14.9.07
Uma vez outra vez
A canção “Outra Vez”*, vez por outra regravada no Brasil e no exterior, embora pareça retratar o fim de um relacionamento amoroso entre um casal, na verdade foi feita pela compositora Isolda, aos 20 anos, para seu irmão, o cantor e também compositor Milton Carlos, que morreu em um acidente de carro, com apenas 22 anos, em 1976. Roberto Carlos, principal intérprete da dupla, gravou a música, que se tornou um dos maiores sucessos de sua carreira, em seu LP de 1977, um de seus melhores discos.
Sobre o trágico episódio e a música, Isolda comenta, em seu site oficial: “Acho que minha vida se divide em antes e depois desse dia. Pensei em voltar a estudar, em tomar outro rumo, mas no meio dessa tempestade encontrei vários amigos que me abrigaram, emocionalmente, e mesmo sem perceber continuei fazendo sozinha, o que sempre fiz desde menina. Brincar de fazer músicas. Desse momento em diante, sem mais o meu amigo para brincar comigo. Foi assim que fiz, numa madrugada, uma música desprovida de qualquer ambição futura, uma confidência sincera: ‘Outra vez’. Gravei essa canção numa fita entre outras e entreguei para Roberto Carlos”.
Isolda e Milton Carlos começaram a carreira ainda adolescentes, participando de festivais, comuns à época, cantando como backing vocals até que, em 1970, após Milton Carlos lançar seu primeiro LP, começaram a receber pedidos de músicas de outros cantores. Em 1977, foi lançado o último trabalho do cantor e compositor, de um total de quatro. Sua habilidade (e da irmã) em compor boas músicas com tão pouca idade impressiona, assim como sua bela voz meio andrógina, conhecida pela interpretação de canções suas e de outros compositores, como “Memórias do Café Nice” (“Ai que saudade me dá...”).
O ano de 1973 foi o mais importante da carreira dos dois irmãos. Na ocasião, Roberto Carlos gravou a primeira música deles, “Amigos, amigos”, que abriu as portas para a dupla. Também nesse ano, Milton Carlos gravou “Samba Quadrado”, uma de suas canções mais conhecidas (“Eu fiz um samba quadrado pra você voltar...”). A partir daí, bateram ponto nos discos de Roberto, com “Jogo de Damas” em 1974, “Elas por elas” em 1975, “Pelo avesso” e “Um jeito estúpido de te amar” (também gravada por Maria Bethânia no disco “Pássaro da manhã”) em 1976. Com a morte do irmão, Isolda continuou a seqüência com “Outra Vez” em 1977, “Tente esquecer” em 1978 e algumas outras na década de 80.
Isolda, que sempre se ateve à carreira de compositora, só agora, aos 50 anos, lançou seu primeiro trabalho como cantora, “Tudo exatamente agora”, com músicas inéditas e, claro, “Outra Vez” como exceção. Entre as inéditas, uma parceria antiga com o irmão, “Voz Ativa” e outra homenagem a ele, “Chorando”. Lançou, também, o livro “Você também faz músicas”, com orientações sobre composição musical.
“Outra vez” tem uma visão diferente, positiva e otimista da perda que lembra “Drão”, de Gilberto Gil, feita para sua ex-esposa, Sandra, por ocasião da separação dos dois, visão essa que as torna especialmente bonitas. Enquanto esta fala de um amor que, como um grão, tem que morrer pra germinar, naquela o amor gera como fruto as lembranças e através destas permanece.
Além da versão de Roberto Carlos para a música de Isolda, merecem destaque a gravação de Maria Bethânia, em seu disco “As canções que você fez pra mim”, de 1993, apenas com canções de Roberto e Erasmo e a interpretação marcante de Simone, em seu não menos marcante disco “Pedaços”, de 1979, no qual ela gravou, também, “Sob medida” e “Pedaço de mim” (Chico Buarque), “Começar de novo” (Ivan Lins/Vítor Martins) e o hino da anistia, “Tô voltando” (Maurício Tapajós/Paulo César Pinheiro), mas isso é uma outra história, fica pra outra vez...
* Outra vez (Isolda)
Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim
Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade faz lembrar de tudo outra vez
Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez
Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes
Eu tenha vontade sem nada perder
Ah... você foi toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi o melhor dos meus planos
E o maior dos enganos que eu pude fazer
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez
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6 comentários:
Esrou fazendo um trabalho sobre Caetano Veloso, e tenho que analisar a música alegria, alegria, o contexro dela.Se vc puder me ajudar..
eita .. que essa foi longe.. legal saber a versão contextual da música.
No livro "Roberto Carlos Em Detalhes", de Paulo César De Araújo, a história contada é outra: a música teria sido composta por Isolda ao telefonar para um ex-namorado, de quem ela teve que se separar por decisão do pai...
Qual das versões é a verdadeira?
Cadê tu PAAAALO, QUE NUNCA MAIS ESCREVESTES?
Legal seu ponto de vista em relação a minha canção e vc acertou na môsca. Ela foi feita em meio a tempestade emocional em que eu estava na época da perda do meu irmão. Recebi varios emails por ocasião do livro (escrito - ou mal escrito - únicamente na intenção de ganhar dinheiro ás custas de uma celebridade)e meus amigos e eu rimos muito com a história contada por alguem que eu nunca ví antes. Obrigada por seus comentários e parabéns pelo seu site. Meu blog está também a sua disposição http://blogisolda.blogspot.com/
um beijo
Isolda
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