absoluta!!”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Eu, tu,
elo. Nós, voz, elos.”</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">A dor
meço de olhos abertos.” </span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;">Quem
não ama fica amuado.”</span></div>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-55224933707720417812012-01-14T22:42:00.000-03:002012-01-14T22:46:28.863-03:00A música da sua vida<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN1WX__Q3UeGffARF4yvlLs78D1J4t9gTpNnvhLrR4ZSZI02dGmo1HXqD9JRHq1C36Mk8yLPsZlfk1NTTZbusvFI8mPOTvnrgXf94q9D-VUE8h-7NtjbQsw7194Jj6f_fwSDZZMA/s1600/cancoes.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN1WX__Q3UeGffARF4yvlLs78D1J4t9gTpNnvhLrR4ZSZI02dGmo1HXqD9JRHq1C36Mk8yLPsZlfk1NTTZbusvFI8mPOTvnrgXf94q9D-VUE8h-7NtjbQsw7194Jj6f_fwSDZZMA/s200/cancoes.jpg" width="200" /></a></div>
Um dos maiores documentaristas brasileiros, Eduardo Coutinho está
com novo filme na praça, <i>As canções</i>, eleito melhor
documentário no Festival do Rio 2011, pelos júris popular e
oficial. Coutinho sempre parte, em seus filmes, de ideias simples
para criar algo original e, por vezes, genial, já que a genialidade
tem um pé na simplicidade. Algo como o que fizeram (ou fazem), na
música, Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, João Gilberto, ou mesmo Chico
Buarque.<br />
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<i>As canções</i> chega ao limite dessa simplicidade, tanto no
cenário enxuto – o entrevistado em um palco de teatro com uma
cortina preta por trás -, quanto no mote que o conduz, representado
pela questão: <i>“Qual a música da sua vida?”</i>. Foram 240
pessoas abordadas, 42 pré-selecionadas e 18 escolhidas para a versão
final do documentário. Os depoimentos foram, quase todos, ligados a
relacionamentos amorosos, ilustrados por canções anteriores à
década de 80, o que se explica pela faixa etária da maioria dos
depoentes. Interessante, também, ao se levar em conta o tema do
filme, é que Eduardo Coutinho dificilmente escuta música, o que me
lembrou o poeta João Cabral, que não apenas não escutava, como
detestava qualquer tipo de música.<br />
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
<i>As canções</i> guarda algumas semelhanças com <span style="color: navy;"><span lang="zxx"><u><a href="http://paulobap.blogspot.com/2008/03/sobre-natural.html" target="_blank"><i>Jogo de cena</i></a></u></span></span> (2007), desde o cenário até o
formato de busca aleatória dos entrevistados - o segundo por meio de
outdoors, anúncios e o primeiro pelas ruas do Rio de Janeiro,
principalmente. Em ambos, um modo interessante de contar os fatos
também foi, logicamente, levado em conta. E se a convocação das
pessoas, em <i>Jogo de cena</i>, pedia histórias de vida marcantes,
em <i>As canções</i> houve mais um requisito: como os relatos eram
associados a músicas, o depoente deveria saber cantar razoavelmente
bem, sem ser profissional. Nesse aspecto, alguns cantaram bem demais,
diminuindo um pouco a emoção que viria com uma interpretação mais
espontânea, mas a maioria cantou com o coração.<br />
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Não por acaso, os depoimentos mais marcantes do documentário aliam
boa música a interpretação natural, história interessante a
narração envolvente. Como o primeiro, de uma mulher que canta <a href="http://www.youtube.com/watch?v=OJY7mEVsAik" target="_blank"><i>Minha namorada</i></a> (Vinícius de Moraes / Carlos Lyra) e traz consigo a
letra da canção, manuscrita por um namorado, que lha dedicou
(êpa!), décadas atrás. Ou o último, em que a depoente espelha as
desventuras do amor com um <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=H263F_Ds298" target="_blank">Retrato em branco e preto</a> </i><span style="font-style: normal;">(Chico
Buarque / Tom Jobim)</span>. Por outro lado, canções repetidas em
mais de um depoimento, como <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=i64EW2rIVtE" target="_blank">Olha</a> </i><span style="font-style: normal;">(Roberto
Carlos / Erasmo Carlos) e a versão brasileira de </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=6cInRzqKchE&feature=related" target="_blank"><i>Perfídia</i></a><span style="font-style: normal;">
(Alberto Dominguez),</span> impedem o filme de abranger um universo
musical maior.<br />
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Anos atrás, num programa de televisão de tema semelhante, em que as
pessoas, ao citarem músicas que marcaram várias épocas de suas
vidas, construíam suas trilhas sonoras, uma entrevistada incluiu, em
sua lista, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=Ft89ZGkfPNk&feature=related" target="_blank"><i>Vento no litoral</i></a> (Renato Russo / Dado Villa-Lobos /
Marcelo Bonfá) e emocionou-se ao cantar: <i>“Já que você não
está aqui, o que posso fazer? Quero ser feliz, ao menos. Lembra que
o plano era ficarmos bem”</i>. Geralmente associada a um fim de
relacionamento, a letra da canção lembrava-lhe o falecido pai. Em
<i>As canções</i>, senti falta de visões diferentes assim.<br />
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Para um amante da música e admirador da obra de Eduardo Coutinho,
minha expectativa para este filme era grande - e, em parte, foi
atendida, ainda que não consiga igualá-lo ao desconcertante e
surpreendente <i>Jogo de cena</i>, ou mesmo a seus filmes mais
conhecidos, como <a href="http://www.youtube.com/watch?v=E6X9__lBbiA" target="_blank"><i>Cabra marcado para morrer</i></a>, <i>Peões</i>,
<i>Babilônia 2000</i> e <i>Edifício Master</i>. A razão pode estar
no fato de que, se em todos eles conseguimos nos emocionar ou rir com
as narrativas, sejam elas quais forem, sem que, necessariamente,
tenhamos vivido algo semelhante, o gosto musical pode influir no
julgamento de <i>As canções</i> a ponto de gostarmos mais das
histórias na medida em que gostamos das músicas que as acompanham -
cada um tem seu <i>As canções</i> particular.<br />
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
O próprio cineasta não fugiu por completo desse aspecto, mesmo que
inadvertidamente, na medida em que selecionou, para o filme, duas
pessoas que escolheram <i>Perfídia</i> – que ele diz adorar –
como canção de suas vidas. Da mesma forma, <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=BVsYoOu4DA4&feature=fvst" target="_blank">Ternura</a> </i><span style="font-style: normal;">(Estelle
Levitt / Kenny Karen, versão: Rossini Pinto)</span>, escolhida por
outro entrevistado, já foi citada por Coutinho como uma canção que
lhe marcou - ainda que não seja a música de sua vida -, por ele
tê-la usado em um de seus filmes, na voz de Wanderléa.<br />
<br /></div>
<div class="western" style="background: transparent; margin-bottom: 0cm;">
Quando se quer emocionar a todo custo, faz-se uso de melodramas, com
fundo musical e imagens de efeito. Neste filme, como em quase todos
do diretor, ambos os recursos são o próprio personagem ou saem
dele. A música deixa de ser incidental ou de fundo e passa ao plano
principal, enquanto o efeito especial, como ele mesmo afirmou em
entrevista, <i>“é a pessoa que fala, que vive, </i><span style="font-style: normal;">inventa”
e FIM</span>.<br />
<br /></div>
<hr />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/XxckBHKLluU?rel=0" width="420"></iframe>
<br />
<br />Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-52509165861919227352011-12-05T23:22:00.001-03:002011-12-06T00:15:14.010-03:00Marisa de verdade<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil4ooKgmgyxgPGj2VNPHFb9k_kB80VfMr47dcgzotd4lWvwzYAdOl96FlrKsMhWdJ-8B4hmflc9ZXyDk7PnheHzLCRX1bWTr8I6LpAzT9tetZHTQozFrHsP0hC1UW3x3hI8SICgQ/s1600/mmoqvqsdv.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil4ooKgmgyxgPGj2VNPHFb9k_kB80VfMr47dcgzotd4lWvwzYAdOl96FlrKsMhWdJ-8B4hmflc9ZXyDk7PnheHzLCRX1bWTr8I6LpAzT9tetZHTQozFrHsP0hC1UW3x3hI8SICgQ/s200/mmoqvqsdv.jpg" width="200" /></a></div>
Desde seu primeiro
trabalho, que misturava rock, samba, xote e MPB, Marisa Monte recebeu
o rótulo elogioso de cantora eclética. Como a primeira impressão é
a que fica, vem daí as expectativas da crítica especializada e de
parte de seu público por trabalhos diferenciados e longe do óbvio.
A partir do segundo disco, <i>Mais</i>, a cantora foi além e surgiu
como compositora, lado que vem exercitando desde então, num
crescente. Nesse ofício, vem seguindo o modelo Roberto Carlos de
manter-se fiel a poucos parceiros e repetir uma fórmula que vem
dando certo, mas que pode soar repetitiva (Roberto, por sinal, é um
dos compositores admirados pela diva). </div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Não trilhar o caminho
mais fácil de sempre gravar outros compositores, ao mesmo tempo em
que constitui ato de ousadia, deixa o cantor mais vulnerável e
exposto a críticas, o que vem ocorrendo com seu novo disco, <i>O que
você quer saber de verdade</i>, “acusado” de ter canções um
tanto quanto óbvias, pra não dizer simplórias. De fato, o disco
traz algumas melodias fáceis e mensagens simples (vão-se memórias
e crônicas, ficam-se declarações de amor), mas isso não chega a
ser novidade - vide <i>Os tribalistas</i> e seu megassucesso <i>Já
sei namorar</i> -, nem compromete todo o resultado - o citado <i>Mais</i>
tinha canções como <i>Eu sei</i> e <i>Beija eu</i>, no mesmo estilo
e nem por isso desinteressantes, assim como as do disco atual. A
diferença, talvez, esteja na dose.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Em entrevista sobre o
novo trabalho, Marisa diz gostar e sempre se utilizar desse tipo de
linguagem em suas canções: <i>“Minha música sempre teve essa
vocação popular. (...) Minha linguagem sempre foi direta, clara,
simples. (...) Claro que tem um contato com uma poesia mais
sofisticada, como em Diariamente, Bem Leve ou Maria De Verdade. E eu
gosto disso também. (...) Dizem que sou cult, mas eu nunca tive a
intenção de ser cult, no sentido de fazer música para poucos. Às
vezes, acho que a minha música se confunde com a minha postura
reservada. E isso cria um paradoxo.”</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>O que você quer
saber de verdade</i>, com exceção de três faixas, tem a
participação de um, dois ou três dos inseparáveis compositores
Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e a própria Marisa Monte. Para
comprovar que às vezes é bom inspirar novos ares e novos parceiros,
uma das mais diferenciadas canções do disco é <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=7qRDCUMo6GE&feature=related" target="_blank">O que se quer</a></i>,
parceria dela com Rodrigo Amarante, do <i>Los Hermanos</i>, que soa
como uma marcha-rancho sanfonada. Em seus dois discos simultâneos
anteriores, Adriana Calcanhoto e outros entraram nesse rol de novos
parceiros, também com bons resultados.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Outros companheiros de
longas datas de Marisa também participam deste novo disco. O músico
Dadi, ex-<i>Novos Baianos</i> e <i>A Cor do Som</i>, marca presença
como coprodutor, instrumentista, compositor e pai (seu filho André
Carvalho, que apareceu para a mídia na voz de Maria Gadu como autor
de <a href="http://www.youtube.com/watch?v=Q2jXCHV6c0o" target="_blank"><i>Tudo diferente</i></a>, assina <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=RTCYO5shnFA&feature=related" target="_blank">Nada tudo</a></i>). Três músicos da
<i>Nação Zumbi</i> - Pupilo, Dengue e Lúcio Maia – participam
como instrumentistas e é interessante ver suas performances num
outro estilo musical.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Bastante ligada a suas
raízes cariocas, ao samba e aos compositores do Rio de Janeiro, como
Tim Maia, Jorge Benjor e Paulinho da Viola, Marisa Monte sempre
manteve ligações musicais, também, com o nordeste brasileiro,
desde seu primeiro disco, quando gravou o <i>Xote das meninas</i>
(Luiz Gonzaga / Zé Dantas), com citações de Genival Lacerda. Além
de Brown e do trio da <i>Nação</i>, a porção nordestina do novo
disco está presente no acordeon do cearense Waldônis - que deu um
toque bem peculiar e especial a algumas canções - e,
particularmente, na faixa <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=SSOJfdSMPng&feature=related" target="_blank">Hoje eu não saio não</a></i>, que é tipo
um xaxado, buarqueanamente falando.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
A <span style="color: blue;"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=v1sigYjNQFA&feature=related" target="_blank">canção-título</a></u></span>*,
que abre o disco e foi anteriormente gravada por <a href="http://www.youtube.com/watch?v=rnGrJXSJ2d0" target="_blank">Arnaldo Antunes</a> em
<i>Qualquer</i> (2006), fala da graça das pequenas coisas, do que
realmente importa. Na mensagem singela, lembra <i>Vilarejo</i>, do
álbum anterior e, como aquela, não caberia em letra e arranjo
rebuscados. Ambas são canções adequadas, que cabem em si. O disco
segue com <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=9Su6iOuI_Es&feature=related" target="_blank">Descalço no parque</a></i>, uma antigona de Jorge Ben - e
aí MM repete a fórmula RC de sucesso. Quem se lembra dos discos de
Roberto Carlos da década de 70 sabe que todos eles tinham que ter
uma canção de Maurício Duboc e Carlos Colla, outra de Isolda e
Milton Carlos, além de uma de tema religioso e outra ecológica. No
caso de Marisa, onde lê-se cada uma das duplas, leia-se Paulinho da
Viola e Jorge Ben(jor).</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Marisa Monte também é
eficaz em baladas e, se <i>Infinito particular</i> tinha <i>Pra ser
sincero</i> e <i>Até parece</i>, neste elas estão bem representadas
com <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=-mAhw7zQ36s&feature=related" target="_blank">Depois</a></i> e <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=b59_Ry2AGtU&feature=related" target="_blank">Era óbvio</a></i>. <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=73WFkwFFGHE&feature=related" target="_blank">Amor I love you</a></i> passou
a bola pra <i><a href="http://www.youtube.com/embed/t7M89YJAPhM" target="_blank">Ainda bem</a>**</i>, um bolerão rasgado, com direito a
trompete e belo clipe em preto e branco(a) dela bailando com o
lutador Anderson Silva. Se as duas músicas não dizem tanto, dizem o
necessário àquilo a que se propõem - mais uma vez, cabem em si.
Outros exemplos de trechos de letras simples, mas bacanas estão em
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=DRRQTxrS4aM&feature=related" target="_blank"><i>Seja feliz</i></a> (<i>“Tão curta a vida. Curta a vida”</i>) e
<i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=XxQFI_MmJ5E&feature=related" target="_blank">Bem aqui</a></i> (<i>“Se a gente nem sabe onde está bem, está bem
aqui”</i>). Merecem destaque, ainda, outras duas canções: uma
versão que foi sucesso décadas atrás com Dalva de Oliveira
(<i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=adfvmilCdeA&feature=related" target="_blank">Lencinho querido</a></i>) e outra que lembra as músicas da <i>Jovem
Guarda </i>(<i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=feq1F6uiBRg&feature=related" target="_blank">Aquela velha canção</a></i>).</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Amantes da música num
sentido mais amplo e geral hão de apreciar o novo trabalho da
cantora de bela voz. Escutar, entender, viajar, dançar, pular,
protestar, namorar, cantarolar, assoviar, para cada situação, há
um tipo de música mais adequado e, a depender das circunstâncias, a
água mineral do <i>Candeal</i> pode até saciar mais ou descer
melhor do que aquilo que apreciamos num Bach, <i>on the rocks</i>,
<i>jazz</i>, <i>blues</i>, etc.<br />
<br /></div>
<hr />
*<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/v1sigYjNQFA" width="420"></iframe>
<br />
<br />
**<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/t7M89YJAPhM" width="420"></iframe>Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-9636955836788063912011-11-09T16:29:00.001-03:002011-11-10T20:06:49.387-03:00Música das bandas de láO documentário <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=PEcvjN7s260" target="_blank">Rock Brasília – Era de ouro</a></i>, de Vladimir Carvalho, vem sendo exibido de forma discreta nas salas de cinema do país, com exceção da capital federal, onde foi o esperado filme de abertura do consagrado festival de cinema local. A repercussão por lá não podia ser diferente, em se tratando de uma cidade que é importante personagem da história contada, mas o filme é uma boa surpresa, também, para quem se dispõe a assisti-lo longe do planalto central, do céu de Brasília, do traço do arquiteto.<br />
<br />
Em geral, fala-se do rock brasileiro dos anos 80 como algo indivisível, sem considerar suas especificidades e, nesse aspecto, o filme tem uma abordagem diferente: atém-se ao surgimento de três bandas brasilienses – <i>Capital Inicial, Plebe Rude e Legião Urbana</i> -, cujas histórias são interligadas. Apesar dessa abordagem, não deixa de inserir o universo local no contexto nacional e vice-versa.<br />
<br />
Brasília é uma cidade atípica, que não conseguimos dissociar de dois aspectos principais. Primeiro o político, refletido em certas letras de cunho social das bandas de lá, como <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=TAUIA5vLo3w&feature=related" target="_blank">Que país é esse</a></i>, <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=syL3QlD9S3M" target="_blank">Até quando esperar</a></i>, <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=kJ5sXUxX3QE" target="_blank">Mais do mesmo</a></i>, <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=JXsGy1yz_DY" target="_blank">Geração Coca-Cola</a></i> (<i>desde pequenos nós comemos lixo / comercial e industrial / mas agora chegou nossa vez / vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês</i>). Depois - consequência de ser centro do poder - o fato de abrigar pessoas de várias localidades, sobretudo na década de 80, quando ainda formava a primeira geração de nativos, então na casa dos vinte anos. Muitos dos jovens eram filhos de políticos, diplomatas, funcionários públicos, incluindo integrantes dos três citados grupos.<br />
<br />
O filme dá a devida importância a esses aspectos no surgimento de tais bandas, na medida em que toma como coprotagonistas os pais (literalmente) do rock brasiliense e põe suas considerações ao lado dos depoimentos de integrantes das três bandas, em diferentes épocas, colocando, juntos, pais e filhos da revolução, como ressalta o <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=PEcvjN7s260" target="_blank">trailer oficial</a></i>. Boa parte da história é contada do ponto de vista dos pais.<br />
<br />
O embrião desses grupos musicais foi a amizade dos irmãos Fê e Flávio Lemos com Renato Russo. Os três formaram, com outros amigos, a banda <i>punk Aborto Elétrico</i>, que seria dividida, após desentendimentos, em <i>Capital Inicial</i> e <i>Legião Urbana</i>. Junto com os garotos que formariam a <i>Plebe Rude</i>, eles moravam todos próximos, em uma das quadras residenciais do plano piloto da capital federal, onde matavam o tempo e o propalado marasmo da cidade em encontros regados a <i>rock</i> e maconha.<br />
<br />
Em paralelo, bandas cariocas já causavam certo alvoroço sonoro no Rio de Janeiro, a começar da <i>Blitz</i> e foi uma delas, meio carioca, meio brasiliense, que fez a ponte e impulsionou o movimento dos meninos de Brasília: os <i>Paralamas do Sucesso</i>. Dois de seus integrantes, Bi Ribeiro e Herbert Vianna tinham um pé naquela cidade. Os <i>Paralamas</i> já gozavam de certo prestígio na mídia e puderam, assim, dar boas referências de seus colegas às gravadoras, ávidas por novos talentos num estilo musical que prosperava.<br />
<br />
As três bandas mostradas no filme fazem parte da segunda leva dos grupos de <i>rock</i> brasileiros dos anos 80, os quais despontaram para o sucesso após a primeira metade da década, que teve como divisores de águas a eleição indireta de Tancredo Neves para presidente e o <i>Rock in Rio I</i>, ambos em janeiro de 85. Com exceção do grupo <i>Legião Urbana</i>, ícone da música daquele período, os dois outros tiveram, na ocasião, menor acesso à mídia, sobretudo a <i>Plebe Rude</i> que, salvo algumas músicas, não tocava tanto nas rádios, sempre mais abertas ao que consideravam sucessos fáceis.<br />
<br />
Não obstante, o maior sucesso da <i>Plebe Rude</i>, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=syL3QlD9S3M" target="_blank"><i>Até quando esperar</i></a>*, é uma canção menos comum, que fala do acaso probabilístico com que somos jogados de um ou outro lado da sociedade ao nascermos, bem como de um certo sentimento de culpa que tal fato provoca naqueles que fazem parte do lado mais privilegiado, em condições de desigualdade com o “lado B”.<br />
<br />
Em momento interessante do filme, Renato Russo relata seu estranhamento com o fato de um dos discos da <i>Legião</i> - que começa com <a href="http://www.youtube.com/watch?v=aQo4W3JciKo" target="_blank"><i>Há tempos</i></a>, canção sem refrão, de versos nada triviais para os padrões de um estilo massificado - ter estourado nas rádios e ser um dos maiores êxitos de venda da época. Outro trecho mostra imagens do grupo apresentando-se no programa <i>Chico & Caetano</i>, da <i>Rede Globo</i>, pontuadas por observações de Caetano, sempre atento a novidades. Ao final, um hino da geração 80, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=7sqbzrZxrrk&feature=related" target="_blank"><i>Tempo perdido</i></a>, para deleite dos saudosos fãs da época (ou dos que passaram a apreciá-la depois), que podem sair da sessão cantarolando: <i>‘fomos’ tão jovens, tão jovens</i>...<br />
<br />
<hr />
<br />
<span style="font-size: x-small;"><b>* Até quando esperar (Philippe Seabra / André X)</b><br /><br />Não é nossa culpa<br />Nascemos já com uma bênção<br />Mas isso não é desculpa<br />Pela má distribuição<br /><br />Com tanta riqueza por aí, onde é que está<br />Cadê sua fração?<br />Até quando esperar?<br /><br />E cadê a esmola<br />Que nós damos sem perceber<br />Que aquele abençoado<br />Poderia ter sido você?<br /><br />Com tanta riqueza por aí, onde é que está<br />Cadê sua fração?<br />Até quando esperar a plebe ajoelhar<br />Esperando a ajuda de Deus?<br /><br />Posso<br />Vigiar teu carro<br />Te pedir trocados<br />Engraxar seus sapatos</span>
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/syL3QlD9S3M" width="420"></iframe>
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/PEcvjN7s260" width="420"></iframe>
<br />
<br />Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-29374149226935223652011-10-07T00:21:00.000-03:002011-10-07T00:47:13.375-03:00A maçã e a chuva<style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.21cm; }
</style>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Considerações
musicais de Raul Seixas para relacionamentos amorosos</span><br />
<span style="font-size: small;"></span><style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.21cm; }
</style>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-size: x-small;">(A Steve
Jobs, que gostava de maçã e provou ao mundo que nem todas são
iguais)</span></span><br />
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<span style="font-size: small;">A fidelidade como
requisito ao casamento costuma ser inquestionável. Por outro lado, e
ao mesmo tempo, o pouco êxito no cumprimento deste requisito, motivo
maior de separações, junto às naturais dificuldades de
relacionamento, também é indiscutível. Os pesos e medidas utilizados para julgar atos de infidelidade conjugal,
porém, são menores em sua versão masculina e, aí sim, começa a
discussão. Trata-se, afinal, de um pacto, acordo ou contrato entre
duas pessoas que prometem ser fiéis uma à outra, por toda a vida.
Uma via de mão dupla, em que a ultrapassagem não é aconselhável,
nem pra um lado, nem pra outro. </span><br />
<span style="font-size: small;"> </span>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">O assunto é tema
recorrente, também, na música e na literatura. O poetinha Vinícius
de Moraes reconheceu o amor como algo não imortal, posto que é
chama. Seria possível, então, manter essa chama acesa e tornar a
fidelidade não um fardo, mas um prazer? Há quem acredite que sim, e
são muitos. Há quem acredite que não, e não são poucos. O cantor
e compositor Raul Seixas apresentou, por meio de duas canções em parceria com o escritor Paulo Coelho –
<span style="color: blue;"><u><a href="http://www.vejatv.com/video-12362.Raul-Seixas---Medo-da-chuva.html" target="_blank"><i>Medo
da chuva</i></a></u></span>* e <span style="color: blue;"><u><a href="http://mais.uol.com.br/view/tv1al1qu05z1/raul-seixas--a-maca-0402E0818326" target="_blank"><i>A
maçã</i></a></u></span>** -, um modelo de casamento que foge ao
padrão <i>hi-fi</i>, de alta fidelidade. Ao reconhecer a via da
fidelidade como inviável numa união entre duas pessoas, ele propôs,
em seu colóquio, um novo modelo de relacionamento.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">O estranho modelo <i>seixiano</i>
é, pelo menos, coerente, uma vez que, ao considerar a tão propalada
fraqueza da carne inerente à espécie humana como um todo,
independente de gênero, assume seus efeitos e dispensa a fidelidade
em ambos os lados da relação. Pela sua visão, melhor assumir suas
limitações do que colocar panos quentes apenas na pulada de cerca
masculina. A liberdade que ele pede em <i>Medo da chuva</i>, oferece
em <i>A maçã</i>. Não se trata de ser adepto, tampouco de aprovar,
muito menos de recomendar a aplicação de sua teoria, qual seja a de
sair por aí a comer maçã na chuva, mas há que se admitir a lógica
de seu raciocínio.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Em <i>Medo da chuva</i>,
ele constata que, ao se prender exclusivamente a alguém, como pedras
imóveis na praia, deixa-se de viver várias outras possibilidades de
amores – afinal, quem não está na chuva é pra não se molhar. Ao
mesmo tempo, reflete que o segredo da vida e da felicidade está em
perder o medo da chuva e assumir-se incapaz de amar apenas uma vez e
de cumprir as juras de amor eterno, feitas ao pé do altar. </span>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Em <i>A maçã</i>, ele
também assume o desgaste provocado por uma relação biunívoca e,
ao admitir que o amor só dura em liberdade, aceita, também,
libertar, não sem sofrimento, a pessoa amada. Por essa linha de
raciocínio, em se abolindo expectativas inalcançáveis e recíprocas
de fidelidade, evitar-se-ia, também, as consequentes frustrações. </span>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">As duas canções, ora são
complementares - com enfoques na impossibilidade de se amar apenas
uma vez (<i>Medo da chuva</i>) ou apenas um de cada vez (<i>A maçã</i>)
-, ora parecem dialogar uma com a outra, em harmonia e sintonia
perfeitas. Mesmo sem entrar no mérito do que ambas apregoam, a
coerência de ideias entre uma e outra letra é perceptível, como
nas duas estrofes a seguir: </span>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;"><i>É pena que você
pense que eu sou seu escravo / Dizendo que eu sou seu marido e não
posso partir / Como as pedras imóveis na praia eu fico ao seu lado
sem saber / Dos amores que a vida me trouxe e eu não pude viver”
(Medo da chuva)</i>.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
“<span style="font-size: small;"><i>Se eu te amo e tu me
amas / E outro vem quando tu chamas / Como poderei te condenar? /
Infinita tua beleza / Como podes ficar presa / Que nem santa num
altar?” (A maçã)</i>.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">A diferença de
abordagem da infidelidade masculina perante a feminina é histórica
e alimentada por simplificações estereotípicas bem comuns - do
tipo homem sujeito, mulher objeto ou homem quer sexo, mulher quer
dinheiro -, exploradas, inclusive, pela mídia. Em contraponto a tal
raciocínio, a teoria do maluco beleza, pelo menos, tira da mulher o
exclusivo papel de fiel da balança e diminui, com equidade, o peso
dessa fidelidade entre as duas partes. O ideal, porém, e sempre, é cada
um escolher uma e apenas uma maçã, a mais madura ou a que mais lhe
aprouver e não entrar num relacionamento apenas para passar uma
chuva.</span></div>
<span style="font-size: small;"><span style="font-size: x-small;"></span></span></div>
<span style="font-size: small;"> </span></div>
<hr />
<br />
<span style="font-size: x-small;"><b>* Medo da chuva (Raul
Seixas / Paulo Coelho)</b></span>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">É pena que você pense
que eu sou seu escravo</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Dizendo que eu sou seu
marido e não posso partir</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Como as pedras imóveis na
praia eu fico ao seu lado sem saber</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Dos amores que a vida me
trouxe e eu não pude viver</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Eu perdi o meu medo, meu
medo, meu medo da chuva</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Pois a chuva voltando pra
terra traz coisas do ar</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Aprendi o segredo,
segredo, segredo da vida</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Vendo as pedras que choram
sozinhas no mesmo lugar</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Eu não posso entender
tanta gente aceitando a mentira</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">De que os sonhos desfazem
aquilo que o padre falou</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Porque quando eu jurei meu
amor eu traí a mim mesmo, hoje eu sei</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Que ninguém nesse mundo é
feliz tendo amado uma vez, uma vez</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Eu perdi o meu medo, meu
medo, meu medo da chuva</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Pois a chuva voltando pra
terra traz coisas do ar</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Aprendi o segredo,
segredo, segredo da vida</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Vendo as pedras que choram
sozinhas no mesmo lugar</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;"><b>** A maçã (Raul
Seixas / Paulo Coelho)</b></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Se esse amor</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Ficar entre nós dois</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Vai ser tão pobre amor</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Vai se gastar</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Se eu te amo e tu me amas</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Um amor a dois profana</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">O amor de todos os mortais</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Porque quem gosta de maçã</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Irá gostar de todas</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Porque todas são iguais</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Se eu te amo e tu me amas</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">E outro vem quando tu
chamas</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Como poderei te condenar?</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Infinita tua beleza</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Como podes ficar presa</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Que nem santa no altar?</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Quando eu te escolhi</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Para morar junto de mim</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Eu quis ser tua alma</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Ter seu corpo, tudo enfim</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Mas compreendi</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Que além de dois existem
mais</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Amor só dura em liberdade</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">O ciúme é só vaidade</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Sofro, mas eu vou te
libertar</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">O que é que eu quero</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Se eu te privo</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Do que eu mais venero</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;">Que é a beleza de deitar?</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/qAEivvjkBJQ" width="420"></iframe>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<iframe frameborder="0" height="315" src="http://www.dailymotion.com/embed/video/xcg0sd" width="420"></iframe>
Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-43872355485892993282011-09-23T02:04:00.000-03:002011-09-23T02:04:27.535-03:00Que a vida começasse em 85<style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.21cm; }a:link { color: rgb(0, 0, 255); }
</style>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzaSa0dRA7ejeYtor-xB42kRTiDl-8MEJ6qJmEOtWMU6DK1XgUMlI4d57I6TaunmfxLYEmGaly1Gkkg8Fq_e0hLJ9xLlcKRR5zUooKPCozWtl5huDaqKsdsy84YLOcLnIA_BSdDA/s1600/rockinrio1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzaSa0dRA7ejeYtor-xB42kRTiDl-8MEJ6qJmEOtWMU6DK1XgUMlI4d57I6TaunmfxLYEmGaly1Gkkg8Fq_e0hLJ9xLlcKRR5zUooKPCozWtl5huDaqKsdsy84YLOcLnIA_BSdDA/s320/rockinrio1.jpg" width="238" /></a></div>
<span style="font-size: small;">A <span style="color: blue;"><u><a href="http://www.videolog.tv/video.php?id=294541" target="_blank">primeira
edição</a></u></span> do festival <i>Rock in Rio</i>, ocorrida em
janeiro de 1985, foi desses eventos que acontecem no momento certo,
no lugar certo. Com um público total de 1.380.000 pessoas, o maior
de todas as edições, tornou-se uma espécie de versão brasileira
de <i>Woodstock</i>, sem o mesmo caráter libertário e alternativo,
mas com semelhante apelo de um período musical fértil por trás,
guardadíssimas as devidas proporções. </span>
</div>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">O <i>Rock in Rio I</i>
foi, ao mesmo tempo, divisor de águas e ponto médio no percurso
ascendente que a nova onda roqueira percorria no país, a começar da
data em que foi realizado, bem no meio da década de 80. Mesmo com o
rock nacional já consolidado, o festival contribuiu para seu
crescimento mais acelerado e uma maior profissionalização do
negócio como um todo, o que gerou oportunidade para novas bandas que
não paravam de surgir, fossem de boa ou má qualidade aos olhos e
ouvidos críticos. Por outro lado, durante o evento, muito se queixou
da diferença de tratamento dispensado aos músicos locais em relação
aos estrangeiros, estes com mais exigências e regalias. </span>
</div>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Para o público, o clima
do festival foi o melhor possível. Refletia o astral do país, que
encerrava, na ocasião, um período de 21 anos de ditadura militar e
virava a tal página infeliz da nossa história. Além de grandes
nomes da MPB, como Ney Matogrosso, Ivan Lins, Erasmo Carlos, Rita
Lee, Gilberto Gil, Elba Ramalho, Alceu Valença, Moraes Moreira e de
artistas do rock nacional que despontavam a olhos vistos e não
vistos (<i>Blitz, Kid Abelha, </i>Lulu Santos<i>, Barão Vermelho,
Paralamas do Sucesso</i>), o festival teve como atrações
internacionais os grupos <i>Queen, Yes, AC/DC, Iron Maiden</i> e os
cantores James Taylor e Rod Stewart, entre outros. </span>
</div>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Bandas como <i>Legião
Urbana, Titãs, Ultraje a Rigor</i> e <i>RPM</i>, que logo
despontariam para o sucesso, não participaram do evento.
Diferentemente de edições posteriores, o <i>Rock in Rio I</i>
contou com apenas um palco, sem abrir espaço para revelações.
Mesmo dentre os novos talentos, preferiu investir em nomes mais
conhecidos ou já consagrados. O <i>Ultraje a Rigor</i>, não
obstante, foi homenageado no show dos <i>Paralamas do Sucesso</i>,
que cantaram <i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=4gMxUn9jphA" target="_blank">Inútil</a>*
</i>(de Roger Moreira, líder do grupo), num dos grandes momentos do
festival. </span>
</div>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Passados 25 anos da última
eleição direta para presidente e com o fracasso recente da campanha
<i>Diretas Já </i>(que virou diretas já já), a letra de <i>Inútil</i>,
por meio de um linguajar que remetia ao sucateamento da educação, à
má qualidade do ensino e à baixa escolaridade do brasileiro,
começava com a constatação: <i>“A gente não sabemos escolher
presidente”</i>. Com inflação, crise, dívida externa e FMI na
pauta dos assuntos econômicos, prosseguia: <i>“A gente pede grana
e não consegue pagar” </i>e, após sucessivos fracassos nas copas
de 74, 78 e 82, terminava com outro fato inegável: <i>“A gente
joga bola e não consegue ganhar”</i>. Em suma: <i>“A gente somos
inútil”</i>. </span>
</div>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Vários outros momentos
marcaram o evento e, mesmo quem não o acompanhou à época, deve ter
deparado, depois, com imagens como as emocionantes interpretações
de <span style="color: blue;"><u><a href="http://www.wat.tv/video/love-of-my-life-queen-rock-30v69_30u73_.html" target="_blank"><i>Love
of my life</i></a></u></span> pelo grupo <i>Queen</i> ou <a href="http://www.youtube.com/watch?v=5fpGcf4Y7GE" target="_blank"><i>You've
got a friend</i></a> por James Taylor. Taylor, pouco depois, viria a
compor <a href="http://www.youtube.com/watch?v=cSvZizTCPM0&feature=related" target="_blank"><i>Only
a dream in Rio</i></a>, canção em que declara seu amor à cidade e
fala da experiência pela qual passou no festival carioca:<i> “Eu
estava lá naquele dia / E meu coração voltou a viver / Havia mais
do que as vozes que cantavam / Mais do que rostos me olhando / E mais
do que olhos brilhando”</i>. </span>
</div>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">A nível nacional, muitos
dos momentos inesquecíveis do <i>Rock in Rio I</i> tiveram relação
com as mudanças políticas por que passava o país, com a
redemocratização. Mesmo versos de canções que não tinham,
originalmente, ligação com o tema, acabaram por ganhar essa
conotação, como: <i>“Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus
sinais”</i> (<a href="http://www.youtube.com/watch?v=z769ojUa7oo" target="_blank"><i>Anunciação</i></a>**
– Alceu Valença) e <i>“Estamos, meu bem, por um triz, pro dia
nascer feliz” </i>(<i>Pro dia nascer feliz – </i>Cazuza / Frejat<i>
</i>).</span></div>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Em 15 de janeiro de 85,
Tancredo Neves foi eleito, de forma indireta, presidente da
República, o que marcou o fim dos governos militares no país.
Naquele mesmo dia, o grupo <i>Barão Vermelho</i> apresentou, no
festival, um show emocionante, com os componentes da banda em total
sintonia com a plateia, todos imbuídos do mesmo espírito
patriótico, revestidos por trajes e bandeiras verde-amarelas. No
ponto máximo do show, Cazuza clamou: <i>“Que o dia nasça lindo
pra todo mundo amanhã. Um Brasil novo, com a rapaziada esperta”,
</i><span style="font-style: normal;">após </span>cantar <a href="http://www.youtube.com/watch?v=sB3sCbcjODE" target="_blank"><i>Pro
dia nascer feliz</i></a>***, para delírio do público. </span>
</div>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">A <span style="color: blue;"><u><a href="http://www.rockinrio.com.br/" target="_blank">quarta
edição</a></u></span> do <span style="color: blue;"><u><a href="http://www.videolog.tv/video.php?id=685877" target="_blank">festival</a></u></span>
em território brasileiro terá início nesta sexta-feira, 23 de
setembro. A programação é diversificada e tem como maiores
destaques internacionais Elton John e Stevie Wonder. A ideia de um
espaço alternativo foi mantida e promete alguns bons shows. Nada
comparável àquela edição que, não só em termos de atrações,
mas sobretudo pelo momento cultural e político do país, parece ser
insuperável. Afinal, uma esperança clara por dias melhores combina
perfeitamente com o espírito juvenil, que, por sua vez, casa muito
bem com um festival de rock. E não é todo dia que esse amoroso
triângulo é formado, que a Lua está na sétima casa e Júpiter
alinhado a Marte.</span></div>
<br />
<hr />
<br />
<span style="font-size: x-small;">*</span><br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/4gMxUn9jphA?rel=0" width="420"></iframe>
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">**</span><br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/z769ojUa7oo?rel=0" width="420"></iframe>
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">***</span><br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/sB3sCbcjODE?rel=0" width="420"></iframe>
Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-1902384362596785842011-09-18T22:17:00.000-03:002011-09-18T22:23:49.293-03:00Anos 80 - suas músicas, suas musas, seus enigmas<style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.21cm; }
</style>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">O contexto político local
explica - ou termina de explicar - a força da música dos anos 60 e
80 em nosso país. À revolução cultural que representou os anos 60
ao redor do mundo, somou-se, aqui, as mudanças provocadas pelo golpe
militar. Os anos 80, por sua vez, seguiram o sopro alegre da brisa de
liberdade que se anunciava e substituía um ufanismo forçado e
pré-fabricado por uma real sensação de pertencimento a uma pátria,
num significado mais amplo do que apenas o país onde nascemos.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Se, por um
lado, o devastador sucesso comercial do rock brasileiro dos anos 80
freou um pouco o espaço reservado a outros estilos, sobretudo à
MPB, por outro fez com que a música nacional voltasse a ocupar a
maior parte do tempo das rádios, o que não ocorria nos dias
dançantes da década anterior. Naquela época, as ondas sonoras
ainda seguiam o vento que soprava do hemisfério norte e reverberavam
a máxima </span><span style="font-size: small;"><i>jurácyca</i></span><span style="font-size: small;"> de
que </span><span style="font-size: small;"><i>“o que é bom para os Estados Unidos, é
bom para o Brasil”</i></span><span style="font-size: small;">. A despeito da grande
qualidade dos cantores nacionais de então, a música desse país
norte-americano, ou das nações de língua inglesa em geral,
imperava em todos os sentidos.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.21cm; }
</style>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">A liberdade política e os
bons ventos surgidos com a redemocratização ajudaram nessa retomada
do topo das paradas por parte da música brasileira ou, no mínimo,
levaram-na a uma disputa menos desigual por esse posto. A banda
brasileira <i>RPM</i>, por exemplo, vendeu mais de dois milhões de
cópias do disco <i>Rádio pirata ao vivo</i>. Esse vento tropical
teve como zona de convergência o eixo Rio-São Paulo, passando por
Brasília. O nordeste, que sempre revelara talentos e, pouco antes,
promovera um novo deslocamento de eixo com Fagner, Alceu Valença,
Elba e Zé Ramalho, entre outros, dessa vez teve menor participação,
revelando apenas o grupo baiano <i>Camisa de Vênus</i>. </span>
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Outra característica do
movimento repetiu a tendência roqueira de uma maior presença
masculina, algo estranho a um país acostumado a grandes vozes
femininas. Estrelas do rock sempre brilharam solitárias e, nos anos
80, não foi diferente, com a porção mulher do <i>pop-rock</i>, bem
representada por Paula Toller, Marina Lima e Dulce Quental, abrindo
espaço entre os super-homens. Em comum, o fato de serem cariocas e
compositoras. Fernanda Abreu, à época fazendo <i>backing vocal</i>
na banda <i>Blitz</i>, também destacou-se depois, como cantora, em
carreira solo.</span></div>
<style type="text/css">
p { margin-bottom: 0.21cm; }p.lista-western { margin-bottom: 0cm; font-size: 12pt; }p.lista-cjk { margin-bottom: 0cm; font-size: 12pt; }p.lista-ctl { margin-bottom: 0cm; }a:link { color: rgb(0, 0, 255); }
</style>
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Dulce
Quental iniciou na banda </span><span style="font-size: small;"><i>Sempre Livre</i></span><span style="font-size: small;">,
composta apenas por mulheres e depois seguiu carreira solo. Ficou
conhecida por sucessos como </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=kuvipTRHcyc&feature=related" target="_blank"><span style="font-size: small;"><i>Fui eu</i></span></a><span style="font-size: small;">, </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=fkuhDSgPLMY" target="_blank"><span style="font-size: small;"><i>Caleidoscópio</i></span></a><span style="font-size: small;">
(ambas de Herbert Vianna), </span><span style="font-size: small;"><i><a href="http://www.youtube.com/watch?v=bcs4ECbQZ-A" target="_blank">Eu sou free</a> </i></span><span style="font-size: small;">e </span><span style="color: blue;"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=v1VdY-c_6oY" target="_blank"><span style="font-size: small;"><i>Natureza
humana</i></span></a></u></span><span style="font-size: small;">*, essa última uma
versão de Jorge e Waly Salomão para </span><span style="font-size: small;"><i>Human
nature</i></span><span style="font-size: small;">, de Michael Jackson. É dela a
canção-tributo a Cazuza, </span><a href="http://www.youtube.com/watch?v=4-VWd6zTKBM" target="_blank"><span style="font-size: small;"><i>O poeta está vivo</i></span></a><span style="font-size: small;">
(com Frejat).</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Outro destaque dos anos 80
foi Marina Lima. Marina, de cara, ganhou o aval de Caetano Veloso -
que dividiu com ela os vocais de <span style="color: blue;"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=xsr7FzQOMEM" target="_blank"><i>Nosso estranho amor</i></a></u></span> - e recebeu elogios de Tom Jobim, ao
cantar, com ele, <span style="color: blue;"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=iyH_ab1AltU" target="_blank"><i>Lígia</i></a></u></span>**, especialmente para um programa da <i>Rede Globo</i>. Também
participou do especial <i>Mulher 80</i>, como revelação, entre
outras grandes intérpretes femininas, já consagradas. De estilo
original, como intérprete e como compositora, logo conseguiu seu
espaço em meio à avalanche de novas bandas que surgiam. Tinha como
parceiro mais constante o irmão Antônio Cícero, poeta e letrista. </span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Marina faz
parte do grupo de artistas da década de 80 que permaneceram em
atividade até hoje, sempre produzindo bons trabalhos. Acaba de
lançar </span><span style="font-size: small;"><i>Clímax</i></span><span style="font-size: small;">, que
tem boas parcerias com compositores das gerações seguintes, Adriana
Calcanhoto, Samuel Rosa e Karina Buhr, ex-integrante da ex-banda
feminina pernambucana Comadre Florzinha (na abertura do carnaval
recifense deste ano, as duas interpretaram, juntas, </span><span style="color: blue;"><u><a href="http://www.youtube.com/watch?v=0NA6W4MqLJI" target="_blank"><span style="font-size: small;"><i>Voltei
Recife</i></span></a></u></span><span style="font-size: small;">, numa versão
interessante e diferente).</span></div>
<div class="lista-western">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Depois de
Wanderléa nos anos 60 e Rita Lee na década seguinte, Paula Toller
foi a musa do </span><span style="font-size: small;"><i>pop-rock</i></span><span style="font-size: small;">
dos anos 80. Se a primeira iniciou a carreira na companhia de Roberto
e Erasmo Carlos e a segunda com os irmãos Sérgio e Arnaldo
Baptista, Paula Toller, no Kid Abelha, também tinha a companhia de
seus abóboras selvagens, numa formação semelhante à dos </span><span style="font-size: small;"><i>Mutantes</i></span><span style="font-size: small;">,
com instrumentistas masculinos comandados por uma voz feminina (o
mesmo ocorria com o grupo <a _blank="" href="http://www.youtube.com/watch?v=0GklbVWL7Rk&feature=related%20target=">Metrô</a>, contemporâneo do Kid, que tinha a
cantora Virginie como vocalista).</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Paula, de
voz agradável, especializou-se em letras leves, de cunho
sentimental, acompanhadas de melodias ora românticas, ora dançantes.
Pelas más línguas, a bela e hoje quase cinquentona era chamada de
Paula </span><span style="font-size: small;"><i>Tolla</i></span><span style="font-size: small;">, vocalista
da banda </span><span style="font-size: small;"><i>Q.I. de Abelha</i></span><span style="font-size: small;">.
Línguas que, não obstante, namoraram e dançaram ao som de suas
músicas. É dela um dos dois mais inusitados e enigmáticos versos
da música da época: </span><span style="font-size: small;"><i>Tira essa bermuda, que
eu quero você sério</i></span><span style="font-size: small;"> (</span><span style="color: blue;"><u><a href="http://mais.uol.com.br/view/366ewqni09q9/kid-abelha---como-eu-quero-0402983360C89183C6"><span style="font-size: small;"><i>Como
eu quero</i></span></a></u></span><span style="font-size: small;">***). Os </span><span style="font-size: small;"><i>segredos
de liquidificador</i></span><span style="font-size: small;"> (</span><span style="color: blue;"><u><a href="http://www.videolog.tv/video.php?id=655877"><span style="font-size: small;"><i>Codinome
beija-flor</i></span></a></u></span><span style="font-size: small;">), de Cazuza,
constituem o outro mistério.</span></div>
<div class="lista-western">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">Existem
duas interpretações básicas para o primeiro enigma, que despertou
a curiosidade até de Chico Buarque. Na primeira, mais comum, </span><span style="font-size: small;"><i>“tira
essa bermuda”</i></span><span style="font-size: small;"> conteria um pedido implícito
de trocá-la por uma vestimenta mais composta, a qual levaria à
seriedade. Na segunda, a mesma expressão, dessa vez interpretada
literalmente, sugeriria a nudez como uma forma de atingir a
seriedade, o que provocou o questionamento de Chico, em encontro
musical com a cantora esfinge, em 85, quando cantaram juntos </span><span style="color: blue;"><u><a href="http://www.videolog.tv/video.php?id=563011"><span style="font-size: small;"><i>Dueto</i></span></a></u></span><span style="font-size: small;">.
Quanto ao liquidificador, segredos são segredos...</span></div>
<hr />
<br />
* <br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/v1VdY-c_6oY?rel=0" width="420"></iframe>
<br />
** <br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="272" src="http://www.youtube.com/embed/iyH_ab1AltU?rel=0" width="400"></iframe>
<br />
*** <br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="272" src="http://www.youtube.com/embed/R7QMdNYT0Q4?rel=0" width="400"></iframe>
<br />
<br />Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28328762.post-56529400469634355422011-08-29T20:43:00.001-03:002011-08-29T21:00:22.707-03:00Os finos e as finas da fossa<span style="font-size: x-small;"><i>(música de fossa: é triste, mas é assim mesmo)</i></span><br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Música de fossa
costuma ser menosprezada por parte dos consumidores musicais, como
obra de menor valor, muitas vezes, inclusive, confundida com o que se
costuma chamar de brega, conceito, aliás, um tanto frouxo e
relativo. Àquelas mais antigas, anteriores à decada de 60, a
impostação de voz típica dos cantores de então contribuía para
conferir um ar ainda mais austero e melancólico. </div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Nesse sentido, o brega,
mesmo sendo um estilo também propício a temas voltados a arroubos
sentimentais, contrapõe-se ao gênero de fossa, por fazer uso de uma
abordagem, em geral, menos pesada, negativa e triste nas canções,
entoadas com um estilo de voz mais suave, próprio da fase
pós-bossa-nova.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Alguns teóricos
musicais afirmam que o estilo brega surgiu como uma derivação da
<i>Jovem Guarda</i> e suas canções de cunho romântico. O termo, em
si, tornou-se comum apenas nos anos 80, mas o conceito já existia
nas décadas anteriores (em vez de brega, cafona), ou desde a época
das cavernas, considerando-se tal conceito associado ao preconceito,
algo inerente ao ser humano. Foi depois da <i>Jovem Guarda</i> e da
revolucionária década de 60, porém, que uma cisão fez-se
irreversível, deixando em lados opostos os cantores cultuados pelas
camadas mais e menos abastadas da população.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
A rápida mudança de
costumes e o consequente conflito de gerações ocorridos nos anos 60
fizeram com que os conceitos de bom e mau gosto se confundissem com
os de novo e antigo. Foi aí que surgiu, também, o termo <i>música
popular brasileira</i> (MPB), para designar um dos lados (o brega,
então, seria a MPPB, ou ainda, o lado B da MPB). Mas, deixemos de
choro e voltemos à fossa...</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
Como o ato de expor
sentimentos é algo, em geral, mais ligado ao sexo feminino, as
cantoras de fossa sempre superaram, em número, os cantores. Waleska
e Maysa, por exemplo, dividem o título de rainha da fossa, que
poderia ser outorgado, também, a Núbia Lafayette, Nora Ney, entre
outras (a tendência ao arroubo ou excesso começa, literalmente, nos
nomes, com seus k, w, y marcantes). A despeito dessa predominância
feminina na discussão de assuntos sentimentais (incluindo, aí, a
famosa D.R., bicho-papão para os homens), vêm de compositores do
sexo masculino algumas das canções mais fundo de poço da música
popular brasileira.<i> </i><br />
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=R2SnYLfBEG8" target="_blank"><i>Esta
noite eu queria que o mundo acabasse</i></a> (Silvinho), famosa na
voz de Núbia Lafayette, é uma delas: <i>“Esta é a noite da minha
agonia, é a noite da minha tristeza, por isso eu quero morrer”</i>.
<i>Ninguém me ama</i><span style="font-size: x-small;">*</span>, dos pernambucanos
Antônio Maria (vai ver que é pelo Maria no nome) e Fernando Lobo
(pai de Edu Lobo), é campeã no estilo e, também, ideal para
momentos de fossa, a começar do título, recitado logo no início,
como a revelar a lamúria que vem pela frente. De fracasso em
fracasso, da primeira à última estrofe, segue o martírio, até
chegar ao limite suportável, nos versos finais, onde o suplício vai
chegando ao fim, junto com a canção e o cansaço: <i>“... cansaço
da vida, cansaço de mim, velhice chegando e eu chegando ao fim”</i>.</div>
<div class="lista-western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Outra representante do
lado sombrio de Antônio Maria é <a href="http://www.youtube.com/watch?v=9wmo-_0Q5Yw&feature=related" target="_blank"><i>Se
eu morresse amanhã</i></a>, páreo duro no <i>ranking</i> das mais
melancólicas: <i>“Se eu morresse amanhã de manhã, não faria
falta a ninguém. Eu seria um enterro qualquer, sem saudade, sem luto
também”</i>. Cabe, ainda, citar a bela <a href="http://www.youtube.com/watch?v=XooX6PdOf20" target="_blank"><i>Canção
da Volta</i></a> (com Ismael Neto), que, entre versões definitivas
como a de <a href="http://www.youtube.com/watch?v=-5yqBh8QdHc&feature=related" target="_blank">Dolores
Duran</a>, marcou minha geração na voz de Fafá de Belém, cuja
interpretação forte e sensível, de emoção sincera e desmedida
como pede a música, merece ser comparada àquela de Elis para <a href="http://www.youtube.com/watch?v=35FPZR24djg" target="_blank"><i>Atrás
da porta</i></a>.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Curioso e engraçado é
o fato de Maria ser, também, compositor de frevos, ritmo
carnavalesco que passa longe de momentos tristes (os seus, nem tanto, falam de saudade). É dele a série de
frevos número <a href="http://www.youtube.com/watch?v=weY-D4YKVtA" target="_blank">1</a>,
2 e <a href="http://www.youtube.com/watch?v=xBKuDmMT7yo" target="_blank">3</a> do
Recife, que, encantadores, fazem jus a seus nomes. Vai ver ele
compunha as canções de fossa nas quartas-feiras de cinzas...</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<hr />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<span style="font-size: x-small;">
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b>*
Ningúem me ama (Antônio Maria / Fernando Lobo)</b></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Ninguém me ama, ninguém me quer</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Ninguém me chama de meu amor</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
A vida passa e eu sem ninguém</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
E quem me abraça não me quer bem</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Vim pela noite tão longa de fracasso em fracasso</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
E hoje descrente de tudo me resta o cansaço</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Cansaço da vida, cansaço de mim</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Velhice chegando e eu chegando ao fim</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
</span>
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="272" src="http://www.youtube.com/embed/UuKvIS5RlY8" width="400"></iframe>
Paulo Baphttp://www.blogger.com/profile/14112329524031247720noreply@blogger.com0