23.7.06

Coisa mais linda


O filme "Vinícius", de Miguel Faria Jr., exibido nos cinemas em 2005, está agora disponível em DVD duplo. O documentário, sobre a vida e a obra do poeta Vinícius de Moraes, tem direção musical do maestro Luiz Cláudio Ramos, o mesmo que fez os arranjos das músicas do novo CD Carioca, de Chico Buarque e sua bela trilha sonora foi lançada em CD pela gravadora Biscoito Fino.

O diretor Miguel Faria Jr. tem em seu currículo filmes premiados no exterior, como "Pecado Mortal", de 1970 e "República dos Assassinos", de 1979, além de "Para Viver um Grande Amor", de 1984, com roteiro de Chico Buarque para adaptação de uma peça teatral de Vinícius, de nome "Pobre Menina Rica". Por não ter gostado do resultado final desse trabalho (muito bom na parte musical), o diretor sentia-se, desde então, em débito com Vinícius, como afirmou em entrevista, o que o estimulou mais ainda a realizar este filme sobre o poeta.

Vinícius foi crítico de cinema, diplomata e escreveu, em 1956, a premiada e inovadora peça "Orfeu da Conceição", a qual iniciou sua parceria musical com Tom Jobim, que daria origem à Bossa Nova, juntamente com João Gilberto. A peça foi adaptada, depois, para o cinema, em duas ocasiões: no filme "Orfeu do Carnaval", de 1959, dirigido por Marcel Camus e vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes e do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e, quarenta anos depois, no filme "Orfeu", de Cacá Diegues. Mas é na poesia e na música sua maior (em todos os sentidos) contribuição, como ele mesmo confirma, em entrevista a Clarice Lispector: "Cresci ouvindo música. Depois a poesia fez o resto".

Além de mostrar essa inquestionável importância de Vinícius de Moraes na poesia e na música brasileira, o filme "Vinícius" mostra também aspectos de sua vida pessoal. Aliás, analisando-se a trajetória de sua vida exposta no filme, pode-se concluir que seu espírito jovem, sua simplicidade e o imenso valor que atribuía à amizade explicam a razão de ele ter trocado a vida de diplomata e de poeta, trabalho solitário, pela música popular, onde ele sempre trabalhou com parceiros, com quem se reunia freqüentemente em sua casa. Outras vezes, cedia suas poesias para serem musicadas por então jovens talentos, como a bela "Rosa de Hiroshima", por Gerson Conrad, integrante do grupo Secos e Molhados, e algumas poesias infantis, por Toquinho, no disco "Arca de Noé".

Como se não bastasse o próprio Vinícius, depoimentos interessantes, ora comoventes, ora bastante divertidos de parentes, especialmente suas filhas e de parceiros e amigos como Chico Buarque, Edu Lobo, Ferreira Gullar, Toquinho, Tônia Carrero e Maria Bethânia, contam detalhes curiosos e inusitados de sua vida artística e pessoal, como a origem da letra da música "Pra que chorar" (Vinicius de Moraes / Baden Powell)*, feita para um colega de quarto num hospital e interpretada no filme por Zeca Pagodinho e de seu casamento com Gesse Gessy, atriz baiana. Outros depoimentos, aprazíveis aos amantes da música, relatam as transformações que a mesma sofreu na década de 60 aqui no Brasil e a fundamental participação de Vinícius nesse processo. O filme também exibe cenas que mostram o poeta em momentos descontraídos e inebriantes (novamente em todos os sentidos) com os amigos e em apresentações em palco junto com o parceiro Toquinho, entremeadas por bonitas interpretações de suas músicas e poesias.

Por tudo isso, assiste-se ao filme rindo, emocionando-se ou apenas deleitando-se, mas com um desejo unânime de que ele não termine (ou que seja infinito enquanto dure). Não é à toa que, em várias sessões nos cinemas do Rio de Janeiro, o filme foi bastante aplaudido ao final das exibições.

O segundo DVD tem cenas inéditas de Ricardo Blat e Camila Morgado declamando poemas de Vinícius de Moraes, algo que fizeram com emoção e de forma magistral nas cenas do filme, bem como entrevistas com o diretor Miguel Faria Jr. sobre sua relação com o poeta, o processo de criação e os critérios de seleção das músicas do documentário.





* Pra Que Chorar (Baden Powell / Vinicius de Moraes)

Pra que chorar, se o sol já vai raiar
Se o dia vai amanhecer
Pra que sofrer, se a lua vai nascer
E é só o sol se pôr
Pra que chorar, se existe amor
A questão é só de dar, a questão é só de dor
Quem não chorou, quem não se lastimou
Não pode nunca mais dizer
Pra que chorar, pra que sofrer
Se há sempre um novo amor
Cada novo amanhecer

Um comentário:

Anônimo disse...

Poeta , meu poeta camarada..Paulinho, (novo), saravá.. menino!!! ! Ta arretado de bom essa materia sobre Vinicius...!Vou divulgá-la aos conhecidos e amigos!!
Bjs, Anna
PS:Sou sua leitora assídua.. não sou só eu não , visse!