Em tempos de vacas magras na seleção brasileira de futebol, lembremos do episódio ocorrido nas quartas-de-final da copa do mundo 2006, época em que as vacas começaram o regime: o momento do gol que eliminou o Brasil, na derrota para a França. Tal episódio motivou, à época, desabafo (não a música) de Roberto Carlos (não o cantor), em que ele afirmava entender a revolta das pessoas, mas que os jogadores deviam ser respeitados e dizia também: “Chega de tentar achar culpados, vamos pelo menos uma vez entender que futebol é assim, nem sempre se pode vencer”. Apenas para relembrar os fatos, na hora do gol, Roberto Carlos estava ajeitando a meia.
Em meio a tanta confusão, apesar de concordar em parte com a reação meio irada de boa parte dos torcedores e não negar que o Brasil jogou um futebol de meia-tigela nessa copa, venho, por meio deste texto, buscar um meio-termo e defender o nosso jogador de camisa meia-dúzia, que estava, realmente, meio devagar, e de tão lento, quase não passou do meio-de-campo, mas que, em outros torneios, deu aos amantes do futebol, principalmente ao povo mais sofrido, meios de levar a vida com um pouco mais de alegria e por isso não deve ter seu passado esquecido ao ir pro meio da rua.
Em nosso país, há mesmo uma certa vocação para a caprinocultura expiatória, seja no campo dos esportes (incluindo o meio-campo do futebol), da política, das artes ou em outro qualquer. Sendo ou não cabras (ou bodes) safados, os bodes expiatórios são comuns no nosso meio ambiente, aparecendo sempre que algo deu bode, muitas vezes por incentivo dos meios de comunicação, querendo embolar o meio-de-campo. O técnico zangado, anterior a Dunga, não estava de todo errado quando afirmou que os torcedores eram “caixas de ressonância” da imprensa. Quem assistiu à Rede Globo achincalhando o nosso lateral de meia-idade ou execrando e decretando o fim do francês Zidane e como isso repercutiu na opinião de meio mundo de gente sabe disso.
Temos vários exemplos de bodes expiatórios que, de todos os bodes (ou “everybode”), são os únicos penalizados. No futebol, Roberto Carlos tem, entre outras, a companhia de Toninho Cerezzo, a ovelha negra, ou o bode da vez da copa do mundo de 82 (uma copa não se perde por causa de meio minuto, uma reputação, sim). Como esse meio não é privilégio dos brasileiros, na música, Yoko Ono também possui o título, em reconhecimento a serviços prestados em favor do fim da carreira dos Beatles, do ponto de vista dos fãs, para quem, ao casar-se com John Lennon, ela, literalmente, passou a ter culpa no cartório.
Dando meia-volta e retornando ao futebol brasileiro, percebe-se que os mais jovens, por acompanharem os jogos com mais fervor, por não terem presenciado outros fracassos da nossa seleção, como em 66 e 90 - entre outras tantas conquistas e boas participações - e não conhecerem, até 2006, uma seleção brasileira que não tivesse ido a uma final de copa, foram os mais indignados e, em conseqüência, mais suscetíveis a interpretações precipitadas. Talvez, a geração no entremeio de dois títulos, que não acompanhou a copa de 70 e só viu o Brasil ser campeão em 94, já na idade adulta, mais calejada por tantos percalços futebolísticos, seja mais conformada e transigente com tais fracassos.
Depois de 1986, 1998 e 2006, francamente, o Brasil já é freguês da França. Na última encomenda desse freguês, o tal lance fortuito do gol que nos fez cantar em outra freguesia, foi a linha de impedimento da defesa brasileira que falhou (se os demais jogadores da nossa seleção tivessem arrumado a meia também, em vez de correrem em direção à bola, talvez tivesse sido melhor). Ademais, o Brasil não perdeu a copa porque Roberto Carlos arrumou a meia, o zangado Parreira é que não arrumou um meio de o Brasil ganhar a copa. E em vez de colocar outro meia em seu lugar, apenas amarrou o bode...
5 comentários:
Pizindim (menino bom, na língua natal da avó de Pixinguinha),
Seu blog é sério e, ao mesmo tempo, desopilante, que nem eu gosto: Ópio Dei, caprinocultura expiatória, Parreira amarrando o bode, everybode...
Vá em frente, com todo o seu engenho e arte.
Eita Paulinho , adorei essas meias usadas de formas tão "distintas" e ao mesmo tempo adequadas.
E sem dúvida alguma filho de peixe peixe é!E faça moer o engenho,produza arte!Vc nasceu pra isso!
E haja meia pra arrumar !Ta ótimo o texto!!Uma verdadeira aula sobre meia em bom português..!
AEGR
Vixe Maria seu Paulinho,
Mas tu é bom demais, minino, êta cabra bom, tu tá se perdendo nessa tal de DI. Continue assim.
Clai
Paulo
Reitero os 4 comentários, e concordo c/ Clai(???), vc. tá se perdendo nessa tal de DI, que eu não sei o que é!!
Postar um comentário