3.7.09

É isso...

“Cure o mundo, faça dele um lugar melhor pra você, pra mim e pra toda a raça humana” (Michael Jackson)

É fácil externar apreço por um artista depois que ele morre. Em tais situações, é comum até o surgimento de admiradores de última hora. A relação das pessoas da minha faixa etária com Michael Jackson, porém, é antiga ou de primeira hora, algo que quem nos é contemporâneo pode entender melhor. Os pouco mais novos só acompanharam sua trajetória a partir da fase de super-mega astro pop dos anos 80. Os muito mais novos, nem isso, conheceram apenas suas excentricidades, transformações visuais e escândalos que mudaram as folhas em que costumava aparecer nos jornais, de cultura e entretenimento para páginas policiais e de fofocas.

Na década de 60, sobretudo nos Estados Unidos, os negros começaram a conquistar importantes direitos, em boa parte graças ao ativista político Marthin Luther King. Crescia, entre eles, um orgulho racial que os permitia valorizar suas características e sua cultura. Eles saíam às ruas com roupas e ornamentos típicos e exibiam toda a beleza de seus cabelos em cortes (ou falta deles) à época chamados de black power. Foi nesse cenário – ou por causa dele, ou ainda, junto com ele - que surgiu, naquele país, uma gravadora – a Motown Records -, que contratava apenas músicos negros para o seu elenco, entre eles Diana Ross, Marvin Gaye, Stevie Wonder e um grupo de cinco irmãos, que formavam o conjunto Jackson Five, do qual fazia parte Michael Jackson.

No início dos anos 70, vivia-se ainda os efeitos, embora já mais rarefeitos, da beatlemania e do movimento hippie. Eu e meus irmãos, ainda crianças e de idades próximas um do outro, éramos, como os rapazes de Liverpool, em número de quatro e usávamos seus mesmos cortes de cabelo (ou falta deles). Mas os Beatles não eram, exatamente, da nossa geração, tanto que só me dei conta da importância deles para a música mundial quando John Lennon faleceu, em 1980. Pouco antes, em 1977, tinha-se ido, também, Elvis Presley, este ainda mais distante de nós, que o conhecíamos apenas dos - à época já antigos - filmes que protagonizara, exibidos em sessões da tarde da TV.

Os jovens de Indiana, por sua vez, eram ídolos contemporâneos nossos, nós crianças, eles adolescentes. Os Jackson Five eram tão famosos que inspiraram um desenho animado na TV, em que os garotos viviam aventuras, entre um e outro número musical a que assistíamos vidrados. Não podíamos ter seus cabelos black power, mas os admirávamos, sobretudo o caçula Michael, simpático e de bela voz, que logo se destacou e passou a seguir carreira solo.

Ben (tema de filme homônimo sobre um garoto solitário que não recebe atenção dos pais e torna-se amigo de um rato a quem chamava Ben), Music and me, Happy e One day in your life foram grandes sucessos da década de 70, quando cinco dos dez discos dessa fase de sua carreira foram lançados. Em Off the wall (1979), já maior de idade, o cantor captou um pouco da onda “disco” do momento e começou a se transformar num grande astro.

Já na década de 80, Michael Jackson lançou o álbum mais vendido de todos os tempos – Thriller, de 1982. Tudo o que fez nessa década obteve êxito, como as parcerias com Paul McCartney (The girl is mine e Say, say, say) e Lionel Richie (We are the world), esta última gravada por um grupo de cantores, num projeto de autoria dos dois compositores, denominado USA for Africa, que tinha como objetivo ajudar as vítimas da fome naquele continente e chamar atenção para o problema.

Graças a sua performance nos palcos, virou febre, também, o passo batizado de moonwalk, que considero, até hoje, uma das coisas mais impressionantes feitas em termos de coreografia e dança, sobretudo por parecer desafiar as leis da física. Michael inovou, também, na linguagem dos videoclipes, transformando-os em bem produzidos filmes de micro-metragem.

Após o sucesso estrondoso de Thriller, alguns fãs de primeira hora passaram a esconder a admiração pelo cantor, que passou a ser visto por muitos como representante de uma cultura consumista que nos queria ser imposta pelos Estados Unidos, entre McDonald’s e Coca-Colas. Ao mesmo tempo, eu e meus irmãos recebíamos, em casa, influências positivas de nosso pai, que não era comedor de criancinhas (Michael também não), mas possuía idéias progressistas. Diante disso, depois que um de meus irmãos comprou esse disco, passei a ameaçá-lo com um “vou dizer a papai”, numa brincadeira em que punha como inconciliável sua admiração por um e outro.

Há dois meses, portanto antes da morte do cantor, dei-lhe a oportunidade de acertar contas com o passado ao presenteá-lo com edição comemorativa dos 25 anos de lançamento de Thriller, quando ele pôde, enfim, revelar minha chantagem e seu pecado a nosso pai, que nos “perdoou” e achou muita graça.

A figura frágil que queria ser eternamente criança se foi, antes de iniciar sua nova turnê, “This is it”. É isso. Seus traumas de infância, aliados à tentativa frustrada de ser o que se esperava dele – e por esse aspecto, todos nós matamos Michael Jackson -, levaram-no à negação ou tentativas de desconstrução da própria imagem, o que culminou com a destruição de sua própria vida. Cada um sabe de seus motivos e, como já foi dito, de perto, ninguém é normal. É a natureza humana, assim que ela nos faz.


2 comentários:

Anônimo disse...

Pois é, Paulo, como sdei muito pouco sobre MJ, aproveito p/aprender um pouco com voce.
Acho que foi uma oossoa que sofreu demais, sobretudo nos ultimos anos de sua breve vida, por não se aceitar em nenhum aspecto. Mas é sem dúvida um grande artista.

Ruth disse...

Ainda estou tentando.