E
foi assim que invadiram este país
Em busca de vantagem e
riqueza
A injustiça na pátria fincou raiz
Em terras
apartadas dos nativos
Saquearam, dizimaram suas tribos
E
doaram seu rincão à burguesia
Minoria que crescia e prosperava
Às custas de mão de obra escrava
Um futuro sombrio se
desenhava
Um país desumano se engendrava
Eis que a
consequência não tardava...
Quem
não deve, não teme
Diz aquele velho ditado
Porém vida
de favelado
Não tem essa fantasia
Não tem hora, nem
dia
Se deve ou se não deve
Só o preto é alvejado
O
alvo nunca é o alvo
Negro é marginalizado
Oprimido,
discriminado
Deixemos de hipocrisia
Menos favorecido,
não menos capaz
Me coloque lado a lado, não me coloque
atrás
Entre becos e vielas a cena se repetia
O
menino na porta de casa se distraía
Revista, tira em
quadrinhos, só alegria
Blitz em revista e era uma vez a
utopia
O tira se arma de ira, tira a arma e atira
Atinge o
sonho da criança que sorria
A bola perdida, a bala de gude,
agonia
E seu sonho com o sangue se esvaía
Era uma vez o
faz de conta, covardia
Esperança era a primeira que morria
E
no final, moral da história não havia
Não
nasci em berço de ouro
Pois berço não é medalha
Medalha
eu mesmo conquisto
E é com luta, dor e batalha
Não ganho
de mão beijada
Justiça que tarda e falha
Mas não sou
fogo de palha
Dou duro desde moleque
Moleque criado na
vida
Remando contra a maré
Com esperança, força e
fé
Menos favorecido, não menos capaz
Me coloque
lado a lado, não me coloque atrás
Destino traçado a
quinhentos anos
E assim chegamos onde estamos
Será que
chegamos ou só ficamos?
São outros quinhentos, convenhamos
É
pouco o quinhão que me foi dado
E o que conquisto tem
incomodado
Se não me querem na página ao lado
Viro a
página, reescrevo, desagrado
A realidade em um roteiro
adaptado
Um novo enredo, revisto, repaginado
Multiversos em
sentido refigurado
Parece e é preconceito que se renda
Só
o caro cidadão que não tem renda
Mas não é nada que me
surpreenda
Tampouco é vitimismo, compreenda
Nem caso
isolado, lamúria, lamento
Nada, estou farto desse
julgamento
Não me venha com falso argumento
Dedo em
riste, grito, vozes ao vento
Respeite nossa cor, nosso trauma
E
se me faz favor, não peça calma
a quem é julgado pela pele,
não pela alma
Menos favorecido, não menos capaz
Me
coloque lado a lado, não me coloque atrás
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