Primeiro, vamos dar vivas a um caboclo brasileiro, figura simples e bacana, que faria noventa anos daqui a algumas semanas. É Jackson do Pandeiro, coqueiro das terras paraibanas, gênio do cancioneiro brasileiro, ritmista inovador e ligeiro, que pôs pra cantar o país inteiro e eternizou uma porção de música bacana, como Sebastiana e o sambinha Chiclete com banana*, que ironiza a invasão americana em nosso terreiro.
Outro Jackson, este não do pandeiro nem brasileiro, nascido em Indiana, em terra norte-americana, sucesso aqui e no estrangeiro, deixou seus fãs em desespero, ao perder a vida tão ligeiro. Michael parecia um doidivanas, mas era figura humana, mesmo com uma ou outra atitude leviana, como o caso derradeiro do abacaxi que quis deixar pra Diana, de tomar conta de seus herdeiros.
Os dois Jackson, o segundo e o primeiro, podem agora compartilhar o tal batuque brasileiro, como decantado pelo primeiro, no tal sambinha que deu ibope, do Chuí ao Oiapoque. É o rei do coco e o rei do pop, num tiru-riru-bop-bip-bop, misturando samba com rock, Paraíba com Nova York, rala-bucho com moonwalk, cantando Ben ligeiro, no compasso do pandeiro.
Com tudo a Temer na Câmara e procurando Sarney pra se coçar no Senado, o negócio ficou complicado. Passagem aérea pra deputado e apadrinhado, excesso de empregado no Senado, tudo com cargo comissionado, bem remunerado, tratando o público como privado. O ardil é completo e a parente. É decreto discreto, descrédito consignado, ato secreto beneficiando filho e neto, namorado, cunhado, afilhado. Aparentado pra todo lado, todo o mundo quieto, com bico calado, feito menino levado quando faz algo errado.
O prejuízo é concreto, não pode ser desprezado e a gente deve ficar ligado em qualquer ato abjeto, que possa ser objeto de questionamento direto ou investigado por ser incorreto. Com ou sem foro privilegiado, se o culpado não é cassado, se Agaciel é agraciado, o país fica desmoralizado e o Senado taxado de casa dos horrores é o resultado.
O vírus H1N1, ao que parece, não é pior que o da gripe comum, cujo mal é quase nenhum e não merece a alcunha de espanhola do século XXI, já que a proporção entre quem padece e quem falece é de duzentos pra um. Mas o cidadão comum não esquece que o vírus virou pandemia pra OMS e faz prece pra que ela diminua o stress e confesse que o risco do H1N1 é nenhum, ou quase nenhum, se não o pânico cresce e o pandemônio recrudesce, enquanto a pandemia permanece.
Fernando Lugo, vulgo super-pai, entrou nos anais da sociedade do Paraguai e de lá não sai mais. Com tantos DNA’s iguais, virou pai de aluguel e convocou nos jornais: criancinhas a Lugo. Não o julgo, mas daqui a um pouco mais, todo meu Paraguai vai chamá-lo de papai, e ele, como bispo e político, vai ficar sob o jugo de episco-pais que substituem votos de castidade por votos eleitorais.
Enquanto isso, na desunião européia, dividido em suas relações exteriores, Sarkozy levou Berlusconi na Bruni e foi mandado à Merkel por um Zapatero que nunca viu mais Gordon.
* Chiclete com banana (Gordurinha)
Eu só ponho bip-bop no meu samba
Quando o Tio Sam pegar o tamborim
Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba
Quando ele aprender que o samba não é rumba
Aí eu vou misturar
Miami com Copacabana
Chiclete eu misturo com banana
E o meu samba vai ficar assim
Turiru-riru-riru bop-bip-bop-bip-bop
Quero ver a grande confusão
Turiru-riru-riru bop-bip-bop-bip-bop
É o samba-rock meu irmão
Mas em compensação
Eu quero ver um boogie-woogie
De pandeiro e violão
Eu quero ver o Tio Sam de frigideira
Numa batucada brasileira
16.7.09
3.7.09
É isso...
“Cure o mundo, faça dele um lugar melhor pra você, pra mim e pra toda a raça humana” (Michael Jackson)
É fácil externar apreço por um artista depois que ele morre. Em tais situações, é comum até o surgimento de admiradores de última hora. A relação das pessoas da minha faixa etária com Michael Jackson, porém, é antiga ou de primeira hora, algo que quem nos é contemporâneo pode entender melhor. Os pouco mais novos só acompanharam sua trajetória a partir da fase de super-mega astro pop dos anos 80. Os muito mais novos, nem isso, conheceram apenas suas excentricidades, transformações visuais e escândalos que mudaram as folhas em que costumava aparecer nos jornais, de cultura e entretenimento para páginas policiais e de fofocas.
Na década de 60, sobretudo nos Estados Unidos, os negros começaram a conquistar importantes direitos, em boa parte graças ao ativista político Marthin Luther King. Crescia, entre eles, um orgulho racial que os permitia valorizar suas características e sua cultura. Eles saíam às ruas com roupas e ornamentos típicos e exibiam toda a beleza de seus cabelos em cortes (ou falta deles) à época chamados de black power. Foi nesse cenário – ou por causa dele, ou ainda, junto com ele - que surgiu, naquele país, uma gravadora – a Motown Records -, que contratava apenas músicos negros para o seu elenco, entre eles Diana Ross, Marvin Gaye, Stevie Wonder e um grupo de cinco irmãos, que formavam o conjunto Jackson Five, do qual fazia parte Michael Jackson.
No início dos anos 70, vivia-se ainda os efeitos, embora já mais rarefeitos, da beatlemania e do movimento hippie. Eu e meus irmãos, ainda crianças e de idades próximas um do outro, éramos, como os rapazes de Liverpool, em número de quatro e usávamos seus mesmos cortes de cabelo (ou falta deles). Mas os Beatles não eram, exatamente, da nossa geração, tanto que só me dei conta da importância deles para a música mundial quando John Lennon faleceu, em 1980. Pouco antes, em 1977, tinha-se ido, também, Elvis Presley, este ainda mais distante de nós, que o conhecíamos apenas dos - à época já antigos - filmes que protagonizara, exibidos em sessões da tarde da TV.
Os jovens de Indiana, por sua vez, eram ídolos contemporâneos nossos, nós crianças, eles adolescentes. Os Jackson Five eram tão famosos que inspiraram um desenho animado na TV, em que os garotos viviam aventuras, entre um e outro número musical a que assistíamos vidrados. Não podíamos ter seus cabelos black power, mas os admirávamos, sobretudo o caçula Michael, simpático e de bela voz, que logo se destacou e passou a seguir carreira solo.
Ben (tema de filme homônimo sobre um garoto solitário que não recebe atenção dos pais e torna-se amigo de um rato a quem chamava Ben), Music and me, Happy e One day in your life foram grandes sucessos da década de 70, quando cinco dos dez discos dessa fase de sua carreira foram lançados. Em Off the wall (1979), já maior de idade, o cantor captou um pouco da onda “disco” do momento e começou a se transformar num grande astro.
Já na década de 80, Michael Jackson lançou o álbum mais vendido de todos os tempos – Thriller, de 1982. Tudo o que fez nessa década obteve êxito, como as parcerias com Paul McCartney (The girl is mine e Say, say, say) e Lionel Richie (We are the world), esta última gravada por um grupo de cantores, num projeto de autoria dos dois compositores, denominado USA for Africa, que tinha como objetivo ajudar as vítimas da fome naquele continente e chamar atenção para o problema.
Graças a sua performance nos palcos, virou febre, também, o passo batizado de moonwalk, que considero, até hoje, uma das coisas mais impressionantes feitas em termos de coreografia e dança, sobretudo por parecer desafiar as leis da física. Michael inovou, também, na linguagem dos videoclipes, transformando-os em bem produzidos filmes de micro-metragem.
Após o sucesso estrondoso de Thriller, alguns fãs de primeira hora passaram a esconder a admiração pelo cantor, que passou a ser visto por muitos como representante de uma cultura consumista que nos queria ser imposta pelos Estados Unidos, entre McDonald’s e Coca-Colas. Ao mesmo tempo, eu e meus irmãos recebíamos, em casa, influências positivas de nosso pai, que não era comedor de criancinhas (Michael também não), mas possuía idéias progressistas. Diante disso, depois que um de meus irmãos comprou esse disco, passei a ameaçá-lo com um “vou dizer a papai”, numa brincadeira em que punha como inconciliável sua admiração por um e outro.
Há dois meses, portanto antes da morte do cantor, dei-lhe a oportunidade de acertar contas com o passado ao presenteá-lo com edição comemorativa dos 25 anos de lançamento de Thriller, quando ele pôde, enfim, revelar minha chantagem e seu pecado a nosso pai, que nos “perdoou” e achou muita graça.
A figura frágil que queria ser eternamente criança se foi, antes de iniciar sua nova turnê, “This is it”. É isso. Seus traumas de infância, aliados à tentativa frustrada de ser o que se esperava dele – e por esse aspecto, todos nós matamos Michael Jackson -, levaram-no à negação ou tentativas de desconstrução da própria imagem, o que culminou com a destruição de sua própria vida. Cada um sabe de seus motivos e, como já foi dito, de perto, ninguém é normal. É a natureza humana, assim que ela nos faz.
É fácil externar apreço por um artista depois que ele morre. Em tais situações, é comum até o surgimento de admiradores de última hora. A relação das pessoas da minha faixa etária com Michael Jackson, porém, é antiga ou de primeira hora, algo que quem nos é contemporâneo pode entender melhor. Os pouco mais novos só acompanharam sua trajetória a partir da fase de super-mega astro pop dos anos 80. Os muito mais novos, nem isso, conheceram apenas suas excentricidades, transformações visuais e escândalos que mudaram as folhas em que costumava aparecer nos jornais, de cultura e entretenimento para páginas policiais e de fofocas.
Na década de 60, sobretudo nos Estados Unidos, os negros começaram a conquistar importantes direitos, em boa parte graças ao ativista político Marthin Luther King. Crescia, entre eles, um orgulho racial que os permitia valorizar suas características e sua cultura. Eles saíam às ruas com roupas e ornamentos típicos e exibiam toda a beleza de seus cabelos em cortes (ou falta deles) à época chamados de black power. Foi nesse cenário – ou por causa dele, ou ainda, junto com ele - que surgiu, naquele país, uma gravadora – a Motown Records -, que contratava apenas músicos negros para o seu elenco, entre eles Diana Ross, Marvin Gaye, Stevie Wonder e um grupo de cinco irmãos, que formavam o conjunto Jackson Five, do qual fazia parte Michael Jackson.
No início dos anos 70, vivia-se ainda os efeitos, embora já mais rarefeitos, da beatlemania e do movimento hippie. Eu e meus irmãos, ainda crianças e de idades próximas um do outro, éramos, como os rapazes de Liverpool, em número de quatro e usávamos seus mesmos cortes de cabelo (ou falta deles). Mas os Beatles não eram, exatamente, da nossa geração, tanto que só me dei conta da importância deles para a música mundial quando John Lennon faleceu, em 1980. Pouco antes, em 1977, tinha-se ido, também, Elvis Presley, este ainda mais distante de nós, que o conhecíamos apenas dos - à época já antigos - filmes que protagonizara, exibidos em sessões da tarde da TV.
Os jovens de Indiana, por sua vez, eram ídolos contemporâneos nossos, nós crianças, eles adolescentes. Os Jackson Five eram tão famosos que inspiraram um desenho animado na TV, em que os garotos viviam aventuras, entre um e outro número musical a que assistíamos vidrados. Não podíamos ter seus cabelos black power, mas os admirávamos, sobretudo o caçula Michael, simpático e de bela voz, que logo se destacou e passou a seguir carreira solo.
Ben (tema de filme homônimo sobre um garoto solitário que não recebe atenção dos pais e torna-se amigo de um rato a quem chamava Ben), Music and me, Happy e One day in your life foram grandes sucessos da década de 70, quando cinco dos dez discos dessa fase de sua carreira foram lançados. Em Off the wall (1979), já maior de idade, o cantor captou um pouco da onda “disco” do momento e começou a se transformar num grande astro.
Já na década de 80, Michael Jackson lançou o álbum mais vendido de todos os tempos – Thriller, de 1982. Tudo o que fez nessa década obteve êxito, como as parcerias com Paul McCartney (The girl is mine e Say, say, say) e Lionel Richie (We are the world), esta última gravada por um grupo de cantores, num projeto de autoria dos dois compositores, denominado USA for Africa, que tinha como objetivo ajudar as vítimas da fome naquele continente e chamar atenção para o problema.
Graças a sua performance nos palcos, virou febre, também, o passo batizado de moonwalk, que considero, até hoje, uma das coisas mais impressionantes feitas em termos de coreografia e dança, sobretudo por parecer desafiar as leis da física. Michael inovou, também, na linguagem dos videoclipes, transformando-os em bem produzidos filmes de micro-metragem.
Após o sucesso estrondoso de Thriller, alguns fãs de primeira hora passaram a esconder a admiração pelo cantor, que passou a ser visto por muitos como representante de uma cultura consumista que nos queria ser imposta pelos Estados Unidos, entre McDonald’s e Coca-Colas. Ao mesmo tempo, eu e meus irmãos recebíamos, em casa, influências positivas de nosso pai, que não era comedor de criancinhas (Michael também não), mas possuía idéias progressistas. Diante disso, depois que um de meus irmãos comprou esse disco, passei a ameaçá-lo com um “vou dizer a papai”, numa brincadeira em que punha como inconciliável sua admiração por um e outro.
Há dois meses, portanto antes da morte do cantor, dei-lhe a oportunidade de acertar contas com o passado ao presenteá-lo com edição comemorativa dos 25 anos de lançamento de Thriller, quando ele pôde, enfim, revelar minha chantagem e seu pecado a nosso pai, que nos “perdoou” e achou muita graça.
A figura frágil que queria ser eternamente criança se foi, antes de iniciar sua nova turnê, “This is it”. É isso. Seus traumas de infância, aliados à tentativa frustrada de ser o que se esperava dele – e por esse aspecto, todos nós matamos Michael Jackson -, levaram-no à negação ou tentativas de desconstrução da própria imagem, o que culminou com a destruição de sua própria vida. Cada um sabe de seus motivos e, como já foi dito, de perto, ninguém é normal. É a natureza humana, assim que ela nos faz.
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